«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

ECONOMIA: O QUE ESTÁ OCORRENDO?

Os emergentes vão submergir?

Ilan Goldfajn*
Ilan Goldfayn - economista-chefe do Banco Itaú Unibanco


O início de 2014 veio com um alerta que mais parece de voo: afivelem os cintos que o ano está começando. Os investidores resolveram retirar bilhões de dólares dos fundos de investimento para economias emergentes. Há vítimas entre os países. A Turquia viu sua moeda se depreciar e foi obrigada a um choque de juros para evitar o pior. A Argentina e a Venezuela sofrem da falta de dólares (e outras cositas básicas), o que sempre é o fim da linha para esses regimes voluntariosos. Até Brics como Rússia e África do Sul sofreram. O que está acontecendo? Qual é o fundamento para essa aversão a emergentes? Será que ela vai atingir todos os países em desenvolvimento? Como o Brasil pode defender-se neste momento?
Certamente, há uma reação negativa às economias emergentes no momento atual. Os recursos saem dos emergentes e vão buscar refúgio nas economias avançadas. Houve saques de pelo menos US$ 13 bilhões dos fundos de investimentos para emergentes neste ano, US$ 8 bilhões só na semana passada. Nos fundos de investimento para a América Latina, foram dois saques de mais de US$ 3 bilhões. A semana passada só não foi pior diante dos fluxos que ocorreram quando o ex-presidente do Federal Reserve Ben Bernanke anunciou que começaria a normalizar a política monetária nos EUA (tapering) no fim de maio do ano passado.
Com a saída de capitais as moedas perderam valor, e o dólar ganhou. Neste início de ano a Turquia viu sua moeda se depreciar em mais de 5% (apesar da subida de juros em 4,25 pontos porcentuais de uma vez). O florim húngaro depreciou-se 6,5%. Na América Latina, os pesos colombiano e chileno perderam, respectivamente, mais que 4% e 5%, o que é muito para um mês. Sem mencionar o peso argentino, que despencou 18% neste mês, em típica crise cambial.
Os Brics, antes as locomotivas do mundo e agora vistos como em "crise de meia-idade" (título da sessão a que assisti com ministros da Fazenda no Fórum Econômico em Davos), não foram poupados: o rublo perdeu 6,5% e o rand sul-africano, quase 6%. O real até que foi poupado neste ano, depreciando-se "apenas" 1,7%, uma vez que sofreu consideravelmente em 2013. O que está havendo no mundo?
Há um retorno dos investidores para as economias avançadas. Desde a crise financeira em 2008 as economias emergentes tornaram-se o principal motor da economia global, descolando-se das desenvolvidas. Aparentemente, no entanto, os papéis estão prestes a se inverter, com a recuperação dos países do G7 - especialmente os EUA - e a desaceleração das principais economias emergentes. Brasil, China e Índia, por exemplo, recuaram de 3,7%, 9,6% e 7,3% na média do crescimento entre 2008 e 2011 para algo em torno de 2,2%, 7,7% e 3,8% em 2013, respectivamente.
O que era visto como uma sólida tendência de longo prazo - o crescimento mundial impulsionado pelo dinamismo dos emergentes - se dissipou na cabeça dos investidores que questionam seu futuro. Parece que o estopim para a piora na semana passada foi o número fraco de atividade na China e a crise localizada nesse mercado financeiro informal.
Muitos se perguntam se mudou tudo: e, agora, os emergentes vão submergir e os avançados emergir?
Acredito que não. Nas últimas décadas, economias avançadas e emergentes alternaram performances positivas e negativas. Em certos momentos cresceram de forma alinhada, em outros se descolaram completamente. Hoje em dia há sinais mais animadores entre os avançados, principalmente nos EUA, que devem voltar a crescer 3% neste ano. Mas uma questão-chave é saber se a recuperação dessas nações, ainda responsáveis por mais da metade da demanda global, pode reacender o fôlego das economias do mundo emergente.
No passado recente, a "maré" global foi determinante. Nos tempos favoráveis da primeira década do século bastava não errar muito para crescer razoavelmente. Algumas economias aproveitaram mais que outras, mas todas tiveram desempenhos favoráveis. Já a crise em 2009 derrubou todas, independentemente da qualidade de seus fundamentos.
Desta vez a maré deve subir apenas moderadamente e levantar alguns barcos emergentes, mas não todos: é provável que os efeitos da recuperação dos avançados sobre os emergentes sejam mistos, determinados pelos fundamentos de cada país.
A preocupação é que se repita o ocorrido na década passada, quando os juros nos EUA passaram a subir a partir de 2004, após um período prolongado de baixa. O movimento provocou turbulência nos mercados que, se reeditado no atual ambiente, poderia contrabalançar o impulso positivo que a retomada do mundo avançado teoricamente deveria causar.
Com a esperada normalização da política monetária e a consequente redução da liquidez global, dois fatores serão chave para a diferenciação entre emergentes: a dependência de poupança externa e o bom uso dos fluxos de capital.
O grande desafio para o Brasil é buscar um bom desempenho num ambiente de crescimento moderado dos países desenvolvidos e performance heterogênea entre os emergentes. No caso do Brasil, ajustes macroeconômicos são necessários, particularmente do lado fiscal. A dívida externa relativamente baixa e o tamanho do mercado interno são aspectos positivos do País. Acordos de livre-comércio seriam muito bem-vindos.
A escolha e a qualidade da política econômica serão decisivas para o desempenho dos países emergentes no médio prazo. O Brasil ainda tem em mãos instrumentos para corrigir e recalibrar a sua estratégia econômica, com custos políticos relativamente administráveis. As escolhas de política econômica a serem feitas nos próximos anos provavelmente definirão o desempenho do País até pelo menos o fim da atual década.
* Ilan Goldfajn é economista-chefe e sócio do Itaú Unibanco.

