Igreja contra a reforma da Previdência
Bispo recomenda “levante popular pacífico”
contra reforma da Previdência
Rede Brasil
Atual
Política de Pilatos: governo Temer
“lava as mãos” na responsabilidade do Estado em proteger os vulneráveis
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DOM REGINALDO ANDRIETTA |
Para o bispo de Jales (região sudeste de São
Paulo, a cerca de 580 quilômetros da capital), Dom Reginaldo Andrietta, a proposta de reforma da Previdência que o
governo Temer quer ver votada ainda neste ano "reduz direitos constitucionais e ameaça a vida de milhões de
brasileiros, especialmente os mais pobres".
Ele afirma que os argumentos
do alegado déficit no sistema das aposentadorias são falsos e enganadores, e defende um levante
popular pacífico, com a distribuição de
"santinhos" contra parlamentares que votarem a favor da reforma.
"Que
tal, então, levantarmo-nos em respeito às pessoas idosas de hoje e de amanhã? (...)
David venceu Golias com uma simples funda. A
força dos fracos está nas ações simples e contundentes", diz o prelado
em artigo publicado na semana passada no site da Diocese de Jales.
Segundo
o bispo, a igreja é clara na defesa de um sistema de proteção social assegurado
pelo Estado, "que não esteja submetido à lógica mercantil", de modo a
garantir a preservação de direitos dos mais pobres.
Sobre
o suposto déficit, o religioso ressalta dados apresentados pela Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) da Previdência, que apresentou relatório que
identificou que as contas das
aposentadorias estão no azul. "Essa constatação foi feita pela própria
Comissão Parlamentar de Inquérito, constatando que a Previdência Social é, na
realidade superavitária. Causa espanto um dos argumentos utilizados pelo
presidente da República para essa reforma, que o brasileiro daqui a pouco
viverá 140 anos."
Também
em esforço para barrar a proposta de reforma da Previdência do governo Temer, as nove centrais sindicais do país
decidiram convocar uma greve nacional para o próximo dia 5 de dezembro. Em
nota, as centrais afirmam que a proposta "acaba com o direito à aposentadoria
dos trabalhadores brasileiros", e mandam recado aos parlamentares: "Não mexam nos direitos!".
Confira o artigo:
Proteção social sem lógica mercantil
O projeto de Reforma da Previdência Social
será votado na Câmara dos Deputados tão logo se concluam as negociações do
executivo com o legislativo, na forma de “compra de votos” por meio de cargos e
emendas parlamentares. Este projeto reduz direitos constitucionais e ameaça a
vida de milhões de brasileiros, de modo especial os socialmente vulneráveis.
A
Constituição de 1988, ainda em vigor, assegurou um sistema avançado de proteção
social, conquistado a duras penas pela classe trabalhadora no bojo das lutas
pela redemocratização do Brasil. A classe
dominante jamais aceitou esse e outros avanços que, em última instância, apenas
asseguram as bases para a construção de uma sociedade verdadeiramente
democrática e justa.
O congelamento por 20 anos dos gastos com
programas sociais e a recente reforma trabalhista ferem gravemente nossa
“Constituição Cidadã”. Agora, a Proposta
de Emenda Constitucional 287, que reforma a Previdência Social, se for
aprovada, dificultará o acesso à aposentadoria de milhões de trabalhadores,
especialmente rurais, reduzirá drasticamente o acesso ao Benefício de Prestação
Continuada, que é o benefício assistencial ao idoso e à pessoa com deficiência,
e cortará pela metade as pensões de viúvas e viúvos.
Os argumentos utilizados para essa reforma
previdenciária são enganadores. O
déficit alegado é falso. Essa constatação foi feita pela própria Comissão
Parlamentar de Inquérito, constatando que a
Previdência Social é, na realidade, superavitária. Causa espanto um dos
argumentos utilizados pelo Presidente da República para essa reforma, que o
brasileiro daqui a pouco viverá 140 anos.
Nossa Lei Magna está sendo, assim,
mutilada. Em consequência, os pobres, já
crucificados, estão sendo ainda mais sacrificados com o desmonte descarado do
sistema de proteção social. Instaura-se a barbárie. Perde-se a civilidade.
O governo de plantão quer que o Estado adote a política de Pilatos. Este “lavou
as mãos” na condenação de Jesus. Trata-se
da política do “Estado Mínimo” que se exime de sua responsabilidade de proteger,
sobretudo, os mais desvalidos.
O grau de respeito à dignidade humana de
uma nação deve ser também medido por seu sistema de proteção social. A Doutrina Social da Igreja é clara na
definição do papel do Estado de salvaguardar os direitos, sobretudo, dos mais
pobres, garantindo, por exemplo, acesso a um sistema de proteção social que
não esteja submetido à lógica mercantil. Afinal, proteção social deve ser
comprada?
Um
sinal muito particular de respeito humano é a proteção às pessoas idosas,
a ser garantida, especialmente, por uma aposentadoria
justa. Clamam aos céus o desprezo sofrido por elas. O Salmo 79,1 traduz, sabiamente, o clamor do idoso: “Não me rejeites na minha velhice; não me
desampares quando forem acabando as minhas forças”. O livro de Levítico
19,32 exorta: “Levante-se diante de uma
pessoa de cabelos brancos e honre o ancião!”
Que tal, então, levantarmo-nos em respeito às pessoas idosas de hoje e de amanhã? Que
seja um “levante popular”, evidentemente pacífico. Que tal, por exemplo, distribuirmos ostensivamente, “santinhos”
com nomes, fotos e partidos políticos dos legisladores que votarem a favor
dessa reforma da previdência, denunciando-os em seus “currais eleitorais”?
David venceu Golias com uma simples funda. A força dos fracos está nas ações
simples e contundentes.
Jales (SP),
23 de novembro de 2017
Dom Reginaldo
Andrietta
Bispo
Diocesano de Jales
Fonte: Rede Brasil Atual – Cidadania
– Segunda-feira,
27 de novembro de 2017 – 10h44 (Horário de Brasília – DF) – Internet: clique aqui.
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