Em política, nenhuma briga é para sempre...
O perdão estratégico de Lula aos golpistas
Juan Arias
Jornalista
Convencido de que a disputa no campo
judicial não lhe é favorável,
o ex-presidente recorre aos velhos
amigos dos partidos conservadores
para sair do atoleiro
![]() |
LULA & DILMA Fotografados diante do ônibus da caravana de Lula por Minas Gerais em outubro passado |
Há alguns dias, em Minas
Gerais, Lula surpreendeu a opinião púbica ao confessar: “estou perdoando os golpistas deste país”. Ele se referia aos
partidos que apoiaram a destituição da presidenta, Dilma Rousseff, e que o
Partido dos Trabalhadores (PT) denunciou como sendo um “golpe parlamentar”.
Como ninguém poderia negar as
qualidades de estrategista do ex-presidente, sua confissão e em praça pública,
cercado por seguidores de seu partido, com Dilma ao seu lado, só pode
significar algo que vai além de um gesto de perdão cristão.
A afirmação inesperada de
Lula, de querer se aproximar dos golpistas, ocorre, com efeito, em um momento
crítico da vida política do país, à véspera da eleição presidencial mais recheada
de incógnitas em muitos anos e na qual o principal partido de esquerda, o PT de
Lula, aposta tudo, com seu inquestionável líder perseguido pela justiça e que
poderá ficar de fora da disputa presidencial, sem que surja no horizonte um
candidato credível, capaz de substituí-lo com êxito.
Lula não é um político que
se resigna com uma derrota, tampouco quando se vê com a água no pescoço; e é capaz, no último
instante, de tirar da manga da camisa uma carta que ninguém esperaria. Neste caso, em que se vê mais acossado do
que nunca, tudo que Lula não poderia fazer é permanecer isolado ou fora do jogo.
Convencido de que a disputa no campo judicial não lhe é favorável e que terá de
enfrentar ainda vários processos e novas condenações, Lula recorre aos velhos amigos dos partidos conservadores, com os quais
já tinha governado, para que o auxiliem a sair do atoleiro e ajudem o PT a
ressurgir nas urnas.
Acossado,
sobretudo por uma possível delação premiada altamente nociva por parte de
Antonio Palocci, que foi o seu braço direito no Governo em seus anos de glória,
Lula sabe que o PT não se salvará sozinho
e que neste momento são os seus companheiros de infortúnio judicial, PARTIDOS E
POLÍTICOS CORRUPTOS, que estão hoje no poder, que podem tentar “conter a
sangria” na ferida aberta pelos juízes na luta contra a corrupção, que
ameaça todos os partidos mais importantes do país.
Quando
decidiu perdoar aqueles que chama de golpistas, com as consequências que isso
pode acarretar em termos de desorientação da população, Lula sabia que sem a
força do PMDB e seus satélites, sem a força do Governo do golpista Temer, que
conseguiu escapar com bastante dificuldade da tempestade de acusações que caiu
sobre ele, salvo pelo Congresso, o PT seria hoje o mais prejudicado nas urnas,
podendo se reduzir a um partido marginal.
E
Lula também sabia, ao fazer o seu gesto de perdão aos “golpistas”, que também
da outra parte, da parte de Temer e dos seus próximos, que têm em suas mãos o
trunfo de ter interrompido a recessão e a crise econômica deixadas por Dilma,
não despreza um abraço de reconciliação com o líder carismático que ainda conta
com 35% das intenções de voto. É até
possível governar sem Lula, mas não contra ele, que mostrou ser capaz, como
Fênix, de sempre se reerguer de suas quedas.
Não se pode esquecer que
esse pacto que Lula tenta construir ao tornar público o seu perdão aos
golpistas já tinha dado os primeiros passos no hospital onde Dona Marisa, a
mulher de Lula, agonizava. Esse perdão conheceu ali o seu primeiro degrau quando Lula e Temer se abraçaram diante da presença de metade do
Governo golpista, ali presente. Foi ali que começou a ser desenhado o
contorno de uma possível reconciliação do PT com a direita na tentativa de todos se salvarem juntos da
Lava Jato.
Se
esta análise política corresponde à realidade, resta apenas saber como reagirão
os militantes do PT, que acreditaram no seu líder quando ele proclamou que a
saída de Dilma resultara de um golpe. O
que pensarão, hoje, do perdão de Lula a Temer, os movimentos sociais que
lutaram para tentar manter Dilma, os inúmeros movimentos progressistas que se
manifestaram contra o golpe e os milhões de brasileiros que choraram quando ela
foi deposta. Será que compreenderão a estratégia política maquiavélica de
Lula? Perdoarão o próprio Lula por essa ousadia? E Dilma? Será que ela também
irá perdoar aqueles que a expulsaram do Planalto?
Talvez
o que possa salvar o líder carismático Lula e sua estratégia de poder, no
momento mais frágil de sua carreira política, seja a sua capacidade de ser ele
mesmo e o seu contrário. Se hoje dá o
seu perdão aos golpistas, amanhã, caso a deusa da política o imponha, também
poderá retirá-lo. Lula é antes de tudo um político. E com uma
particularidade da qual poucos políticos gozam: há uma sensação de que lhe perdoam tudo, fora e dentro do partido do
qual ele é o começo e o fim.
Por
que será?
Comentários
Postar um comentário