Apesar de metas da polícia, violência cresce em SP
Fabio Leite e Laura Maia de Castro
No primeiro mês de vigência do plano de bonificação para policiais com o objetivo de reduzir os principais indicadores de criminalidade em São Paulo, as metas trimestrais traçadas pelo governo ficaram longe de serem atingidas. Os números de roubo e de furto e roubo de veículos, que pela proposta deveriam parar de subir até março, cresceram em janeiro, na capital e no Estado. As mortes violentas - homicídios dolosos e latrocínios -, cuja meta é a redução de 7% no primeiro trimestre, estagnaram.
As estatísticas divulgadas nesta segunda-feira, 24, pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) mostram que só na capital os roubos tiveram alta de 41,8% em janeiro em relação ao mesmo mês de 2013: foram 13.416 casos, contra 9.463 no ano passado. No Estado, o índice cresceu 32,5%, de 20.371 casos em janeiro do ano passado para os atuais 26.987.
Embora já esteja em vigor, o plano que vai pagar até R$ 2 mil de bônus a policiais civis, militares e técnico-científicos que atingirem as metas ainda precisa ser aprovado pela Assembleia Legislativa. O projeto tramita nas comissões em regime de urgência.
O secretário Fernando Grella Vieira reconheceu a preocupação do governo com o aumento dos roubos, mas atribuiu o resultado de janeiro ao aumento das notificações por parte das vítimas. "Esse aumento dos roubos em todo o Estado precisa ser interpretado diante de um fato novo que passamos a viver desde novembro. A possibilidade do registro online de roubos. De lá para cá, esses registros feitos pela internet representam 31% do total de ocorrências."
Entretanto, o número de roubos de veículos, que tem o índice de subnotificação muito baixo, de acordo com o analista criminal e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Guaracy Minguardi, também aumentou. Na capital, a alta foi de 22,7%, chegando a 4.635 ocorrências no mês passado, ante 3.776 no mesmo período de 2013. No Estado, foram 9.221 registros, 20,8% a mais do que em janeiro do ano passado.
"O roubo de veículos é um crime em que quase não há subnotificação. Todo mundo dá queixa porque é um bem de alto valor e por causa do seguro", disse Minguardi.
Ele ressaltou que o programa de metas não traz resultados tão rápidos. "Não acho que dê para mudar de uma hora para outra. Você tem de ter as metas e os meios, que seriam uma mudança estrutural. Mas isso demora cerca de dois anos para se consolidar."
Homicídios
Depois de fechar o ano passado em queda, o número de homicídios dolosos aumentou no Estado. Foram 422 homicídios em janeiro, o que representa alta de 1,2% em relação ao mesmo mês de 2013. Para Grella, a alta de homicídios não representa uma tendência. "É um ponto fora da curva. Nós estávamos, há nove meses, com queda, então vamos aguardar agora o comportamento nos próximos meses", disse.
O número de latrocínios estagnou no Estado. Foram registrados, como em janeiro de 2013, 34 casos. Para o secretário, esse tipo de crime deve diminuir neste ano. "Na semana retrasada, tivemos a regulamentação da lei dos desmanches. Estamos convictos de que começaremos a experimentar uma redução gradual nos crimes de roubos a partir de junho (quando a lei entra em vigor)", disse.
Fonte: O Estado de S. Paulo - Metrópole - Terça-feira, 25 de fevereiro de 2014 - Pg. A12 - Internet: clique aqui.
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ANÁLISE
IDAS E VINDAS FAVORECEM ALTA
Bruno Paes Manso*
Bruno Paes Manso - cientista político |
A repetição mês a mês dos aumentos nas taxas de roubo mostra que a Secretaria da Segurança Pública (SSP) parece não encontrar a estratégia mais adequada para enfrentar a alta permanente desse tipo de crime. A explicação da SSP de que a instalação das delegacias eletrônicas diminuiu a subnotificação deste tipo de crime não cola. Tanto que o roubo de carros, crime com baixíssima subnotificação por causa das exigências das companhias de seguro, aumentou 22,7%.
A inconstância das políticas de segurança parecem ser uma das explicações. Com a mudança de secretário, tudo parece ter recomeçado do zero. A nova gestão passou a dar ênfase ao plano de metas. O combate frente à frente contra o crime organizado, com apoio da Polícia Militar, também diminuiu o ritmo. Por um lado, a medida contribuiu para baixar os casos de resistência seguida de morte e a violência policial. Por outro, as atividades criminais parecem correr ativamente sem grandes percalços.
A falta de projeto consistente e as descontinuidades, postura que promove idas e vindas no combate ao crime, acabam favorecendo as articulações criminais.
* É doutor em Ciência Política, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP e blogueiro do ESTADÃO.COM.BR.
Fonte: O Estado de S. Paulo - Metrópole - Terça-feira, 25 de fevereiro de 2014 - Pg. A12 - Internet: clique aqui.
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