«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 14 de julho de 2021

É nisto que nos tornamos!

 Retrato de um país regredido

 Marcio Pochmann

Graduado em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e doutor em Ciência Econômica pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp 

Desde os anos 1990, país se desindustrializa. Os burgueses tornam-se rentistas; o trabalhador, precariado. Ocupações concentram-se em serviços pouco qualificados. Emerge moral da prosperidade imediata, em detrimento da ação coletiva

 

A desindustrialização em curso desde os anos 1990 trouxe consigo o processo de desmodernização sistêmica no Brasil, cujos efeitos se generalizam por toda a sociedade brasileira.  Com o ingresso passivo e subordinado do Brasil na globalização, o projeto de modernização capitalista iniciado pela Revolução de 1930 foi interrompido. 

Desde então, a ruína da antiga sociedade industrial foi acompanhada pelo desmonte de suas principais classes sociais. De um lado, a burguesia manufatureira se metamorfoseou:

a) Uma parte se converteu em rentista, amante dos juros altos que se mostram fundamentais para a valorização do estoque da riqueza velha acumulada pelo desfazimento das antigas empresas de manufaturas.

b) Outra parte assumiu a perspectiva de comerciante, venerador do câmbio valorizado, estimulante necessário das importações alimentadoras da mera condição de indústrias maquiladoras, de montagem interna do que vem de fora. 

De outro lado, temos a transfiguração da classe trabalhadora da manufatura.

a) Enquanto parcela crescente, o trabalhador perdeu o vínculo de assalariado, embora tenha conseguido se manter ocupado como empreendedor de si próprio (pejotização, microempreendedor, contaproprista).

b) Outra parcela teve que buscar sobreviver de bicos, aposentadorias e pensão, entre outras alternativas, diante do esvaziamento do emprego industrial no país. 

Pela perda do dinamismo econômico das últimas décadas, o país passou a conviver com intensa população excedente às necessidades da acumulação de capital. O retrocesso na participação brasileira na Divisão Internacional do Trabalho concentrada em produtos primários de contida tecnologia, aumentou a dependência ao neoextrativismo vegetal e mineral e à contenção do custo do trabalho para os negócios. 

Nesse contexto geral de esvaziamento da produção e ocupação industrial, o sistema produtivo em declínio se distanciou das novas tecnologias e se aproximou da lógica de valorização financeira da riqueza velha e da acumulação por despossessão. Ou seja, a ocupação privada para a rápida e consequente obtenção lucrativa nos espaços desmercantilizados urbanos de responsabilidade do Estado (privatização de empresas estatais e serviços públicos) e rurais sob domínio de comunidades locais (tradicionais como indígenas, ribeirinhas, de agricultores familiares e outras). 

Em função disso, a terciarização da economia ganhou maior expressão, com majoritária localização das ocupações no setor de serviços. Em geral, postos de trabalho precários e instáveis, à margem dos direitos sociais e trabalhistas, dependentes mais da concentração da renda das famílias ricas do que da dinâmica econômica propriamente dita. 

Uma espécie de novos agregados sociais se agiganta neste início da terceira década do século 21. As três principais ocupações do terciário brasileiro se configuram pelo exercício do:

* trabalho doméstico,

* segurança privada e

* entregadores em plataforma digital. 

O novo sujeito social que resulta do inchamento do setor de serviços apresenta singularidades na formação de identidade e pertencimento coletivo. Resulta do esvaziamento da centralidade do trabalho material, até então gerador da identidade e pertencimento à cultura e ação coletiva em torno da cidadania regulada e solidariedade orgânica enraizada por atividades em associação, sindicato e partido político. 

Pelo enfraquecimento dos mecanismos de solidariedade orgânica presentes em associações, sindicatos e partidos políticos, temas afeitos à pessoalidade ganharam expressão, propiciados por engajamento espontâneo em organizações temporárias e de natureza horizontalizada. 

Em resposta ao enfraquecimento da antiga classe trabalhadora industrial, sindicatos e partidos de base laboral terminaram comprometendo a retórica e o conteúdo abrangentes. Ao se voltarem para nichos de comunidades sociais imaginadas, a reunião em torno das identidades e pertencimentos coletivos debilitaram a força dos projetos comuns e de horizonte com expectativas elevadas. 

Em paralelo, sobrevém a emergência das instituições de engajamento das massas tanto sobrantes aos requisitos da estagnação econômica como imersas na acumulação por despossessão. Exemplos disso se encontram em certo tipo de fanatismo religioso a construir solidariedade fundada na moral da prosperidade imediata, assim como nos empreendedores de atividades consideradas ilegais enquanto confrarias auto protetivas de sobrevivência de coletivos sociais. 

Fonte: OutrasPalavras – Crise brasileira – Segunda-feira, 12 de julho de 2021 às 19h30 e atualizado às 19h41 (Horário de Brasília – DF) – Internet: clique aqui (acesso em: 14/07/2021).

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