«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

''Como um superego, os rastros deixados no computador lembram quem você é''


Maurizio Ferraris *
La Repubblica 
Roma - Itália
19/05/2011 
  
Desde que o Google também foi instalado nos nossos smartphones, a sugestão de não aceitar doces de estranhos torna-se substancialmente impraticável, e não por falta de doces, mas sim de estranhos

Samuel Pepys, um alto funcionário britânico, entre 1660 e 1669, taquigrafou cada detalhe da sua vida, dos cálculos renais dos quais sofria à paixão pelo canto e pelo vinho, dos eventos macro-históricos da peste de Londres aos micro-históricos das suas turbulentas relações com a esposa (muitas vezes devido às suas relações extraconjugais, também registradas, recorrendo, nos pontos mais escabrosos, ao latim, ao espanhol e ao francês).

Com relação à web, ele era um diletante. Ela anota infinitamente mais, de forma automática e sem o nosso conhecimento, de modo que todos os nossos atos na rede são registrados, e se rematerializa diante de nós de modo petulante e indiscreto. Ou até mesmo inquietante como um fantasma, visto que, no Facebook, pode acontecer que recebamos uma mensagem que nos informa que, há 15 dias, não escrevemos a um nosso amigo querido, que nós sabemos que morreu, de forma que a mensagem parece vir do além, como o voz de César que assombra Brutus em Filipos.

Em tudo, como um paranoico impassível, o Google domina, espelho da sua vida e dos seus interesses fundamentais. Uma vez, de fato, podia acontecer que alguém, por exemplo um velho amigo da escola, nos lembrasse de eventos que nós havíamos sido os protagonistas e dos quais havíamos perdido qualquer memória. Também podia acontecer que esses fatos não se encaixassem minimamente com a nossa imagem que havíamos construído ao longo do tempo.

Bem, essa experiência uma vez esporádica, na web, torna-se a regra, já que ela nos dá conta de todos os nossos atos e, ao mesmo tempo, nos dá a taquigrafia do fluxo da nossa consciência. É um experimento ao alcance das mãos: consulte a cronologia das suas pesquisas no Google. Lá, você vai encontrar uma representação do seu pensamento muito mais detalhada do que as que são prometidas pelas técnicas de neuroimagem atualmente disponíveis.

Desde que o Google também foi instalado nos nossos smartphones, a sugestão de não aceitar doces de estranhos torna-se substancialmente impraticável, e não por falta de doces, mas sim de estranhos.

Realmente, não se poderia demonstrar melhor a soberania dos arquivos, o poder do registro, dos traços que são deixados e que ressurgem automaticamente. Traços que, tempos atrás,  eram raros e deliberados (assinar um contrato, um cheque, manter um diário, mas você sabe que cansa), e que agora acompanham todas as nossas ações.

Como avaliar essa explosão do registro, que constitui a característica fundamental da nossa época, sem que ninguém tivesse previsto? Insiste-se muito no fato de que se trata de uma violação da privacidade, o que, sem dúvida, pode ser verdade, mas não é o elemento decisivo.

Pelo contrário, trata-se de um inconsciente, de um grande registro que folheia diante dos nossos olhos aquilo que somos. E que, no entanto, ao contrário do inconsciente, não é um Id tolerante, confuso e inclinado à remoção. É um superego imperioso que às vezes parece nos intimar: "Você é isto, não pode continuar agindo assim. Arrependa-se, mude de  vida, é o último momento para fazer isso".

Maurizio Ferraris é filósofo italiano, professor da Università degli Studi di Torino.

A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - 21/05/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=43486

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.