«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

"NEM POLÍTICOS, NEM BANQUEIROS" [Jovens estão acordando e aqui?]

  Foto: Ruan Medina / Agência Reuters

Primavera jovem espanhola expande-se, toma praças em mais de 200 cidades, desafia ordem judicial e identifica com mais clareza seus adversários

A reportagem é  de Pep Velenzuela e publicado no sítio Outras Palavras, 21-05-2011.

Já é madrugada de 21 de Maio, nas praças ocupadas da Espanha e a polícia não chegou. O Tribunal Eleitoral havia ameaçado jogá-la contra os manifestantes, caso teimassem. Interpretando de forma esdrúxula a legislação – que proíbe comícios às vésperas das eleições – “exigira” que centenas de milhares de jovens abandonassem o protesto que fazem contra a velha política.

A resposta veio seca. Os manifestantes mandaram avisar que não saíam. Anunciaram que fariam no sábado, em respeito à lei, os chamados “gritos mudos”. Enormes protestos, em que a multidão permaneceria sem palavra alguma, um gesto – a mão sobre a boca – bastando para expressar como se sentem, diante da “democracia”. Em poucas horas, duplicou o número de pessoas que aderiram aos protestos. Além de coalhar a Puerta del Sol, em Madri [foto acima], e a Praça da Catalunha, em Barcelona, eles se expandiram para mais de 200 cidades – todas com as praças principais tomadas. Iniciada com passeatas, há apenas uma semana (em 15/5), e chamada por isso de “Movimento 15-M”, a mobilização por “Democracia real, já” também passou a enxergar mais claramente seus adversários: “Não somos mercadoria nas mãos de políticos e banqueiros” destaca um dos sites principais produzidos pelos acampados.

“Nós, os desempregados (quase 5 milhões nesta hora, mais do 20% da população ativa), os mal pagos, os subcontratados, os precários, os jovens…” reza um manifesto produzido pelo “Democracia Real”, “queremos uma mudança e um futuro digno”. O texto desenha as linhas básicas de uma proposta que vai se concretizando nas assembleias multitudinárias: mudança da lei eleitoral, na direção de proporcionalidade e listas abertas; não ao financiamento privado dos partidos e as campanhas, controle público dos bancos e assim por diante…

Motivos para a luta dos jovens, realmente, não faltam. O país, desculpe o leitor, está fodido com a crise. Na Espanha, o estouro da bolha imobiliária é pior do que na Irlanda. O setor da construção civil deixou no desemprego centenas de milhares de trabalhadores. Também milhares de famílias ficaram sem condições de continuar a pagar a hipoteca e já foram ou vão ser despejadas das moradias. O próprio governo espanhol reconheceu que os jovens de agora viverão pior do que os seus pais. As passeatas no dia 15 de maio atearam fogo a um coquetel explosivo… e agora, a verdade é que ninguém sabe nem imagina até onde as coisas podem ir.

Os protestos deverão terminar até domingo, se não houver surpresas. Depois, esse movimento deverá encontrar seu próprio caminho – o que é o mais difícil, pois ele é muito diverso e heterogêneo, juntando de fato posições ideológicas até pouco amigas em alguns casos.

Mais há, em sentido oposto, a coesão produzida pelo encontro e convívio, nas praças tomadas. Durante as assembléias, onde se dá palavra para todo aquele que se animar a pegar o microfone, representantes de organizações de família despejadas da moradia por impossibilidade de pagar a hipoteca, de migrantes e desempregados, de comitês de trabalho em hospitais e escolas e liceus, de estudantes… apontam os motivos pelos quais não é mais possível ficar passivos. E denunciam bancos e política como responsáveis principais da situação, provocando o aplauso reiterado de uma animada e viva assembleia. Depois, vai chegando a hora da organização. Todos sabem que a mudança não é coisa de um dia, que uma passeata não resolve. Formam-se comissões de trabalho: logística do acampamento, relações com os outros acampamentos, propaganda e agitação, programação interna e para o resto de cidadãos.

Ninguém levou bandeira de sindicatos ou partidos; também não apareceram os líderes dos mesmos. À mesma hora das assembleias, numerosos atos de campanha aconteciam; todos, por certo, com muito menos público. Mas há, de qualquer modo uma boa presença de veteranos militantes de organizações políticas da esquerda. Armando, do histórico Partido Comunista Catalão, acredita que o “movimento será efêmero, mas devemos estar aqui, eles são protagonistas, e vamos seguir adiante”. Núria, trotskista de longa data, não perde a fé, ao contrário: “Aprendi que não dá para fazer tudo de vez e menos ainda para correr sozinho”. No fim das contas, como disse Franki, mais uma voz na assembleia, “só o povo salvará ao povo”.

O fim de semana eleitoral vai ser ainda bem mais animado, agora ninguém duvida disso: mais pessoas mais acampamentos, mais assembleias e passeatas. Paira na atmosfera, porém, uma incógnita: e depois do fim de semana?

A maioria da população está ainda longe do movimento e, em princípio, deveria votar segundo as previsões estatísticas no domingo. Se elas se confirmarem, a direita deverá levar vantagem histórica. O cenário institucional que se pode prever é, portanto, terrível.

O movimento agora está apenas nascendo e vai ter que se confrontar com a realidade do passar lento dos dias… Mas não é menos verdade que já marcou época, sem dúvida. E ainda podem acontecer coisas tão surpreendentes quanto as dos últimos dias.

