16º Domingo do Tempo Comum – Ano B – HOMILIA
Evangelho: Marcos 6,30-34
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos. Naquele tempo: 30 Os apóstolos reuniram-se com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado. 31 Ele lhes disse: «Vinde sozinhos para um lugar deserto, e descansai um pouco». Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo que não tinham tempo nem para comer. 32 Então foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e afastado. 33 Muitos os viram partir e reconheceram que eram eles. Saindo de todas as cidades, correram a pé, e chegaram lá antes deles. 34 Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas.
Palavra da Salvação.
Alberto
Maggi*
Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano
Só Jesus é o pastor do povo!
No capítulo 6 do Evangelho de Marcos no versículo 30, aparece pela única vez no evangelho, o termo «apóstolos». «Apóstolos» que não indica uma função, mas um OFÍCIO, Jesus no versículo 7 os havia enviado. O verbo enviar na língua grega é apostello (forma fonética), daí o termo apóstolo.
Então, o evangelista diz: «Os apóstolos reuniram-se». Aqui, também é importante ver a escolha do verbo usado pelo evangelista. Para «reunir» ele usa o verbo grego synago (forma fonética) do qual origina-se o termo evidente sinagoga. Com isso, deixa claro que o anúncio desses apóstolos não corresponde ao de Jesus, mas ainda está condicionado pelo ensino da sinagoga, ou seja, um ensinamento religioso, nacionalista.
Em seguida o evangelista diz: «Os
apóstolos reuniram-se com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado»;
mas Jesus não os autorizou a ensinar. No Evangelho de Marcos
distingue-se muito claramente entre duas atividades e dois verbos:
a) o verbo «ensinar» que
significa anunciar o reino a partir de categorias do Antigo Testamento,
este é exclusivo de Jesus quando fala para os judeus,
quando fala às multidões mescladas, ele não usa esse verbo;
b) enquanto para os discípulos o evangelista havia dito «Ele constituiu Doze para estarem com ele e para enviá-los a pregar» [Mc 3,14]. O verbo «pregar» significa anunciar o reino sem necessariamente o fazer em base às categorias do Antigo Testamento.
Bem, aqui os Doze ensinaram, mas Jesus não os autorizou e de fato a reação de Jesus é negativa: «Ele lhes disse: “Vinde vós à parte em um lugar deserto”». É a segunda vez que esta frase técnica aparece no Evangelho de Marcos, esta chave de leitura «à parte» que sempre se dirige aos discípulos e é sempre negativa, indica mal-entendidos. Portanto, há um desentendimento entre Jesus e seu grupo: «... e descansai um pouco».
Jesus vê que esses discípulos estão tomados pelo entusiasmo e os convida a se acalmarem, por quê? «Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo que não tinham tempo nem para comer.» Ao fracasso de Jesus na sinagoga de Nazaré, que foi um fiasco total, o evangelista contrasta com o sucesso da pregação dos apóstolos, fica evidente que a pregação dos apóstolos não é a mesma de Jesus. Prossegue o Evangelho: «Então foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto»; e o evangelista destaca novamente «à parte», mas o entusiasmo é grande: «Muitos os viram partir e reconheceram que eram eles. Saindo de todas as cidades». Cidade significa lugar onde há sinagoga, por isso é fruto do ensino da sinagoga, «correram a pé, e chegaram lá antes deles».
«Ao desembarcar», estranhamente
só Jesus sai. Jesus se separa dos discípulos,...
... eles ainda não podem entrar em contato com as pessoas porque estão
animados por seus desejos de sucesso religioso, nacionalistas e com
uma figura de messias que não corresponde a Jesus.
Portanto, somente Jesus desce do barco: «viu uma numerosa multidão e teve compaixão». Compaixão é uma atitude divina com a qual a vida é comunicada a quem não tem vida, «deles porque», e aqui está uma citação do livro de Números, quando Moisés havia pedido ao Senhor que colocasse líderes para o povo a fim que o povo não fosse como ovelhas que não têm pastor [cf. Nm 27,15-17], as ovelhas que não têm pastor se dispersam. Portanto, é uma lamentação de Jesus que relembra a advertência que já está presente no profeta Jeremias: «Ai dos pastores que fazem perecer e espalhar o rebanho do meu pasto» [23,1]. Ou ainda Ezequiel: «Por causa do pastor elas se dispersaram e são presas de todos os animais selvagens e estão espalhadas» [34,5].
