«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Agora, é oficial

 Bolsonaro mente, segundo Pazuello

 Pedro Doria

Jornalista 

O general Eduardo Pazuello desferiu o mais grave ataque contra a democracia brasileira desde o início da CPI da Covid

EDUARDO PAZUELLO ex-Ministro da Saúde depõe na CPI da Covid

O general Eduardo Pazuello desferiu o mais grave ataque contra a democracia brasileira desde o início da CPI da Covid. Um ataque que não foi suficientemente apontado. E um ataque que tem por cúmplice involuntário o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM). Não há gente o suficiente percebendo a gravidade da naturalização da mentira que está ocorrendo nestes depoimentos e com a qual a CPI é cúmplice. Não estão percebendo que...

... é abrir mão da VERDADE no debate público que faz CORROER A DEMOCRACIA.

O primeiro a mentir foi o ex-secretário de Comunicação, Fábio Wajngarten. Afirmou que nada tinha a ver com uma campanha desferida sob seu comando contra a política de isolamento social. O relator, Renan Calheiros (PMDB-AL), quis prendê-lo em flagrante. Aziz não topou — e a decisão é dele. Aí o ex-chanceler Ernesto Araújo negou ter atacado a China. Há tuítes, artigos assinados, vídeos. Não importa. Fez na cara dura, escondeu-se atrás da máscara, e simplesmente mentiu. 

Nunca havia se mentido numa CPI de forma tão descarada, com provas do contrário a um Google de distância. E é por isto que o depoimento do ex-ministro da Saúde é muito mais grave do que o dos outros. Wajngarten e Araújo mentiram fingindo falar a verdade. Pazuello, não. Ao dizer que jamais recebeu ordens para não comprar vacinas do Instituto Butantã, foi confrontado com o vídeo em que afirmou “um manda, o outro obedece” perante justamente esta ordem. Dada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. Pazuello não titubeou. Isto “é coisa de internet” feita por “agente político”. 

Ou seja, na lógica torta do ministro, o presidente mente para seus eleitores e fãs e isso é normal. Pazuello não fingiu que a mentira era verdade. Pazuello chamou a mentira de mentira e falou que é assim que se faz política.

Talvez esta seja a impressão que os generais tenham de políticos. Que seu trabalho é mentir. Se for, estão errados. O trabalho dos políticos é trazer à mesa as diversas correntes de opinião presentes numa sociedade e negociar as diferenças. Sim, sempre houve mentiras. Mas, quando pegos em mentiras, políticos sofriam consequências. 

PAZUELLO e JAIR BOLSONARO: na época o ministro da Saúde admitiu que o Presidente dava as diretrizes para ele: "É simples, assim: um manda e outro obedece". Dia 22 de outubro de 2020, durante visita de Bolsonaro a Eduardo Pazuello no hospital

Quem estuda o assunto vem usando um termo – truth decay. Decaimento da verdade. Em química, decaimento é o processo pelo qual o núcleo instável de um elemento perde energia por radiação. Em biologia é o igualmente lento apodrecimento de um corpo pela ação de bactérias ou fungos. A palavra está em voga nas ciências humanas.

Decaimento da verdade é quando lentamente uma sociedade deixa de ligar para a verdade, para o consenso a respeito de um conjunto básico de fatos.

decaimento democrático é o que vivemos quando há decaimento da verdade. 

Jair Bolsonaro mente. É sua prática corriqueira. Seus eleitores sabem – apenas não ligam.

Para eles, é até engraçado. Mas para que a mentira se estabelecesse ao ponto de ameaçar a democracia, ela precisou antes ir lentamente se esgueirando até se legitimar. Na campanha dura, agressiva e canalha que foi a da eleição presidencial de 2014, Dilma Rousseff tirou Marina Silva do segundo turno com publicidade de TV que mentia. Agora, Ciro Gomes, candidato à presidência em 2022, contratou o marqueteiro que produziu aquilo para ajudá-lo a chegar ao Planalto. 

Políticos estão legitimando a mentira. Alguém precisa fazer algum gesto. O gesto é a prisão de quem mentir sob juramento escancaradamente dentro do Congresso Nacional. Sem um gesto grande, estamos entregues ao apodrecimento da democracia acelerado pelas redes sociais. É preciso ação.

O decaimento lento da verdade está em suas fases finais.

Fonte: O Estado de S. Paulo – link / Colunista – Sexta-feira, 21 de maio de 2021 – Pág. B12 – Internet: clique aqui (acesso em: 22/05/2021).

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