«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

"O futuro da Igreja Católica está na África e na América Latina"


Entrevista com 
Leonardo Boff

O teólogo brasileiro Leonardo Boff afirmou, no sábado [30/04/2011], em entrevista à Telesur, que para garantir a sobrevivência da Igreja Católica no futuro, esta deve centrar-se nos países emergentes, como os localizados no continente latino-americano, uma vez que nessas nações vivem mais de 50% das pessoas que, hoje em dia, seguem essa doutrina religiosa.

A entrevista é publicada por Adital, 03-05-2011.

Boff indicou que "temos que sublinhar o fato de que 52% dos católicos estão no terceiro mundo; então, a Igreja católica hoje é uma igreja do terceiro mundo, que teve raízes no primeiro mundo; por isso, o futuro está na periferia e nós queremos e temos o direito de reivindicar um Papa que venha da África, que venha da América Latina, que garanta um futuro de mais esperança”.

Eis a entrevista.

Você é um dos teólogos que afirma ter sido castigado durante o pontificado de João Paulo II, beatificado no dia 1º de Maio. Poderia nos explicar como foi esse castigo e qual foi a justificação dessa ação contra sua pessoa por parte da Igreja?

Na verdade, foi o cardeal Ratzinger, que hoje é Papa, e com o apoio de João Paulo II, quem me impuseram um silêncio obsequioso, não falar, não viajar, não escrever, porque eu defendia a Teologia da Libertação e para João Paulo II, a Teologia da Libertação era uma espécie de Cavalo de Troia, mediante o qual o comunismo e o marxismo poderiam entrar e como ele pretendia saber tudo, por amor ao povo nos condenou; isto é, ‘se o comunismo e o marxismo entram, a Igreja será perseguida e, então, deve-se controlar essa teologia e impedir que tenha influência sobre a sociedade latino-americana'.

Segundo nos conta, foi condenado a um silêncio, em 1985, por suas teses sobre a Teologia da Libertação e, depois, em 1992, uma vez mais foi ameaçado, o que fez com que deixasse a ordem franciscana. O que significa ter sido perseguido como teólogo?

Quando o cardeal de São Paulo, que foi meu professor, Dom Paulo Evaristo Arns disse ao Papa, ‘santidade, o senhor condenou um discípulo meu ao silêncio como os militares no Brasil fizeram com os jornalistas'; e o Papa disse, ‘eu, como os militares, absolutamente; libertem a Boff'. E, efetivamente, um ano depois, fui liberado; e continuei meu trabalho, enquanto acontecia a Eco 92, a grande reunião ecológica no Rio de Janeiro; eu fiz uma palestra junto com outros sobre o monoteísmo como uma religião de guerra, cristãos, judeus, muçulmanos conduzem guerras.

Então, o cardeal Baggio, que escutou a palestra disse, ‘tu, Boff, não aprendeste nada com o silêncio, tens que sair da América Latina e ir para as Filipinas ou para a Coreia onde há franciscanos e trabalhar'. Eu disse, ‘posso ir e posso falar, ensinar; não ficar em silêncio'; ‘na primeira vez fui humilde, aceitei; agora é uma humilhação; humilhação é pecado; eu não aceito e aí não restou outra alternativa que sair do estado eclesiástico'.

Atualmente, o Papa Bento XVI promulgou o decreto que reconhece um milagre a João Paulo II: a cura inexplicável para a ciência da religiosa francesa Marie Simon Pierre, que padecia de mal de Parkinson, a mesma enfermidade que o Papa João Paulo II sofria. Qual sua opinião sobre isso? O senhor está de acordo?

Eu creio que esse milagre provocou uma grande discussão na comunidade teológica porque quando temos a visão quântica da realidade, isto é, que continuamente emerge novidades e aparecem coisas diferentes da realidade, é difícil definir o que é um milagre.

