Educação como mercadoria
Nova fase da Educação-Mercadoria
José Ruy
Lozano
Sociólogo,
autor de livros didáticos, conselheiro do CIPI – Conselho Independente de
Proteção à Infância e coordenador pedagógico geral da Rede Alix – Colégio Nossa
Senhora do Morumbi
Elite troca a tradição e excelência
por “serviços educacionais”,
vendidos como resorts ou bancos
“prime”.
Não se busca formar seres humanos,
mas patrões.
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Sede da escola Avenues, em São Paulo: lá, segue-se o calendário do Hemisfério Norte e comemoram-se os feriados norte-americanos |
Foi-se o tempo em que pais de classe média e
alta escolhiam escolas particulares baseados apenas na tradição. A educação básica privada transforma-se
progressivamente em um mercado de serviços como outro qualquer, e a oferta
de “experiências perfeitas” (?!) às crianças pouco se distingue das estratégias
de propaganda de hotéis de luxo ou resorts à beira-mar.
O mercado de serviços educacionais (é disso
que se trata) de grandes cidades brasileiras vem sendo sacudido pela inserção
de novos “players” (assim se denominam) e atraindo
investimentos de grupos nacionais e estrangeiros de “private equity” ou mesmo
de “venture capital”. Sim, a educação básica imita o ensino superior e
entra na bolsa de valores (stock market, melhor dizendo), com todas as regras
de “compliance” e promessas de ganhos de “market share”.
Anglicismos adentro, os nomes de algumas
novas escolas a serem inauguradas em São Paulo e no Rio de Janeiro reiteram a
tendência: New York Avenues, Concept, International School… e por aí vai.
Mas há uma importante diferença no “target”
entre o ensino superior privado e as novas escolas particulares. Enquanto os
centros universitários – eufemismo para uma reunião pouco consistente de
faculdades técnicas – miraram o consumidor de baixa renda (“lower income”, para
não destoar) e os subsídios governamentais do ProUni, as escolas tentam seduzir o segmento “premium”, a “upper class”.
Os projetos pedagógicos das escolas
boutiques, ou colégios de charme, embalam em papel dourado e salas de aula
projetadas por famosos designers tendências de metodologia ativa presentes no
horizonte educacional desde pelo menos os anos 1960. O aluno como protagonista,
a interação como princípio da aprendizagem, a construção de conhecimento por
meio de projetos de investigação. Nada de novo aqui, e nem é isso mesmo o que
essas escolas querem vender.
Suas
estratégias de marketing mobilizam sem maior receio – ou vergonha – o conceito
de EXCLUSIVIDADE, como os bancos prime ou
algumas pousadas em Trancoso. Esse é o verdadeiro objeto de desejo dos
potenciais clientes das escolas boutique.
Afinal, para
formar cidadãos de um mundo globalizado, os futuros líderes do século XXI (a quem a plebe rude e
ignara está fadada a obedecer), é
necessário cobrar mensalidades na faixa de oito mil reais por mês, fora uma
taxa de matrícula (ou de adesão) de outros tantos mil reais.
Assim estão
a se formar verdadeiros clubes privados de ensino, escolas de
empreendedorismo e criatividade (leia-se, negócios), jardins da infância
financeirizada e higienizada, cujo acesso é, certamente, exclusivo: longe de gente esquisita que não circula no
Clube Pinheiros ou no Jockey, nem vai esquiar em Aspen no carnaval.
Não, essas
escolas não se destinam a formar líderes, mas patrões. Não pretendem formar
cidadãos globais, mas elites que mandam
a partir de espaços delimitados e cercados, muito distantes da realidade
diversa e multifacetada do mundo dito globalizado. Esses estabelecimentos não se destinam a uma integração com a realidade
contemporânea, mas com uma pequena parcela desta realidade, a que vive nos
melhores bairros, tem acesso ao maior número de recursos, seja em Manhattan,
seja nos Jardins ou na Barra da Tijuca.
Escolas de
alienação,
isso sim, compradas a peso de ouro.
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