«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Nossa liberdade em risco!

 Insatisfação com democracia radicaliza e enfraquece instituições

 Rodrigo Turrer

Jornalista

Cena da invasão do Capitólio, sede do Congresso dos Estados Unidos, dia 6 de janeiro de 2021, insuflados pelo ex-presidente Donald Trump

Resumo: Estudo feito em 160 países com 4,8 milhões de entrevistados mostra que 55% dos jovens de 18 a 34 anos, em quase todas as regiões do mundo, têm pouca fé ou satisfação com a democracia; 57% deles têm visões positivas sobre líderes populistas de esquerda ou de direita. 

Quando Donald Trump se elegeu, em 2016, uma onda de incentivo ao populismo varreu o mundo. Autocratas e líderes com tendência autoritária sentiram uma lufada favorável para continuar suas tentativas de sedimentar o poder e minar opositores com a ascensão de ideólogos conservadores ao posto de conselheiros do presidente da maior democracia do mundo. A vitória de Joe Biden na eleição americana não arrefeceu a marcha da erosão democrática no mundo, e nem deve fazê-lo em um futuro próximo, segundo especialistas no assunto ouvidos pelo Estadão. 

Em todo o mundo, as democracias estabelecidas enfrentam um processo de ‘erosão’: estão muito menos estáveis ​​e ainda menos democráticas do que décadas atrás, afirma Steven Levitsky, professor de Ciência Política da Universidade Harvard e coautor de “Como as Democracias Morrrem” [Zahar Editora, 2018].

“Nenhuma democracia é inquebrantável, e a maior ameaça à democracia é acreditar que ela é permanente e não precisa ser defendida.”

As causas dessa erosão democrática incluem o descontentamento crescente das populações provocado pelo aumento da desigualdade. Essa raiva levou:

* ao crescimento do populismo, com suas soluções fáceis para problemas complexos, e o consequente enfraquecimento das normas democráticas,

* além do acirramento das tensões ideológicas do radicalismo e

* a expansão das notícias falsas e

* fragmentação da mídia.

Políticos populistas responderam a esses sentimentos de raiva e frustração insuflando o radicalismo para mostrar aos eleitores que suas queixas são importantes. 

A confiança no sistema democrático foi estabelecida no mundo pós-1989, após a queda da União Soviética. No entanto, estudos indicam que essa confiança diminuiu no último quarto de século, à medida que os regimes democráticos lutam para enfrentar um mundo em rápida globalização. Com o passar do tempo, os sistemas democráticos parecem menos propensos a se universalizar e mais propensos a retroceder. 

Uma pesquisa realizada pelo Pew Research, centro de estudos com sede em Washington, nos Estados Unidos, mostrou que 52% da população está insatisfeita com o funcionamento de sua democracia, em comparação com 44% que estão satisfeitos. A pesquisa, feita em 34 países desenvolvidos e em desenvolvimento, com 38.426 pessoas, tentou entender a importância de valores democráticos.

A satisfação dos cidadãos com a democracia está diretamente relacionada:

* ao desempenho econômico de seus países,

* à escolaridade e

* a presença ou ausência do partido que apoiam no governo.

Cerca de dois terços estão satisfeitos com a forma como a democracia está funcionando na Suécia, Holanda, e Alemanha, mas cerca de dois terços ou mais têm opinião oposta na Espanha, Itália, Reino Unido, Estados Unidos e Grécia. A maioria está insatisfeita nas três nações latino-americanas pesquisadas: Brasil, Argentina e México. 

Os jovens também estão mais insatisfeitos com a democracia. Mais preocupante, eles estão mais insatisfeitos com a democracia do que as gerações anteriores estavam na mesma idade.

Isso os torna inclinados a políticas extremas de esquerda ou direita - o que pode, por sua vez, ameaçar ativamente a democracia no futuro. Esta evidência sobre atitudes vem de um novo estudo, Juventude e Satisfação com a Democracia, do Centro para o Futuro da Democracia da Universidade de Cambridge. 

O estudo, feito em 160 países com 4,8 milhões de entrevistados, mostra que:

* 55% dos jovens de 18 a 34 anos em quase todas as regiões do mundo tem pouca fé ou satisfação com a democracia, e

* 57% deles têm visões positivas sobre líderes populistas de esquerda ou direita.

