Jovens e suas Paixões Mornas
Não à política e à religião:
para os jovens, é a era das paixões mornas
Ilvo Diamanti
Jornal “La
Repubblica” – Roma
30-10-2017
«As paixões esfriam. Tornam-se
mornas.
Porém, convém “crer” nos jovens.
Porque eles são o nosso futuro.
E, mais do que todos os outros, “creem”
no futuro.»
A
opinião é do sociólogo e cientista político italiano Ilvo Diamanti, professor da Universidade de Urbino.
Eis o texto do artigo:
Parafraseando
o título de um conhecido livro, poderíamos dizer que vivemos em uma época de “paixões mornas”. Não “tristes”, como as
evocadas por Miguel Benasayag e Gérard Schmit no seu ensaio (publicado
em 2004 pela editora Feltrinelli). Ao contrário: “desencantadas”. Interpretadas com realismo. Particularmente pelos
jovens. Acostumados a projetar o futuro no seu olhar. E a orientar o nosso.
Porque os jovens “são” o futuro.
Essa
é a imagem sugerida pela pesquisa do Observatório
Demos-Coop, realizada nos últimos dias e proposta hoje no jornal La Repubblica.
Além
disso, a sociedade e, sobretudo, os
jovens se acostumaram com o clima de desconfiança que paira sobre nós. Há
muitos anos já. Assim, eles o atravessam sem muito medo. Em particular, os “jovens-adultos” (de acordo com os
demógrafos), a “geração do milênio”,
segundo o Istat.
Em
suma, aqueles que têm entre 25 e 36 anos e
estão no meio da juventude e da idade adulta. E acumulam a insegurança de quem tem pela frente um futuro repleto de
incógnitas e a segurança de quem começou a experimentar os problemas do futuro.
É a metáfora de uma sociedade que não aceita envelhecer. Onde muitos, quase todos, gostariam de ficar “jovens para sempre”. Às custas de protelar ao
infinito as incertezas dos adolescentes.
É
um aspecto que já observamos outras vezes no passado. Mas hoje ele se repropõe,
de modo, se possível, mais marcante. A juventude, de acordo com os italianos,
se alonga cada vez mais. Quanto mais os anos passam.
Entre
aqueles que não superam os 36 anos, a juventude acaba um pouco mais tarde: aos
42 anos. Depois, à medida que os anos passam, a juventude também se alonga. Até
os 62 anos, para aqueles que superaram os 71 anos. A “geração da reconstrução”.
Paralelamente,
afasta-se também o limiar da velhice.
Tanto que, de acordo com os mais idosos, perdão, os “menos jovens”, só nos
tornamos “velhos” depois de completar os 80 anos. Não é uma novidade. A nostalgia da juventude leva a negar a
velhice. E induz a aceitar ser velho... só depois da morte.
Porém,
todas as vezes eu me surpreendo. Não consigo me dar uma razão para isso. A velhice como desvalor: significa negar a
importância da experiência. A maturidade.
Por
outro lado, a idade adulta se restringe cada vez mais. Assim, a nossa biografia se aproxima e opõe
juventude e velhice. Uma ao lado da outra. E reduz a idade adulta a uma
passagem rápida. Quase ocasional. “Tornar-se grande”, uma promessa
esperada, quando eu era criança, hoje parece ser quase uma ameaça. No máximo,
nos é concedida a condição de “adultos
com reserva” (para citar um belo livro de Edmondo Berselli).
As
fraturas geracionais, assim, parecem ser menos evidentes e menos marcadas do
que antigamente. Eu mesmo, no fim dos anos 1990, definira os jovens como uma Generazione invisibile [Geração
invisível] (Ed. Il Sole 24 Ore, 1999). Para enfatizar a progressiva
marginalidade dos jovens, mas, ainda mais, a sua coerência com as orientações
dos... adultos. Ou, melhor, dos pais. A tal ponto de não se captarem mais as
suas distâncias. Ou seja: as especificidades geracionais.
Por
outro lado, os anos das contestações sociais, mas, antes ainda, familiares –
dos filhos contra os pais – estavam longe. Depois, não se repropuseram mais.
Ou, melhor: os pais, a família
tornaram-se o pretexto que permite que os filhos conduzam a sua transição infinita para a idade adulta.
Explica-se principalmente assim a importância atribuída pelos mais jovens às
suas relações com a família. Mas, acima de tudo, à independência e à autonomia.
Três em cada quatro, entre aqueles que têm até 24 anos, os consideram muito
importantes. Em 2003, eram pouco mais de um em cada dois. Sinal evidente de que o apoio da família é necessário, mas, ao mesmo
tempo, aumenta a demanda de independência. De crescer e de se
autorrealizar. De se afirmar e de “fazer carreira”. Objetivo ambicionado
por 41% dos mais jovens: quase 10 pontos a mais do que no início dos anos 2000.
Uma esperança que, para ser realizada, os leva a olhar – e ir – para outros
lugares.
Os
mais jovens, junto com os jovens-adultos, os millennials, são a geração
da rede [web], a geração mais globalizada. Acostumados a se comunicarem à
distância. E a se orientarem para “outros lugares”, sustentados pelos pais. E
pelos avós. Por isso, não conseguem fugir do sentimento de solidão, que paira
sobre toda a sociedade.
É
claro, os jovens-mais-jovens são sustentados e ajudados por redes de amigos
mais compactas. Mas os seus irmãos mais velhos, os jovens-adultos, a “geração do milênio”, sofrem mais do que os outros.
Na pesquisa Demos-Coop, 39% deles, quase
4 em cada 10, admitem “sentir-se sozinhos”. Por outro lado, a internet e as
mídias sociais permitem ficar sempre em contato com os outros. Os amigos. Mas é você, na frente da sua tela. Sozinho.
Ou no meio dos outros. A comunicar.
Sozinho. Com o seu smartphone.
Assim,
as paixões não se tornam “tristes”, mas mais mornas. Porque as próprias “fés”
empalidecem. E se perdem. A política:
não interessa mais a quase ninguém. Mesmo entre os mais jovens. Junto dos
quais o percentual que considera importante a política não vai além dos 14%.
Pouco acima da média geral. Estão longe os tempos da “contestação”. A própria
“geração do compromisso” – de 1968 – parece desiludida.
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ILVO DIAMANTI Sociólogo italiano - autor deste artigo |
Elisa Lello, em uma pesquisa publicada
há alguns anos, falou de uma Triste
gioventù [Triste juventude] (Ed. Maggioli, 2015). Em suma, não há mais fé. Especialmente entre os
mais jovens. Isso foi explicado por Franco
Garelli, estudioso das religiões muito reconhecido, em um texto de título
explícito: Piccoli atei crescono
[Pequenos ateus crescem] (Ed. Il Mulino, 2016).
A
pesquisa Demos-Coop confirma isso, já que a
religião é considerada importante apenas por 7% da “geração da rede”. Um
quarto, em comparação com a população como um todo. Menos de um terço em
relação a 2003.
Em
outras palavras, “não há mais religião”.
Especialmente entre os mais jovens. Assim, torna-se difícil sentir
“paixões”. Quentes e até mesmo tristes. Prevalece
o desencanto.
E
as paixões esfriam. Tornam-se mornas. Porém,
convém “crer” nos jovens. Porque, mesmo assim, mais do que todos os outros,
eles “creem” na Europa. Porque são o nosso futuro. E, mais do que todos os
outros, “creem” no futuro.
Traduzido
do italiano por Moisés Sbardelotto.
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