Onde está Deus?
Somos capazes de fazê-lo entrar nas
nossas vidas?
Eugenio
Bernardini
Teólogo
e pastor valdense
Moderador
da Mesa Valdense, o órgão representativo e administrativo da Igreja Valdense
Jornal “Il
Fatto Quotidiano”
12-11-2017
“Onde está Deus?
Onde ele é perceptível nas tragédias da humanidade,
Onde ele é perceptível nas tragédias da humanidade,
causadas também pelos conflitos
religiosos, nas catástrofes naturais,
no sofrimento das doenças, no
desenvolvimento de sociedades
cada vez mais despersonalizantes e
individualistas?
Onde está Deus?
Deus está onde nós o deixamos
entrar, entrar na nossa história,
nas nossas escolhas de vida, nas
nossas consciências.”
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EUGENIO BERNARDINI Teólogo italiano valdense |
De
onde viemos?
Qual
é o segredo das origens da vida humana?
No
princípio, houve um desígnio superior ou somos frutos de reações químicas e
físicas casuais, talvez replicadas ou replicáveis em outros mundos?
E,
acima de tudo, para onde vamos?
Haverá
um futuro para a humanidade, e qual será?
As
tentativas de resposta a essas perguntas fundamentais são o motivo condutor de “Origem”, o último best-seller de Dan Brown, o prolífico autor de thrillers de fundo religioso, como “O código Da Vinci” e “Anjos e demônios”.
Assim
como na maioria dos romances anteriores, o protagonista é Robert Langdon, professor de simbologia e iconologia religiosa em
Harvard, que representa o olhar daquela
cultura secular capaz de combater o extremismo e o totalitarismo religiosos,
sem, por isso, se tornar ateia e capaz
de reconhecer que, dentro de todas as grandes religiões, há movimentos e
protagonistas que buscam o diálogo e a paz, e, por isso, devem ser respeitados
e apoiados.
Particularmente,
“Origem” é uma reflexão sobre o eterno conflito entre ciência e fé, mas partindo
dos desafios, também éticos, que o desenvolvimento vertiginoso das novas
tecnologias e da inteligência artificial nos colocam cotidianamente,
transformando a nossa cotidianidade, mas também as nossas consciências.
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Publicado no último dia 3 de outubro no Brasil - Editora Arqueiro - 432 páginas |
Ainda haverá lugar para Deus
em um mundo dominado pelas tecnologias e pela comunicação informática? É uma típica pergunta do
Terceiro Milênio. O último século do segundo milênio, o século XX, fez-se a
mesma pergunta – onde está Deus? – mas a partir de outro ponto de vista, o da
experiência dilacerante das tragédias e dos sofrimentos das duas guerras
mundiais e dos impiedosos massacres dos nacionalismos europeus.
Na Bíblia, dos Salmos ao
Novo Testamento, também encontramos muitas vezes esta pergunta: onde está Deus? Quando e onde se manifesta
ou se manifestará? Como em um dos textos sugeridos pelo lecionário que estamos
seguindo – Un giorno, una parola (Ed.
Claudiana 2017) – e que, de algum modo, são preparatórios para o período do
Advento, que iniciará neste ano com o primeiro domingo de dezembro: “Os
fariseus perguntaram a Jesus sobre o momento em que chegaria o Reino de Deus.
Jesus respondeu: ‘O Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem se poderá dizer:
‘Está aqui’ ou: ‘Está ali’, porque o
Reino de Deus está no meio de vocês” (Lucas 17, 20-21; tradução da Bíblia Pastoral).
Entre
os estudiosos, há diversas interpretações das palavras de Jesus – “O Reino de
Deus está no meio de vocês” –, mas eu gostaria de partir de uma anedota
judaica: “Um famoso rabi, um dia, surpreendeu alguns sábios que eram seus
hóspedes, perguntando: ‘Onde Deus habita?’. Eles zombaram dele: ‘O que você
está dizendo? O mundo está cheio da sua glória!’. Mas ele mesmo respondeu à sua
própria pergunta: ‘Deus habita onde o
deixam entrar’”.
Onde
está Deus? Onde ele é perceptível nas tragédias da humanidade, causadas também
pelos conflitos religiosos, nas catástrofes naturais, no sofrimento das
doenças, no desenvolvimento de sociedades cada vez mais despersonalizantes e
individualistas? Onde está Deus? Deus
está onde nós o deixamos entrar, entrar na nossa história, nas nossas escolhas
de vida, nas nossas consciências.
A pergunta justa, então, não
deve ser dirigida a Deus: “Deus, onde estás?”.
Mas sim a nós: onde ou
quando permitimos que Deus entre na nossa vida?
Quando
o deixamos entrar, esta vida – tão pequena, fugaz, discutível – também adquire
um valor imenso para nós, finalmente, porque, para Deus, a nossa vida sempre tem um valor imenso.
“O Reino de Deus não vem
ostensivamente”, diz Jesus, mas vem para atrair
os corações e para transformá-los, abandonando arrogâncias e a
autossuficiências, medos e violências, e criando um espaço de vida para
todos: “O Reino de Deus”.
Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto. Acesse a versão
original deste artigo, clicando aqui.
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