Não ria! A coisa pode ficar séria!
Escalada
autoritária dos Bolsonaro é blefe,
mas
pode sair de controle
Igor Gielow
Família presidencial quer mascarar
investigações,
mas também faz teste de estresse
Uma resposta cômica, do chargista Benett, ao vídeo postado por Jair Bolsonaro em rede social, fazendo-se passar por um leão perseguido por hienas que queriam devorá-lo |
O mais
recente volume puxado da prateleira de provocações institucionais por um
membro da família Bolsonaro está na praça: a sugestão feita pelo deputado
federal Eduardo (PSL-SP) de reeditar o Ato Institucional número 5 caso a
esquerda promova protestos radicais.
«O Ato
Institucional nº 5, decreto editado em 13 de dezembro de 1968, no governo
do marechal Costa da Silva, marcou o período mais duro da ditadura militar no
Brasil (1964-1985). O AI-5 deixou um saldo de cassações, direitos políticos
suspensos, demissões e aposentadorias forçadas. O decreto concedeu ao
presidente poderes quase ilimitados, como fechar o Congresso Nacional e demais
casas legislativas por tempo indeterminado e cassar mandatos. Considerado o
mais radical decreto do regime militar, também abriu caminho para o
recrudescimento da repressão, com militantes da esquerda armada mortos e
desaparecidos» (Fonte: UOL).
Inicialmente,
seria preciso apontar onde estão tais manifestações. Um fenômeno notável
que acompanhou a debacle do PT no poder federal foi a substituição de forças
esquerdistas por movimentos à direita como dínamos principais de protestos de
rua no país. Dilma Rousseff caiu, também, por isso.
Delírios
e pretextos
Desde o
começo dos protestos contra o governo de centro-direita de Sebastián Piñera no
Chile, Eduardo, seu irmão Carlos e outros expoentes do bolsonarismo de grande
valentia na frente de teclados vêm apontando uma suposta trama continental
esquerdista que logo chegaria ao Brasil.
Entraram na
conta da suposta conspiração balbúrdia nas ruas do Equador e até o petróleo que
emporcalha a costa nordestina. Ato contínuo, o pai da turma, Jair Bolsonaro,
corroborou as hipóteses de forma genérica e invocou a possibilidade de chamar
as Forças Armadas por meio do artigo 142 da Constituição.
Generais se
entreolharam calados, dado que temem ser usados como bucha de canhão de uma
luta quixotesca — muitos devem se perguntar se estavam certos no seu
entusiasmo com o governo do capitão reformado. Na cúpula da ativa, é
minoritário o apoio ao chamado olavismo.
Na terça
(29 de outubro), Eduardo insinuou que poderia haver uma solução repressiva
por aqui se o Chile contaminasse as ruas brasileiras. Hoje, deu nome aos
bois.
Sensacional ! ! ! |
O
autoritarismo está no DNA do bolsonarismo
Há algumas
variáveis a considerar. Primeiro, de DNA. O bolsonarismo dito raiz,
personificado pelos filhos do presidente, pelo chanceler Ernesto Araújo, pelo
ministro Abraham Weintraub, pelo assessor palaciano Filipe Martins e outros
seguidores do escritor Olavo de Carvalho, sempre pregou uma delirante
solução de força para os problemas do país.
Em 22 de
março, o antes obscuro Martins escreveu sem o recato que se supõe de um
funcionário do Planalto que o povo deveria mostrar aos políticos e ao
Judiciário “quem manda no país”. É recorrente, entre os aderentes da seita olavista, a ideia de que são capazes de
mobilizar a nação em torno do dito “mito”.
Pinçar
declarações flagrantemente antidemocráticas do presidente é um esporte sem
emoções, de tão facilmente jogado. Assim como a dos filhos, o loquaz Carlos à
frente.
Assim, é
bem provável que Eduardo, o mesmo que havia sugerido o fechamento do
Supremo Tribunal Federal com mínimo aparato militar, acredite mesmo que uma
AI-5 seria necessário. O fato de não haver nenhum distúrbio nas ruas
brasileiras hoje é um mero detalhe de realidade.
Obviamente,
não se trata de tratar a esquerda como um cordeiro inocente. É também do DNA
daquele campo a radicalização. Mas a violência associada a manifestações do
passado recente, e junho de 2013 é a régua, têm menos a ver com o PT e mais com
a degeneração promovida por black blocs e afins — apoiados,
ideologicamente, por franjas da esquerda urbana.
EDUARDO BOLSONARO Já que gosta tanto dos Estados Unidos e "baba" pelo presidente norte-americano Donald Trump, poderia mudar-se para lá, não é mesmo?! |
Cortina
de fumaça para disfarçar o que interessa
Outro ponto
central é a considerar é o contexto. Toda essa agitação bolsonarista
acompanha o adensamento das notícias negativas que vêm das investigações sobre
o passado do clã no Rio de Janeiro. Os recados de Fabrício Queiroz a Flávio
Bolsonaro, novas apurações acerca de Carlos, o atabalhoado e mal-explicado
episódio da citação falsa ao presidente no caso Marielle Franco.
É um
padrão. Sempre que a família está sob pressão, surgem essas hipérboles por
parte do entorno presidencial — quando não do próprio mandatário máximo.
É uma tática retirada do livro Donald Trump de tergiversação política via
Twitter, e tem funcionado a contento ao ser macaqueado cá nos trópicos. Quando
fica feio demais, pede-se desculpas e bola para frente. [Mas não há o mínimo pudor e arrependimento das besteiras
ditas!]
É uma
versão 4.0, ou algo assim, dos velhos tomos conspiratórios forjados para
justificar repressões no passado. Estão aí para contar história os “Protocolos
dos Sábios do Sião”, peça antissemita do Império Russo que teve utilidade
estendida até o nazismo dos anos 1930 ao inventar uma trama judaica para
dominar o mundo, e o brasileiríssimo Plano Cohen, falsificação
integralista sobre um golpe comunista que ajudou Getúlio Vargas a virar ditador
em 1937.
O problema
é que, de factoide em factoide, os limites podem chegar a pontos de ruptura. Uma
provocação aceita aqui, um erro de cálculo ali, e algo sério pode acontecer
— esse é o risco da escalada autoritária do clã Bolsonaro. O teste de fogo
será a eventual libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como até
os mármores do Supremo sabem.
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