Não estou contra a beatificação porque é uma decisão do Papa; porém, as razões pelas quais querem beatificá-lo são muito complexas e muito contraditórias porque esse Papa tinha duas dimensões: uma voltada para fora como um grande carismático, um grande artista, que mobilizava milhões de pessoas; e, outra, para dentro, que conduzia a Igreja com mãos de ferro, controlando a todos, criando um catecismo, um direito canônico, uma só doutrina mediante a qual enquadrou mais de 140 teólogos e foi muito duro.

Tentou recuperar uma imagem mais conservadora da Igreja na linha da grande visão medieval. Então, essa contradição faz com que ele seja um ponto de referência, que é o sentido de um ser beato, um santo para toda a Igreja; para um tipo de Igreja mais conservadora, mais fechada, mais voltada para dentro de si mesma.

Além disso, a causa foi aberta por desejo de Bento XVI, sem esperar que transcorressem cinco anos da morte de João Paulo II, como estabelece o Código de Direito Canônico. Em sua opinião, qual é o motivo dessa pressa?

Na realidade, não há motivos porque segundo o direito canônico, o Papa tem direitos divinos, poder absoluto, universal sobre cada um, sobre toda a Igreja.

No fundo, ele pode fazer o que quiser e tem mostrado isso; então, não seguiu os trâmites normais; era um grande admirador e colaborador do Papa e quis exaltá-lo; e como esse Papa atual conduz esse modelo de Igreja e eu diria, de maneira ainda mais radical do que antes, mais conservador, mais em polêmica com a realidade; então quer uma especie de avalista, um que justifique essa posição e a figura mais importante disso é exatamente João Paulo II.

João Paulo II esteve três vezes no Brasil e foi responsável pela nomeação da maior parte dos bispos que hoje ocupam as dioceses brasileiras. Fala-se que o conservadorismo se impôs. O senhor está de acordo?

Seguindo esse curso, a Igreja irá, mais e mais, entrar em crise e diminuir; é uma igreja em agonia na Europa e temos que sublinhar o fato de que 52% dos católicos estão no terceiro mundo; então, a Igreja Católica hoje é uma igreja do terceiro mundo que tem raízes no primeiro mundo; então, o futuro está na periferia e nós queremos e temos o direito de reivindicar um Papa que venha da África, que venha da América Latina; que garanta um futuro de mais esperança; um futuro promissor para toda a cristandade.

O que aconteceu com a linha progressista, tão popular no Brasil nos anos 70, com a interferência do papa João Paulo II e do atual Papa Bento XVI? Continua ativa? Como vê o futuro da Igreja Católica no Brasil e na América latina?

Veja bem, eu sou um teólogo católico, franciscano, um animador cultural porque por todas as partes onde ando tento articular o discurso da ecologia, da salvaguarda da vida, do planeta com o discurso da fé, da espiritualidade; isso é o que eu faço, sublinhando três dimensões: trabalhar nas bases com os sem terra, com comunidades de base, estudar e fazer investigações e escrever e dar palestras e aulas no Brasil, na América latina e no mundo; é uma espécie de missão e cátedra que tenho para levar adiante o sonho de Jesus, que é um sonho bom e que, muitas vezes, não é o sonho da igreja católica.

Creio que os pontos sombrios, mais negativos de João Paulo II foi ter perseguido a única teologia dos pobres que nasceu na periferia do império na periferia das igrejas e condenou aos teólogos à teoria e decepcionou os pobres e muitos pobres dizem ‘o papa constrói onde estão os opressores; é amigo de Pinochet; é amigo de Reagan; não constrói aqui no canteiro onde nós trabalhamos; ele nunca apoiou as lutas, as organizações dos pobres; era para os pobres, mas nunca a partir da perspectiva dos pobres e com os pobres'.

O senhor é um renomado escritor que trata temas sobre teologia, Espiritualidade, Filosofia, Antropologia e Mística. Se casou. Qual é sua religião hoje?

À minha maneira, sinto-me membro da Igreja católica; tento viver com radicalidade uma espiritualidade dos pobres, da simplicidade e tomar como referência não tanto a doutrina, os documentos oficiais, mas os evangelhos, ou melhor, a prática de Jesus, que foi uma prática libertadora.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - 04/05/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=42923

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