«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 3 de maio de 2011

É preciso esquecer tudo


RUBEM ALVES 

Espantado, pensei e me perguntei: "Que tipo de relação é essa entre diretor e aluno? É coisa nova..."

CONVIDO VOCÊS a me acompanhar na retomada do tema da Escola da Ponte. A razão? É que essa escola tem sido tão falada que, considerando-se a importância pedagógica e política da educação, pensei que seria apropriado dedicar-me um pouco mais àquilo que ela tem de revolucionário e inovador, porque é possível que tenhamos muito a aprender...

Era o ano 2000. Comecei a receber e-mails de Portugal. Quem os enviava era um professor que eu não conhecia, Ademar Ferreira dos Santos. É que ele conhecia uma brasileira que lhe emprestara um livrinho meu. Livrinho mesmo, pequenas estórias sobre crianças, professores e escolas: "Estórias de Quem Gosta de Ensinar". Ele gostou do dito livrinho, o que quer dizer que tínhamos pensamentos parecidos. De longe, ficamos amigos. Convidou-me a ir a Portugal. Fui e fiz algumas falas para professores e estudantes.

Numa manhã, ele foi buscar-me na hospedaria em que me encontrava. "Vou levar-te a conhecer uma escola diferente...", disse.
"Diferente como?", perguntei, curioso. Ele me respondeu: "Não há formas de o dizer. É preciso ver...".

Chegamos. De fora, um prédio comum com um jardim na frente. O diretor, José Pacheco, se aproximou, o Ademar nos deixou e ali ficamos, os dois, por alguns minutos, trocando as banalidades protocolares.

Acostumado aos jeitos comuns aos diretores, imaginei que o professor José Pacheco iria conduzir-me pelas dependências da escola e explicar-me a sua filosofia de educação. Mas não foi isso que aconteceu. Passava por ali uma menina, deveria ter uns nove anos... O professor se dirigiu a ela com um pedido: "Tu podes mostrar e explicar a nossa escola para o nosso visitante?".

Sem demonstrar nenhuma surpresa (o que significava que pedidos como esse deveriam ser corriqueiros naquela escola), ela simplesmente disse: "Pois, pois...". O professor me deixou sozinho com a menina e se foi para cuidar de outras coisas.

Espantei-me. Uma cena como essa nunca passara pelo meu imaginário: não conheço nenhum diretor que tivesse dado a uma menina de nove anos a tarefa de mostrar e explicar a sua escola a um visitante.

O espanto desarticula o pensamento. Desarticulado pelo espanto, o pensamento pergunta, em busca de compreensão. Pensei e me perguntei: "Que tipo de relação é essa entre diretor e aluno? É coisa nova. Desconheço". Mas uma coisa era clara: era relação de igualdade e confiança. O diretor confiava no que a menina sabia e entendia, confiava em que ela seria capaz de articular seus pensamentos e palavras para responder às perguntas que eu, estranho, iria fazer.

A menina deu meia volta e se encaminhou na direção da porta da escola. Lá chegando, parou, virou-se para mim e disse, com tranquilidade e confiança: "Para o senhor entender a nossa escola, terá que se esquecer de tudo o que sabe sobre escolas".

Outro espanto. Ela estava me advertindo sobre as condições dos meus olhos e pensamento para entender o que iria ver: era preciso esquecer-me do que eu sabia para entender aquilo que eu nunca havia visto. Onde foi que ela aprendera essa "pedagogia do esquecimento"? Alguém a ensinara?

Ela continuou: "Não temos professores dando aulas...".
(Mas as aulas não são a base de toda atividade escolar?)

"Não temos campainhas separando os tempos da aprendizagem, não temos provas, não temos notas..." De novo, o espanto me obrigou a perguntar: "E como é que vocês aprendem?".

Ela me explicou com segurança.
Depois eu conto...

Fonte: Folha de S. Paulo - Cotidiano - Terça-feira, 3 de maio de 2011 - Pg. C2 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0305201103.htm

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