Solenidade de Pentecostes – Ano B – HOMILIA
Evangelho: João 20,19-23
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo
segundo João. 19
Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos
judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e
pondo-se no meio deles, disse: «A paz esteja convosco». 20 Depois destas palavras, mostrou-lhes as
mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor. 21 Novamente, Jesus disse: «A paz esteja
convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio». 22 E depois de ter dito isto, soprou sobre
eles e disse: «Recebei o Espírito Santo. 23
A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não
perdoardes, eles lhes serão retidos».
Palavra da Salvação.
Alberto Maggi
Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista
italiano
Recebemos o Espírito para sermos luz que espalha o Amor
O novo relacionamento que Jesus tinha estabelecido entre os
seres humanos e Deus, precisava de uma Nova Aliança. É por isso que
Lucas, nos Atos dos Apóstolos (2,1-13), apresenta a história de Pentecostes. Pentecostes
era o dia em que a comunidade judaica comemorava o dom da lei. Pois bem,
enquanto os judeus celebram o dom da lei, sobre a comunidade dos discípulos de
Jesus desce - cai do alto - o Espírito Santo.
Com Jesus não há mais uma lei que é externa ao homem e que deve ser
observada, mas algo que deve ser acolhido, uma força interna, que libera
energia de Amor.
Este é o dom do Espírito.
Os outros evangelistas também narram o episódio de Pentecostes, embora de formas diferentes. Por exemplo, João tem um pequeno Pentecostes, no momento da morte, quando Jesus dá o seu Espírito [João 19,30b], mas sobretudo, na passagem que agora vamos examinar, capítulo 20, versículos 19-23. Vamos lá.
Diz o Evangelista: “Ao anoitecer daquele dia...” - é o dia da Ressurreição de Jesus – “... o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam...”. Lembremos que o mandado de captura não era só para Jesus: não só Jesus era perigoso, mas perigosa era também a doutrina dele. Foi por isso que, quando Jesus esteve em frente ao sumo sacerdote, esse não pediu-lhe nada sobre ele mesmo, mas quis saber duas coisas: sobre os discípulos e sua doutrina. Portanto, por medo de encontrar o mesmo destino de Jesus, os discípulos se fecharam e trancaram as portas!
Mas, prossegue o Evangelista: “... Jesus entrou e pondo-se no meio deles...”. É importante esta informação que nos dá o Evangelista: quando Jesus Ressuscitado aparece aos seus, se põe no meio deles. Jesus não está à frente, de modo que as pessoas que estejam perto dele sejam as que lhe são mais próximas; ou no alto. Jesus se põe no meio. Isso significa que, todos os que lhe estão ao redor, possam ter a mesma relação com ele. Não há alguém mais importante, outros menos, alguns antes e outros depois.
Continuando a leitura do Evangelho temos: “...e lhes disse: ‘A paz esteja convosco’”. Essas palavras de Jesus não são um augúrio ou uma saudação. A paz é um dom de Jesus! “Paz” - nós sabemos que a palavra hebraica é “shalôm” - indica tudo o que contribui para a felicidade humana. Mas, então, Jesus mostra o motivo desse dom. O Evangelho diz: “Depois destas palavras...” - quer dizer, depois de dizer “paz” – “mostrou-lhes as mãos e o lado”. As mãos e o lado carregam as marcas da paixão. Foi o próprio Jesus que, no momento da prisão, disse: “Se vocês estão me procurando, deixem os outros irem embora” (João 18,8). Ele é o Pastor que dá a vida por suas ovelhas. E isso não é um episódio isolado, mas é sempre assim: Jesus, na comunidade, é aquele que defende sempre os seus.
Nesse momento os discípulos, que o Evangelista tinha descrito como estando com “as portas fechadas por medo dos judeus” – lembrem-se que, nesse evangelho, quando se fala de “judeus” nunca se entende o povo, e sim “as autoridades judaicas e os líderes religiosos” - passam do medo à alegria “por verem o Senhor”. O Evangelho prossegue: “Novamente, Jesus disse: ‘A paz esteja convosco’”. De novo Jesus repete esse dom da paz. O termo “paz”, nesse capítulo será repetido três vezes, mas, nesta vez, esse dom da paz é para ir e compartilhá-lo.
De fato, Jesus acrescenta: “Como o Pai me enviou...”. O Pai enviou Jesus para manifestar visivelmente seu Amor. E qual é o Amor de Deus-Pai? Um amor generoso que se coloca ao serviço dos outros: aquele serviço que foi manifestado por Jesus no episódio do lava-pés (Jo 13).
Jesus diz: “Como o Pai me enviou,
também eu vos envio”. A missão dos cristãos e a tarefa da comunidade
cristã não é ir propor, ou pior, impor doutrinas, mas realizar comunicações de
amor:
... como o Pai enviou seu Filho para mostrar o seu Amor, assim a
comunidade deve ser o testemunho visível de um amor generoso que se põe a
serviço.
