«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 6 de agosto de 2011

As preocupações erradas [Boa análise!]

Paul Krugman

Para reverter um desastre econômico, muitas pessoas terão de admitir que estiveram erradas e que precisam mudar imediatamente suas prioridades

A queda de mais de 500 pontos no índice Dow Jones na quinta-feira e a queda dos juros para patamares quase nunca vistos confirmaram a notícia: a economia não está se recuperando e Washington esteve se preocupando com os fatores errados. Não se trata apenas do fato de a ameaça de um duplo mergulho recessivo ter se tornado muito real: tornou-se agora impossível negar o óbvio, ou seja, que não estamos e nunca estivemos no caminho da recuperação.

Faz dois anos que os funcionários do Federal Reserve, das organizações internacionais e do governo Obama insistem que a economia estava saindo do buraco. Cada má notícia foi atribuída a fatores temporários. E o foco da política econômica foi desviado da criação de empregos e do crescimento para o problema da redução do déficit. Mas a economia não estava saindo do buraco. É verdade que a recessão chegou ao fim dois anos atrás e a economia escapou de uma derrapada assustadora. Mas em nenhum momento o crescimento se mostrou adequado levando-se em consideração a profundidade do mergulho inicial. Quando o desemprego aumenta tanto quanto o que vimos de 2007 a 2009, é preciso criar muitos empregos para compensar. E isso não ocorreu.

Levemos em consideração um indicador fundamental: a proporção empregada da população. Em junho de 2007, cerca de 63% da população adulta dos Estados Unidos estava empregada. Em junho de 2009, momento considerado o fim oficial da recessão, esse número tinha caído para 59,4%. Em junho de 2011, dois anos depois do início da suposta recuperação, esse número era de 58,2%.

Isso pode soar como uma estatística insossa, mas reflete uma realidade terrível. Além do grande número de americanos desempregados e subempregados, pela primeira vez desde a Grande Depressão muitos trabalhadores americanos estão enfrentando a perspectiva de um desemprego de prazo longuíssimo – talvez até permanente. Entre outras coisas, o aumento no desemprego de longo prazo vai reduzir a arrecadação fiscal futura do governo, de modo que não estamos agindo de maneira racional nem mesmo em termos puramente fiscais.

Mas o mais importante é que se trata de uma catástrofe humana.

Que motivo teríamos para nos mostrar surpresos com essa catástrofe? De onde o crescimento deveria vir? Os consumidores, ainda pressionados pelo fardo da dívida acumulada durante a bolha imobiliária, não estão prontos para gastar. As empresas não encontram motivos para a expansão diante da fraca demanda do consumidor. E, graças à obsessão com a questão do déficit, o governo, que poderia e deveria estar apoiando a economia nesse momento de necessidade, está cortando gastos.

E agora parece que tudo vai ficar pior. Qual seria a resposta possível? Para reverter este desastre, muitas pessoas terão de admitir que estiveram erradas e que precisam mudar suas prioridades. É claro que há aqueles que simplesmente não vão mudar. Os republicanos não vão parar de gritar a respeito do déficit porque nunca foram sinceros em relação a isso: sua preocupação com o déficit foi um porrete com o qual golpearam seus oponentes políticos.

Mas a desastrosa política econômica dos últimos dois anos não foi apenas o resultado do obstrucionismo do Partido Republicano, que não teria tanta força se a elite dos governantes – incluindo-se nela alguns nomes do governo Obama – não tivesse concordado que a redução do déficit, e não a criação de empregos, deveria ser nossa grande prioridade. E não devemos isentar Ben Bernanke e seus colegas. O Fed [Banco Central dos Estados Unidos] não fez tudo o que podia, parte por estar preocupado com uma inflação hipotética do que com o desemprego real, parte por ter se intimidado por tipos como Ron Paul.

Bem, é hora de dar um basta nisso tudo. Essa queda nos juros e no preço das ações diz que os mercados não estão preocupados com a solvência dos EUA e nem com a inflação. O que eles temem é a falta de crescimento nos EUA. E eles têm razão, mesmo que na quarta-feira o assessor de imprensa da Casa Branca tenha optado por declarar que não havia risco de um duplo mergulho recessivo. No início da semana, dizia-se que o governo Obama daria uma “guinada”, dedicando sua atenção à criação de empregos, agora, que o teto da dívida foi aumentado. Mas, ao que me parece, esta guinada consistiria apenas em propor medidas menores. E, a essa altura, propostas desse tipo só fariam o presidente Obama passar por ridículo.

A questão é que chegou a hora – já passa da hora – de tratar com seriedade a crise que a economia enfrenta. O Fed precisa parar de apresentar desculpas, e o presidente precisa elaborar verdadeiras propostas para a criação de empregos. E, se os republicanos vetarem tais propostas, ele precisa embarcar numa campanha contra a obstrução do Partido Republicano ao estilo daquela promovida por Harry Truman. Isso pode funcionar ou não. Mas os milhões de americanos que deveriam estar empregados – mas não estão – já sabem o que é que não está funcionando: a política econômica dos últimos dois anos.

TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL.

Fonte: O Estado de S. Paulo - Economia - Sábado, 6 de agosto de 2011 - Pg. B6 - Internet: http://blogs.estadao.com.br/paul-krugman/2011/08/06/as-preocupacoes-erradas/

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