Então Jesus tem compaixão por essas pessoas, por quê? «Eram como ovelhas sem pastor.» Na verdade, pastores
as pessoas têm, inclusive muitos, só que eles pensam em si próprios, não
pensam no interesse do povo. «Começou, pois, a
ensinar-lhes muitas coisas.» Portanto, Jesus assume o papel de
pastor, mas não com doutrinas para dominar as pessoas, mas, como segue a
narrativa do Evangelho, dando o pão [Mc 6,35-44].
O ensinamento de Jesus é ALIMENTO que COMUNICA VIDA, que restaura e
enriquece a vida.
* Traduzido do italiano e editado por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.
Reflexão Pessoal
Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo
O sucesso aparente! O entusiasmo enganoso e vazio!
Esses poderiam ser, muito bem, os títulos da passagem do Santo Evangelho deste domingo. Por isso, Jesus não se deixa contagiar pela alegria, pelo entusiasmo, pelo clima de “já ganhamos”, pela sensação de sucesso que toma conta dos apóstolos (= aqueles que foram enviados) após o retorno da missão que o Mestre lhes havia confiado, tema do Evangelho de domingo passado.
Para ter sucesso basta seguir a correnteza! Para se dar bem junto à multidão, junto ao povão, basta fazer, dizer e ser à maneira da cultura dominante, daquilo que predomina em uma sociedade. Nada de novo!
O
sucesso dos apóstolos foi porque não pregaram como Jesus, mas tentaram
“ensinar” o que a sinagoga já dizia, o que os fariseus e escribas já
anunciavam!
Quantos de nós, candidatos(as) a sermos discípulos e discípulas de Jesus, não agimos de modo semelhante, também, nos dias atuais?! Gostamos de “jogar para a torcida”, gostamos de ser ovacionados, gostamos de ser elogiados, gostamos de ser reconhecidos, gostamos de ser recompensados. Mas... Não ensinamos, apenas, reproduzimos as ideias e o estilo de vida que não são os de Cristo!
Assim sendo, não é de se admirar, ver a multidão que buscava a Jesus dia e noite, de manhã até a tarde! Eram “ovelhas sem pastor”. Eram pessoas pobres, carentes, esquecidas, descartadas, doentes, perdidas, desesperadas. A quem elas poderiam recorrer? Quem as ouviria? Quem as acolheria? Quem buscaria a solução para os seus dramas e necessidades?
Jesus, quando se encontra com essas pessoas, somente sabe fazer duas coisas: ensiná-las e libertá-las de seus males! Não há nada mais importante a fazer do que ajudar as pessoas a compreenderem o modo certo de viver, o modo correto de encarar a sua existência, a maneira de se relacionar com Deus e com os outros, por isso, o ENSINAMENTO. De outro lado, de nada valem belas e comoventes palavras, se não se transformam em práticas concretas de LIBERTAÇÃO das pessoas. Por isso, Jesus dá o PÃO ao povo, enquanto os discípulos querem despedi-lo para se virar por conta própria (cf. Lc 6,36).
E nós, como agimos? Que apóstolos somos? Que pastores
somos? Ensinamos, de fato, o nosso povo? Pensamos, acima de tudo, nas ovelhas
de Nosso Senhor Jesus Cristo?
Oração após a meditação do Santo Evangelho
Senhor Jesus, faça-me:
«Amar uns aos outros, amar todos.
Não em horários fixos, mas toda a vida.
Amar os pobres, amar os felizes,
amar o desconhecido, amar o próximo que está no fim do
mundo,
amar o estranho que está perto de mim. Amar.»
(Raoul Follereau: 1903 a 1977 – escritor, jornalista e filantropo francês)
Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie – XVI Domenica del Tempo Ordinario – 22 luglio 2018 – Internet: clique aqui (acesso em: 10/07/2021).
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