Entre os chamados “millenials”: aqueles que atingiram a maioridade no século 21, nascidos entre 1981 e 1996, há um aumento de 16% em relação à desconfiança com populistas da chamada ‘Geração X’: que atingiu a maioridade na década de 1990, e nasceram entre 1965 e 1980. 

As duas pesquisas indicam que as ideias no cerne da democracia liberal permanecem populares entre os públicos globais, mas o compromisso com a democracia enfraqueceu. A insatisfação com a democracia e sua capacidade de lidar com os problemas enfrentados pela maioria da população é o cerne do problema. 

“Na base da erosão democrática estão as atitudes dos cidadãos. Em números cada vez maiores, as populações de nações democráticas estão se tornando mais abertas a alternativas autoritárias-populistas à democracia.”

... disse ao Estadão Yascha Mounk, cientista político alemão e autor do livro “O Povo Contra a Democracia”. 

YASCHA MOUNK

Vários fatores contribuem para essa falta de compromisso, mas principalmente a percepção do quão bem a democracia está funcionando.

“A maioria acredita que as eleições trazem poucas mudanças, que os políticos são corruptos e estão fora de contato e que os tribunais não tratam as pessoas com justiça”, diz Mounk.

Só as instituições salvam 

Em muitas democracias, instituições de controle não conseguiram se antecipar e prevenir a ascensão de candidatos extremistas nos últimos anos, que usaram suas ideologias para insuflar o radicalismo. Isso acabou afetando a elite política, com a diminuição da adesão às normas democráticas. À medida que a polarização política aumenta, os líderes dos partidos oponentes abandonam as práticas de tolerância mútua. Consequentemente, esses políticos descartam a mediação e o diálogo, recorrendo a medidas extremas para derrotar seus adversários políticos. 

A era dos golpes militares histriônicos ficou para trás, e a maior ameaça à democracia vem de governos no poder.

Com o tempo, líderes sem escrúpulos conseguem esvaziar completamente a democracia.

“As instituições eram fechadas ou eliminadas, havia tomada de palácio. Ainda temos golpes, como no Egito e na Tailândia, mas eles estão desaparecendo. Hoje líderes eleitos matam a democracia devagar, usando força popular, como os referendos. Muitas vezes é difícil perceber que com esses processos as democracias estão morrendo”, diz Levitsky. “Duas décadas atrás, a Venezuela era uma democracia vibrante, mas hoje a oposição mal existe.” 

DANIEL ORTEGA atual líder autocrático da Nicarágua

Na Nicarágua, o processo está em fase final. O líder populista Daniel Ortega, político de esquerda, hoje com 72 anos, chegou à presidência pela primeira vez em 1985, lá ficando até 1990. Em 2006 voltou ao cargo, em que permaneceu em 2011 e 2016 após duas reeleições seguidas. Graças às alterações constitucionais que ele levou a cabo em 2014, o país permite sucessivas e ilimitadas reeleições. O processo enfraqueceu as instituições e permitiu que Ortega perseguisse e prendesse opositores. 

Mesmo em países onde a democracia parece sólida e inabalável, há riscos. Os Estados Unidos são o melhor exemplo. Antes de Trump assumir, havia a certeza inabalável de que a democracia americana estaria livre de qualquer tentativa de golpe. As eleições de 2020 e as seguidas alegações infundadas de Trump de que houve fraude culminaram com a invasão do Capitólio e um risco concreto para a democracia americana. 

Para garantir a longevidade da democracia, instituições de controle são essenciais:

* Órgãos do judiciário livres de influência política,

* partidos políticos livres e

* organizações de mídia estabelecidas são os melhores mecanismos para preservar a democracia.

Mas a derrota de líderes autoritários em eleições recentes, como Donald Trump, não pode ser vista como uma vitória. 

“A eleição de Trump, em 2016, refletiu uma insatisfação latente com muitas coisas, inclusive com a democracia e o sistema político. O desapontamento com a democracia ainda está vivo nos Estados Unidos e em muitos outros países com eleições livres”, afirma Anne Applebaum, historiadora, ex-editora da revista The Economist e colunista do Washington Post, e autora do livro “O Crepúsculo da Democracia”.

“As ideias autoritárias se alimentam da insatisfação e a revolta das pessoas com as dramáticas mudanças sociais e demográficas das últimas décadas. Esse mal-estar não vai desaparecer.”

Fonte: O Estado de S. Paulo – Internacional / Democracia em Erosão – Domingo, 27 de junho de 2021 – Pág. A12 – Internet: clique aqui (acesso em: 29/06/2021).

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