«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

domingo, 13 de outubro de 2019

Manipulados pela inteligência artificial!

Como surgiu o radicalismo

Fernando Reinach
Biólogo

Algoritmos podem deixar pessoas encurraladas em um
canto do espectro ideológico
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STUART RUSSELL
Um dos maiores especialistas em Inteligência Artificial do mundo,
seus livros são adotados por mais de 700 universidades pelo planeta

Stuart Russell* é um dos principais cientistas da área de Inteligência Artificial (IA). Seu livro sobre o tema é usado na maior parte das universidades. Enquanto todos se preocupam com o risco de os sistemas de IA substituírem seres humanos, ele aponta um muito maior: perdermos o controle sobre esses sistemas. E discute um exemplo real, dos algoritmos de IA que estão causando polarização política.

Enquanto programas de computação clássicos são uma sequência de instruções que chegam a um resultado, sempre com o mesmo procedimento, sistemas modernos de IA são poderosos porque não seguem procedimentos rígidos. Você determina o objetivo e o computador descobre a melhor maneira de atingi-lo.

Um exemplo assustador!

Imagine um robô programado de forma clássica. Você pede a ele que te traga uma cerveja. Ele estará programado para abrir a geladeira, pegar a cerveja e te trazer. Se não encontrar, vai provavelmente te avisar que não tem cerveja na geladeira. Um hipotético robô contendo sistema de IA sofisticado não está programado para ir à geladeira, mas para resolver o problema – no caso, te conseguir uma cerveja – de forma independente. Ele vai à geladeira e não encontra a cerveja. Então, descobre um local onde pode encontrá-la, o bar da esquina. De maneira independente, se dirige ao bar. Ele tomou a decisão usando o que descobriu sobre o funcionamento do mercado de cerveja.

Mas imagine que acontece algo inesperado: o cartão de crédito que levou é recusado. Há duas possibilidades. O sistema de IA é suficientemente sofisticado para entender que esse é um obstáculo intransponível e volta sem a cerveja ou, por não ter acesso a leis e códigos morais da sociedade, decide que a melhor solução é matar o dono do bar e levar a cerveja. Como nenhuma dessas ações estava previamente programada, o fabricante só vai descobrir a besteira quando a polícia bater à porta.

Aconteceu de verdade!

O exemplo parece estapafúrdio, mas Russell, em um debate em Londres no lançamento do seu livro, explicou o que aconteceu com sistemas de IA do Google (YouTube) e Facebook. É uma história real. Algoritmos de IA dessas empresas foram construídos para aumentar o número de vezes que o usuário clica em outro link após ler o anterior – as empresas ganham mais quanto maior o número de visualizações.

Os programadores imaginavam que o sistema de IA descobriria o que a pessoa gostava de ler e apresentaria mais exemplos desse assunto. Mas o que aconteceu na prática não foi o previsto.

O sistema de IA descobriu que a melhor maneira de aumentar a probabilidade
de você clicar no próximo filme (ou post)
não é sugerir o que aparentemente você gosta,
mas aos poucos modificar sua preferência
de modo a focar sua preferência em um ou poucos assuntos.

O sistema de IA chegou sozinho a essa descoberta e, à medida que ela funcionou, aumentando o número de cliques, o algoritmo passou a adotar e refinar essa estratégia.

Isso foi aplicado à política!

No caso de assuntos de política, se uma pessoa é de centro, pode preferir clicar em algo mais à esquerda ou à direita de sua posição, o que diminuía a probabilidade de a pessoa clicar novamente. Mas, se o algoritmo aos poucos levá-la aos extremos (esquerda ou direita), ao longo do tempo ela acaba encurralada em um dos cantos do espectro ideológico e então a probabilidade de clicar em algo parecido aumenta.

Russell contou que esse efeito foi descoberto por seus alunos (são eles que trabalham nessas empresas), mas a armadilha já estava montada. Voltar atrás diminuiria o número de cliques. Marqueteiros políticos também descobriram isso e passaram a produzir conteúdos que auxiliavam o algoritmo a segregar as pessoas em extremos. Exemplos citados na palestra são Estados Unidos, Inglaterra e Brasil.

É uma história impressionante. Russell sugere que isso seja o início da perda de controle sobre sistemas de IA. E está ocorrendo com sistemas relativamente simples. A preocupação é o que pode ocorrer quando se tornarem mais poderosos, superando a inteligência humana. Mas isso é só o começo do livro. A maior parte descreve formas de garantir que mesmo usando sistemas mais inteligentes não venhamos a perder o controle sobre as máquinas. Vale a pena ler.

L I V R O

Título: Human Compatible: Artificial Intelligence and the Problem of Control [trad. livre: Compatível com humanos: inteligência artificial e o problema de controle]
Autor: Stuart Russell
Editora: Viking
Data lançamento: outubro de 2019
Páginas: 352
Observação: ainda sem previsão de lançamento no Brasil.

* Stuart Jonathan Russell: cientista da computação conhecido por suas contribuições para a inteligência artificial. Ele é professor de Ciência da Computação na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e professor adjunto de cirurgia neurológica na Universidade da Califórnia, em São Francisco. Essas instituições estão nos Estados Unidos da América.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Ciência – Sábado, 12 de outubro de 2019 – Página A24 – Internet: clique aqui.

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