Sem esquecer que se cravou, no cenário político da Europa, uma enorme encruzilhada. Todos os governos veem, como medida para sair da crise, o corte de direitos sociais, aprovado por parlamentos que se recusam a debater com a sociedade. Mas após a primavera espanhola, em que país a juventude receberá estas medidas sem rebelar-se também?

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - 22/05/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=43516

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Que parte do discurso não se compreende? 

“A democracia é o que fazem hoje, ou que começaram a fazer os cidadãos madrilenhos no 15 de maio, o que começam a fazer centenas de cidadãos em outras cidades e outras praças. A democracia é estar juntos e fazer juntos. A democracia é fazer política. A missão da política é garantir a vida no sentido mais amplo”. 

O comentário é de Ángeles Diez em artigo publicado no Portal Rebelión, em 21-05-2011.
A tradução é do blog Boca do Mangue.

Eis o artigo.

Os candidatos às eleições autônomas e municipais na Espanha estão desorientados, não sabem o que pensar do acampamento da Porta do Sol [em Madrid] e das dezenas de rodas de discussão que surgem em cada esquina. O governo da Espanha e as direções dos partidos  políticos também mostram sintomas de uma estranha doença que lhes obstrui o entendimento. Não compreendem o que querem as pessoas. Não compreendem porque pedimos democracia se vivemos numa democracia.

Eram onze e meia da noite e a Praça estava completamente compactada. As ruas de Arenal, Preciados, Montera, Alcalá, Carretas… estavam impraticáveis. Sol era uma massa cerebral com múltiplas ramificações. De todos os pontos saíam palavras de ordem que como impulsos elétricos conectavam todas as gargantas: “que não, que não, que não nos representam”, “esta crise não pagamos”, “chamam democracia e não o é, não o é”. Um minuto antes da meia noite, fez-se silêncio. As mãos abertas se levantaram. Soaram as doze badaladas do relógio da praça e explodiram as gargantas e os aplausos: “o povo unido jamais será vencido”, “agora, vocês, são os ilegais”. Uma senhora idosa próxima de mim gritou: Felicidades, inicia o ano novo!

Não sabemos se começa um ano novo nem quantos meses têm ou se só terá dias. Sabemos sim, que para muita gente esses dias já estão sendo completamente novos. A aprendizagem é de ida e volta. Sem se dar conta, o pequeno cérebro estabelece novas conexões e nós que produzem novas conexões e nós fora da Praça. Na Praça e nas ruas de Madrid, as pessoas se sentam, se falam, se escutam, tomam nota, se organizam.

Quanto mais são as ameaças das Câmaras Eleitorais de proibir o acampamento e as possíveis manifestações, mais e mais gente se junta pedindo democracia. Hoje à noite havia medo, poucas horas de se iniciar a jornada de reflexão circulavam rumores de todo tipo. Mas a praça foi enchendo, os rios de pessoas espantaram o medo e cada célula foi formando um corpo protetor.

Caminho para um dos pontos de encontro, o da comissão de Educação e Cultura, um grupo de jovens cantava – em alusão ao ministro do interior – : “Rubalcaba tens um problema”.

Sim, ao ministro do interior se apresentou um problema. Ao presidente e à oposição se apresentou um problema.  O problema consiste em que não são as pessoas quem ignoram o significado da democracia, muito pelo contrário.

Talvez nossos políticos se perguntem – é pura especulação – por que as pessoas escrevem centenas de papéis com mensagens que colam nos postes, nas cabines telefônicas, no mobiliário público; por que as pessoas fazem assembléias na rua, se reúnem em círculo e falam, por que os cidadãos não ficam em suas casas – como Deus manda – refletindo sobre a forma como votarão amanhã.

Pode ser que nossos políticos não saibam, ou não lhes importe, o que tem acontecido com os cidadãos nos últimos anos. Seguramente desconhecem as conseqüências da reforma trabalhista, o que significa para cinco milhões de pessoas ficar sem trabalho. Talvez não saibam que a execução do Plano de Bolonha está desmantelando a Universidade Pública. Que a educação privada sangra os recursos da educação pública. Seguramente ignoram que centenas de famílias estão devolvendo ao banco suas casas e continuam pagando a dívida que contraíram com o banco.

Não imagina sequer que os hospitais de gestão privada são mais caros e contribuem para a deterioração da já precária saúde pública. Provavelmente ninguém lhes disse que os cidadãos não concordam em salvar bancos com dinheiros público. Na verdade, seguramente não lhes passou pela cabeça pensar na nacionalização dos bancos. E podem nunca ter ouvido falar das listas abertas, de uma lei eleitoral proporcional, de prestação de contas à cidadania, de consultar o povo sobre as decisões econômicas ou sobre se é melhor reduzir os gastos do exército e destiná-los à educação, por exemplo.

Sobretudo isso e muito mais se reflete hoje à noite, já madrugada, nas ruas de Madrid. Dizia a filósofa Hannah Arendt que quando os conceitos deixam de significar é preciso voltar a apresentar as perguntas originais: O que é, então, a democracia?

A democracia é o que fazem hoje, ou que começaram a fazer os cidadãos madrilenhos no 15 de maio, o que começam a fazer centenas de cidadãos em outras cidades e outras praças. A democracia é estar juntos e fazer juntos. A democracia é fazer política. A missão da política é garantir a vida no sentido mais amplo. A democracia, além das palavras e dos preconceitos, é o que se faz hoje na porta do Sol.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - 23/05/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=43517

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