Fonte: O Estado de S. Paulo - Espaço aberto - Terça-feira, 4 de fevereiro de 2014 - Pg. A2 - Internet: clique aqui.
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Na Bolsa, um mau prenúncio

Editorial
O mau começo de ano na Bolsa de Valores, com um tombo de 7,51% em janeiro, pode ter sido prenúncio de mais dificuldades na economia brasileira, provocadas em parte por eventos externos, mas produzidas principalmente pelo acúmulo de erros da política econômica. Em seu quarto ano de governo a presidente Dilma Rousseff colherá o resultado de equívocos plantados nos três anos anteriores e também no mandato de seu antecessor, como os custos financeiros, administrativos e políticos de uma caríssima Copa do Mundo, inoportuna, mal planejada e mal preparada. O pior desempenho da Bovespa desde 1995, quando o índice caiu 10,77%, é um bom marco inicial de um roteiro com muitos obstáculos e armadilhas.
Os principais problemas externos foram previstos com folga suficiente para um governo sensato se prevenir. A redução gradual dos estímulos monetários americanos foi anunciada no primeiro semestre do ano passado. As tensões nos mercados surgiram logo em seguida, mas o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, só começou a executar o programa no mês passado.
A acomodação da economia chinesa começou há mais de um ano. O crescimento deve ainda manter-se em torno de 7,5%, um resultado notável, mas a desaceleração tende a afetar os mercados de commodities e os países mais dependentes de exportações de produtos básicos para a China. É esse, obviamente, o caso do Brasil. Além do mais, há uma ampla perspectiva de desempenho mais fraco dos emergentes.
A combinação de todos esses fatores já interfere na movimentação internacional de capitais. Na última semana de janeiro US$ 6,3 bilhões foram retirados de carteiras de renda variável de países emergentes, segundo relatório do banco Morgan Stanley. Considerados os valores absolutos, a quarta maior perda, US$ 610 milhões, foi a das carteiras de ações brasileiras. Os três maiores perdedores, por esse critério, foram a Coreia, a China e a Rússia. Em termos proporcionais, isto é, em relação ao volume investido, os mais atingidos foram o México, o Chile e a Indonésia.
Na corrida inicial, os fundamentos econômicos e a confiabilidade de cada país podem fazer pouca diferença. Não tem sentido, nesse caso, falar de justiça ou injustiça. O mais importante para o aplicador, no momento de susto, é sacar o dinheiro e transferi-lo para aplicações consideradas mais seguras. São principalmente ativos em dólares. Mas os países mais preparados para absorver choques tendem a se destacar, depois dos primeiros impactos, e a levar vantagem na disputa pelos capitais.
O Brasil, neste momento, está em desvantagem pelos dois critérios, o preparo para choques e a credibilidade necessária para o retorno ao mercado. Permanece o risco de rebaixamento de sua nota por agências de avaliação de crédito.
Consultores e especialistas do setor financeiro em geral conhecem os fundamentos econômicos do Brasil. Sabem o suficiente para distinguir a situação brasileira da desastrosa posição de países como a Argentina e a Venezuela, mas em outras comparações a imagem do Brasil é bem menos atraente.
A resistência brasileira a choques externos depende exclusivamente do volume de reservas, US$ 375,76 bilhões em 30 de janeiro. A acumulação de moeda forte foi um dos principais e raros acertos dos últimos anos. Os demais indicadores denunciam vulnerabilidades.
O resultado fiscal do ano passado, o superávit primário de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB), o menor em 11 anos, só foi alcançado com receitas extraordinárias. A inflação continua bem acima da meta de 4,5%. O clássico ajuste por meio da desvalorização cambial envolverá, portanto, riscos consideráveis em relação ao nível geral de preços. A produção manufatureira pouco avançou no ano passado e a indústria continua despreparada para a competição internacional. O comércio exterior será novamente uma das áreas mais vulneráveis. Se tiver algum realismo, a presidente Dilma Rousseff tentará criar no mercado alguma expectativa de mudança. Se falhar, o mau desempenho da bolsa será a consequência menos grave.
Fonte: O Estado de S. Paulo - Notas & Informações - Terça-feira, 4 de fevereiro de 2014 - Pg. A3 - Internet: clique aqui.

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