29° Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia

Evangelho: Lucas 18,1-8

Naquele tempo:
1 Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre,
e nunca desistir, dizendo:
2 «Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus, e não respeitava homem algum.
3 Na mesma cidade havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, pedindo: “Faze-me justiça contra o meu adversário!”
4 Durante muito tempo, o juiz se recusou. Por fim, ele pensou: “Eu não temo a Deus, e não respeito homem algum. 5 Mas esta viúva já me está aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha a agredir-me!”»
6 E o Senhor acrescentou: «Escutai o que diz este juiz injusto.
7 E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar?
8 Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa. Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?»

José María Castillo
Teólogo católico espanhol

A incrível força da oração de súplica

Para entender esta parábola, o que interessa é ter presente que o que se relata não pertence ao mundo do direito, mas ao da moral: a consciência e a ética profissionais do juiz estão ao nível zero. O juiz, de fato, não teme a Deus, nem respeita ninguém. Eis aqui o ponto de partida para compreender a força que tem a oração de petição (= pedido), quando é insistente e não cede ao cansaço nem se rende à exaustão.

Por isso, Jesus nos propõe um caso, no qual as circunstâncias são, pouco menos, que desesperadoras. Trata-se de um juiz que não lhe importa a lei, não lhe importa Deus e não lhe importa aquilo que se diga ou se pense dele. É um caso extremo de sem vergonha judicial. E, diante de semelhante desavergonhado representante da justiça, uma viúva que solicita uma coisa justa.

Porém, não nos esqueçamos que uma viúva era o modelo da pessoa desvalida e sem capacidade de influência social e, menos ainda, jurídica. Ademais, a situação se agrava se levamos em conta que, em Israel, a única lei que existia era a «lei religiosa». E que os juízes eram os competentes nesse tipo de lei, os sacerdotes ou os letrados.

Pois bem, estando assim as coisas, a parábola leva a situação até tal extremo de extravagância narrativa, que esse juiz tão desonesto fica com medo da viúva. Ele teme que ela possa, até mesmo, dar-lhe na cara. Sem dúvida, com este detalhe tão surpreendente, a parábola pretende realçar que a força da oração de súplica supera todo o imaginável. E, efetivamente, a petição da viúva termina sendo ouvida.

A força desta história extravagante está em que Jesus não compara Deus a um juiz «bom», mas a um juiz tão «mau» e tão «desonesto», que torna-se difícil imaginar algo pior. Pois, se até o mais desonesto não resiste à súplica insistente, quanto mais o Deus que, por definição, é amor e bondade? Isso suposto, seguramente o ensinamento mais forte desta parábola consiste em colocarmos o problema de nossa confiança em Deus.

Confiamos, realmente, nele? Onde mais e melhor se observa esta fé é nas situações mais desesperadoras que nos apresenta a vida, quando não vemos solução e, no entanto, seguimos firmes nessa fé.

Traduzido do espanhol por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: CASTILLO, José María. La religión de Jesús: comentario al Evangelio diario – Ciclo C. Bilbao: Desclée De Brouwer, 2018, páginas 390-391.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A necessidade de dessacerdotalizar a Igreja Católica

Vocações na Igreja hoje

Eleva-se uma voz profética