Em seguida, o Evangelista observa: “E depois de ter dito isto...”. Antes, o Evangelista tinha escrito: “Depois destas palavras” - se referia ao dom da paz, justificados pelos sinais de sua paixão, agora, dizendo “depois de ter dito isto” é o segundo dom da paz. Prossegue o Evangelista: “soprou sobre eles”. Por que este verbo “soprar?” O Evangelista o toma do livro de Gênesis (2,7), no episódio da criação, quando Deus, o Criador “soprou nas narinas do primeiro homem” e fez dele um ser vivo. Jesus, ao soprar, diz: “Recebei o Espírito Santo”. Exatamente, está escrito: “Recebei Espírito Santo”, sem o artigo.
Jesus tinha falado (cf.: João 16,12-15) que ele daria o Espírito sem medida: o dom do Espírito é total - depende do quanto a pessoa pode acolher ou não - todavia, esse é o dom da plenitude, dom do Espírito, dom da força divina, que é chamado Santo, não só pela sua qualidade, mas pela sua ATIVIDADE. Quer dizer, que é capaz de separar [santo significa, justamente, “separado”] os seres humanos que o recebem da esfera do mal.
Jesus continua dizendo: “A quem
perdoardes os pecados...” - literalmente “remitir”, “apagar
os pecados”. O termo “pecado” usado pelo Evangelista não indica a
culpa da pessoa, mas, nos Evangelhos, este termo indica sempre o passado
injusto do indivíduo. “A quem apagardes os
pecados, eles lhes serão apagados; a quem não os apagardes, não serão apagados”.
O que Jesus quer nos dizer com essa expressão?
Jesus não está dando um poder para alguns, mas uma responsabilidade
para toda a comunidade cristã.
A comunidade cristã deve ser como luz que espalha ao seu redor os raios do Amor. Aqueles que vivem, ainda, no pecado e na injustiça, vendo essa luz, se sentem atraídos e todo o passado injusto deles - qualquer que seja - será completamente eliminado. Pelo contrário, aqueles que, mesmo vendo brilhar a luz, se escondem ainda mais nas trevas - Jesus tinha dito (Jo 3,20) que aquele que faz o mal odeia a luz - permanecerão sob a capa do pecado. Portanto, ...
... o que Jesus manda fazer não é um mandato para julgar as
pessoas, mas um oferecimento para cada pessoa da proposta de PLENITUDE DE VIDA.
* Transcrito e traduzido do italiano por Pe. Bartolomeo Bergese. Adaptado e editado por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.
Reflexão Pessoal
Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo
Muito se comenta, nos tempos atuais, sobre o Espírito
Santo, os seus Dons, as suas Graças e os seus Milagres. Porém, os cristãos
seguem compreendendo, muito pouco, a dimensão da vinda (“queda”) do Espírito
Santo sobre nós, humildes seres humanos. Afinal, devemos nos perguntar:
1. Que dom é esse que o
Espírito nos traz?
2. Para que serve esse ou
esses dons do Espírito?
O Evangelho de hoje, Pentecostes, ajuda-nos a entender
que o DOM DO ESPÍRITO SANTO é o AMOR! Assim como Jesus foi amado pelo
Pai e enviado por este para salvar o mundo, o mesmo ele concedeu a nós, seus
discípulos e discípulas.
O Espírito é “Santo”, exatamente, porque ele vem SEPARAR,
AFASTAR de nós aquilo que é MAL!
Isso é importantíssimo! Todo aquele ou aquela que
recebe o Espírito Santo, deixando que ele atue em seu íntimo, afasta-se
da esfera do MAL, não permite que o Mal faça a sua cabeça, oriente a sua
vida, corrompa o AMOR que deve viver, cada dia, na relação com as pessoas.
Portanto, o dom do Espírito, que nos é concedido, tem
por finalidade fazer o AMOR triunfar neste mundo. Dar força, ânimo e vigor
aos seguidores de Jesus Cristo para que consigam transformar este mundo
dominado pelo egoísmo, pela inveja, pela ganância, pela injustiça, pela
desigualdade gritante, enfim, pelo PECADO.
Na Missa, não é por acaso que, no Rito da Comunhão, no
momento da Fração do Pão, rezamos, três vezes: “Cordeiro de Deus que tirais
o pecado do mundo...”. A função do Cordeiro e de seu Espírito é,
justamente, tirar, o PECADO do mundo, ou seja, afastar a humanidade de todo o
Mal, no singular!
É preciso ficar, bem claro, o que é “o” Mal.
O “Mal” é o conjunto de forças, ideias, doutrinas, ideologias,
atitudes, procedimentos que não permitem a implantação do Reino de Deus nesta
Terra!
O Mal é tudo aquilo que vai contra: o Amor, a Justiça, a
Igualdade, a Vida plena, a Natureza, a Felicidade autêntica do ser humano.
Pergunte-se, em seu íntimo: contra qual “Mal” ou “males” eu devo combater nos tempos de hoje?
Fonte: Centro de Estudios Biblicos "G. VANNUCCI" – Homilias – Pentecostes – 31 de maio de 2020 – Editado pelo Pe. Bartolomeo Bergese, diocese de Pesqueira – PE (Brasil) – Internet: clique aqui (acesso em: 19/05/2021).
Comentários
Postar um comentário