«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 3 de julho de 2021

O preço do negacionismo

 Quanto vale uma vida?!

 Editorial

Jornal «O Estado de S. Paulo» 

Estes números não lhe dizem algo? O Brasil tem 2,7% da população mundial, mas concentra 13% das mortes por covid-19

Quantas mortes, quantas vidas perdidas deveriam ser debitadas na conta do atual presidente da República, Sr. Jair Messias Bolsonaro?

A mentira tem pernas curtas, mas corre rápido – na era digital, mais ainda. E, em tempos de pandemia, ela mata.

Do mais de meio milhão de mortes por covid-19 registradas no Brasil, quantas foram causadas pela guerra do negacionismo contra a ciência?

Um estudo apresentado à CPI da Pandemia pelo Grupo Alerta – formado por entidades da sociedade civil, entre elas a Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência – estimou que, das cerca de 300 mil mortes nos 12 primeiros meses da pandemia, apenas as medidas não farmacológicas (como máscaras, distanciamento social, vigilância epidemiológica e testagem) poderiam ter evitado 120 mil. Na mesma CPI o epidemiologista Pedro Hallal estimou que, tudo somado, de 500 mil mortes, 400 mil poderiam ter sido evitadas. 

Como admitem os próprios pesquisadores, são números aproximados. O cálculo do Alerta, por exemplo, projeta sobre o Brasil a taxa de efetividade na redução do contágio por medidas não farmacológicas, estimada em 40% por estudos publicados em revistas científicas como a Science e a Nature. Já o cálculo de Hallal baseia-se na diferença entre o desempenho do Brasil e a média mundial. Uma comparação exata precisaria computar variantes conjunturais e estruturais complexas, que envolvem desde diferenças demográficas, ambientais, sanitárias e possivelmente étnicas entre os países, até as estimativas de subnotificação. 

Mas isso não significa, como sugeriu o senador governista Eduardo Girão, que essas projeções possam ser reduzidas a mera “guerra de narrativas”.

Nenhuma narrativa pode contornar o FATO de que o Brasil tem 2,7% da população mundial, mas concentra 13% das mortes.

No caso da vacinação, a mensuração é razoavelmente precisa.

Só o atraso na compra das vacinas da Pfizer e da Coronavac – causado exclusivamente pela negligência amplamente documentada do governoresultou, pelos cálculos de Hallal, em 95,5 mil mortes.

A estimativa é conservadora: outras pesquisas sugerem 145 mil mortes pela intempestividade da vacinação.

Ser bolsonarista, mata! 

Muito mais difícil é estimar quantas mortes foram causadas pela campanha ostensiva de desinformação do presidente Jair Bolsonaro. É preciso doses extras de cautela. Nem todo apoiador de Bolsonaro é negacionista, e muitos antibolsonaristas são. Mas uma pesquisa publicada pela Universidade de Cambridge constatou que:

... nas cidades onde Bolsonaro teve maioria absoluta de votos no primeiro turno, o isolamento social cai tipicamente entre 10% e 20% por semana a cada pronunciamento negacionista do presidente. O Instituto de Estudos para Políticas de Saúde verificou uma aceleração das mortes nos Estados e municípios que mais votaram em Bolsonaro em 2018.

A “infodemia” não é apanágio do presidente. O fenômeno é difuso e se alastrou pelo mundo com tanta ferocidade quanto o vírus. Mas sob Bolsonaro o governo se transformou numa máquina de disseminação. 

Em diagnóstico sobre a transparência e acesso à informação, a ONG Artigo 19 fez uma série de pedidos de informação ao governo referentes a políticas como o aplicativo Trate-COV, o “Kit Covid” (de “tratamento precoce”), o plano de imunização e a disponibilidade de seringas e cilindros de oxigênio:

* Dos 20 pedidos, 75% tiveram retorno insuficiente.

* Quanto à conformidade das informações prestadas, 85% delas foram classificadas como “infodemia”,

* sendo 35% como “informação desonesta” (contrárias às evidências científicas);

* 25% como “desinformação intencional” (informações falsas mescladas a verdadeiras para se passarem por legítimas);

* 20% como “apagão” (dados que deveriam ser públicos, mas foram negados); e

* 5% como “informação parcial”.

Como conclui a pesquisa, “a não informação e a informação conflitante foram bases das declarações do governo na condução da política de saúde”.

Aos poucos os modelos estatísticos aliados a evidências epidemiológicas depurarão coeficientes mais exatos de quantas vidas foram perdidas pelo negacionismo do presidente. Desde já, é certo que não foram nem uma nem duas, mas dezenas de milhares.

E isso é crime ou não é?

Fonte: O Estado de S. Paulo – Notas & Informações – Quinta-feira, 1 de julho de 2021 – Pág. A3 – Internet: clique aqui (acesso em: 03/07/2021).

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