A verdade é a vítima no Brasil
Em vez dos militares
Janio de Freitas
Jornalista
O verdadeiro combate à corrupção só pode
ser feito
por gente honesta
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SERGIO MORO Ministro da Justiça e da Segurança Pública - governo Bolsonaro |
Ainda sem saber o que liga o
Exército ao bolsonarismo, estamos sob um teste novo do nosso futuro
democrático e das perspectivas do país. As consequências que o Poder Judiciário der às transgressões de Sergio Moro
vão indicar a determinação de sustentar o Estado de Direito ou a capitulação a
um vale tudo irremediável, escancarando o país, ainda mais, ao que nele
haja de pior.
Já era tempo de se vislumbrarem
alguns sinais nos níveis de responsabilidade legal e moral na aplicação de Justiça
e dos direitos civis. Ali não se ouve, não se vê, não se fala e, sobretudo, não
se age a respeito da conduta de Moro na Lava Jato.
Não fugiu a esse imobilismo o
requerido à Polícia Federal pela procuradora-geral Raquel Dodge: a
investigação pedida é sobre a obtenção das gravações e sua divulgação. Os alvos
verdadeiros são o jornalista Glenn Greenwald e o site The Intercept
Brasil.
A Polícia Federal é um departamento
sob controle de Moro no Ministério da Justiça (nome cada vez mais
impróprio). A primeira nomeação de peso desse novo ministro, na PF, foi para a
seção do Crime Organizado. Até poderia vir a calhar.
Não bastando, porém, que o
principal interessado seja o próprio ministro, seu nomeado foi um dos
delegados da Lava Jato que fizeram propaganda, pela internet, para Aécio Neves
na campanha de 2014 [Bela imparcialidade para um
delegado da Polícia Federal!!! Entende-se o motivo dos tucanos não estarem em
prisão!]. Pretendente a novo mandado, Raquel Dodge deixa bem claro o
limite de sua iniciativa quando, em relatório ao Supremo, opina contra habeas
corpus para Lula.
Não se ocupa da questão Lula,
propriamente, mas do intercâmbio de transgressões de Moro e Dallagnol. Tem
“manifesta preocupação com a circunstância” de que as mensagens “tenham sido
obtidas de maneira criminosa”. Dá essa “circunstância” como decisiva, mas vai
além.
Atenção a estes detalhes
Considera que “a autenticidade não
foi analisada e muito menos confirmada”, logo, as gravações não têm validade
processual. Mas, nesse caso, a afirmação de “maneira criminosa” de obtê-las
também não é válida: “não foi analisada e muito
menos confirmada”. E quem informou que a obtenção foi criminosa?
Ou o que, mais do que admissível probabilidade, prova essa “circunstância”?
A autenticidade das vozes e dos
diálogos de Moro e Dallagnol, no entanto, foi reconhecida por ambos. De
imediato. Bastou-lhes ouvi-los, para que saíssem só pela tangente, “não tem
nada de mais”, “isso é normal”, “não houve ilegalidade”. Nenhum
dos dois negou serem sua voz e suas palavras nem negou o diálogo. Haveria,
portanto, muito mais a ser pedido por Raquel Dodge. Mesmo na exótica situação
de fazê-lo ao gravado Moro.
Não há como ter dúvida honesta
sobre a autenticidade das gravações. Além disso, o site The
Intercept, sua seção Brasil e Greenwald fazem jornalismo sério.
Dúvida e honestidade de propósitos e métodos voltam-se para os setores que vão
dar, ou negar, as consequências apropriadas ao embuste praticado em nome da
Lava Jato.
O verdadeiro combate à corrupção só
pode ser feito por gente honesta, a Lava Jato não precisa das outras. Nem a
população precisa de mais gente a enganá-la e explorá-la.
Este é um momento de decisões
graves — o que é sempre perigoso no Brasil.
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