30° Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia
Evangelho: Lucas 18,9-14
Naquele tempo:
9 Jesus
contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e
desprezavam os outros:
10 «Dois
homens subiram ao Templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de
impostos.
11 O
fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: “Ó Deus, eu te agradeço porque não
sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este
cobrador de impostos.
12 Eu
jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda”.
13 O
cobrador de impostos, porém, ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os
olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: “Meu Deus, tem piedade de mim
que sou pecador!”
14 Eu
vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se
eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado.»
José María Castillo
Teólogo
católico espanhol
É preciso matar o fariseu que há em nós
O modelo de
pessoa que representa o fariseu, segue existindo agora, como existia no tempo
de Jesus. Mais ainda, em um certo sentido muito verdadeiro, todos trazemos
incorporado em nossa intimidade um bom fariseu. Um fariseu que teríamos de matá-lo!
Porém, seguramente, uma das coisas mais difíceis que há na vida é «matar o
fariseu» que cada um leva em si mesmo e consigo mesmo.
Dito isso,
esta parábola – antes de tudo – deixa claro os critérios e a forma de pensar
daqueles que veem a si mesmos como os «justos», os que pensam que são «como se
deve ser». Trata-se de uma mentalidade que, inconscientemente, se reproduz
entre as pessoas religiosas, bem mais do que imaginam aqueles que frequentam os
ambientes eclesiásticos. É a consciência, que têm de si mesmos, quem se vê «como
se deve ser». E também os que pensam que estão «onde melhor se pode estar».
O que
este evangelho ensina é que, quando um se enxerga a si mesmo, e pensa de si
mesmo, que está «onde tem de estar», e que é «como se deve ser», esse é um
fariseu. Quer dizer,
é um indivíduo que, desde o momento em que tem de si mesmo a consciência que
tem, inevitavelmente (e seguramente sem dar-se conta do que lhe acontece), leva
em seu espírito duas convicções que lhe acompanham e lhe acompanharão
sempre, a não ser que caia do cavalo!
Estas duas
convicções são:
1ª) Sente-se seguro de si mesmo,
pisa forte na vida e, certamente, vai com a cabeça erguida e, inclusive, pode
olhar de cima para baixo as pessoas.
2ª) Por isso mesmo e necessariamente, sente-se
superior aos outros. Como seja, no que seja, sente-se superior aos demais,
ao menos em relação à maioria das pessoas ou em algum aspecto da vida. Daí que menospreza
ou, inclusive, deprecia aos outros ou, talvez, a muitos.
Pois bem, Jesus
censura de forma implacável esta postura, isto é, esta forma de viver e de
pensar. Por várias razões:
1ª) porque uma pessoa assim é uma pessoa
centrada em si mesma.
2ª) Porque uma pessoa assim é uma pessoa
que não vê nela nada mais que «maravilhas», já que, no fundo, o que pensa é
que, como ela, não há ninguém no mundo.
3ª) Porque uma pessoa assim é uma pessoa
que pensa que os demais são ladrões, injustos, adúlteros, ou seja, trata-se
de uma «mente suja», que sempre enxerga falhas, lacunas, defeitos, contradições
em todos os que não somo como ela ou pensam como ela.
4ª) Em consequência, é um indivíduo
que vê a grande maioria das pessoas como desprezíveis.
5ª) Tudo isso é algo que Deus rejeita
tanto que, por mais que o indivíduo se sinta feliz na vida, na realidade, é
um «desgraçado», um ser ao qual Deus rejeita.
6ª) Pelo contrário, o Pai aceita,
acolhe e abraça a todo aquele que se vê a si mesmo como um ser tão desprezível,
que não se atreve a levantar os olhos do solo.
Deus
prefere este último tipo de pessoa. Não porque seja um santo, mas porque se vê como o último
deste mundo. Simplesmente, enxerga sua própria «humanidade». E aquele
que se vê assim, é o que tem seu «ego» controlado e onde deve estar. Por
isso, é tão difícil matar o fariseu que cada um levamos dentro.
Traduzido do espanhol por Pe. Telmo José Amaral de
Figueiredo.
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