500 anos de Reforma Protestante: o que pensar?
A Reforma em cinco pontos:
três positivos, dois negativos
Aldo Comba
Riforma
01-11-2017
«Tivemos
nos últimos meses uma série de livros, artigos, conferências,
até
mesmo com certos vídeos sobre Lutero
e a Reforma.
Neste
ponto, alguém pode ter prazer ao encontrar uma síntese de poucas linhas»
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MARTINHO LUTERO (1483-1546): monge agostiniano e teólogo, pregando suas 95 teses ou contestações àquilo que a Igreja praticava em seu tempo. Para acessar, em português, suas 95 teses, clique aqui |
“A
nossa relação com Deus consiste em apenas dois elementos: uma confiança absoluta e uma gratidão sem limites; todo o resto é
supérfluo ou prejudicial, mas confiança e gratidão são a essência da vida
espiritual.”
A
opinião é do pastor valdense italiano Aldo
Comba, tradutor de Lutero ao italiano.
Eis o texto do artigo:
Tivemos
nos últimos meses uma série de livros, artigos, conferências, até mesmo com
certos vídeos sobre Lutero e a Reforma. Neste ponto, alguém pode ter prazer ao
encontrar uma síntese de poucas linhas, que permita ter um esquema facilmente
memorizável.
Falando
de Reforma, naturalmente, não se
entende apenas Lutero e o início do movimento, mas tudo o que se seguiu até
hoje, ou seja, a cristandade reformada,
o protestantismo.
No essencial, parece-me, a Reforma apresenta três aspectos positivos
e dois negativos.
Aspectos positivos da Reforma
1º) O
primeiro aspecto positivo é a difusão da
Bíblia. Os valdenses medievais já haviam se esforçado nesse sentido,
traduzindo da Vulgata e produzindo manuscritos caros e raros. Com Lutero, por
sua vez, começa-se a traduzir do grego e
do hebraico e a usar a imprensa, há pouco introduzida na Europa. A Bíblia foi difundida em milhares e,
depois, em milhões de exemplares; todos são exortados a lê-la, meditá-la e
aplicar os seus ensinamentos. Mesmo os católicos, que por muito tempo a usavam
com reserva, hoje a difundem e também fazem traduções modernas em colaboração
entre protestantes e católicos.
2º) O
segundo aspecto positivo está no fato de ter
centrado a relação do fiel com Deus na graça: “Vocês foram salvos pela graça, por meio da fé; e isso não vem de vocês,
mas é dom de Deus” (Efésios 2, 8). A
nossa relação com Deus consiste, portanto, em apenas dois elementos:
* uma confiança absoluta e
* uma gratidão sem limites;
todo
o resto é supérfluo ou prejudicial, mas confiança e gratidão são a essência da
vida espiritual.
3º)
O terceiro aspecto positivo diz respeito à Igreja:
descartada a estrutura hierárquica, que era um resíduo imperial, a Igreja é uma comunidade de irmãs e
irmãos, que distribuem entre si tarefas diferentes, mas sem nenhuma
superioridade ou prerrogativa pessoal. Esses aspectos positivos devem ser
conservados e valorizados.
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Porta da Capela do Palácio de Wittenberg (Alemanha) onde Martinho Lutero fixou suas 95 teses ou contestações no dia 31 de outubro de 1517 |
Aspectos negativos da Reforma
Os
aspectos negativos ou, se se preferir, as
carências dizem respeito à PAZ e à IGUALDADE.
1º)
Jesus foi um messias de paz, que entrou triunfalmente em Jerusalém não em um
carro de guerra, mas em um pacífico burro, justamente para simbolizar o seu
reino de paz. Jesus ensinou: “Amem os seus inimigos” (Mt 5, 44); ser seus discípulos significa ser
pacificadores.
A Reforma, infelizmente,
não deu uma mensagem clara sobre esse ponto. Só os valdenses medievais, depois os
menonitas, os quakers e, talvez, algum outro grupo minoritário são pacifistas.
Hoje, é mais do que nunca necessário remediar essa carência e proclamar, em
alto e bom som, que todo verdadeiro
discípulo de Jesus é um pacifista integral.
2º) A
segunda carência diz respeito à igualdade.
Jesus a ensinou e a praticou. A primeira comunidade cristã, a de Jerusalém,
também tinha introduzido uma forma de igualdade
econômica (Atos 2, 44 e vers. seguintes) e nisso tinha razão, porque, sem igualdade econômica, todas as outras
igualdades acabam sendo mais aparentes do que reais.
Também sobre esse ponto a
Reforma foi carente. Hoje, em um mundo onde, ao lado de alguns grupinhos de bilionários, há
milhões de pessoas, incluindo crianças, que sofrem ou morrem de fome, é importante encontrar uma forma moderna de
igualdade econômica. Uma tarefa imensa, mas muito urgente, para todos os
cristãos.
Traduzido
do italiano por Moisés Sbardelotto.
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