«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Na mesa do Planalto, questões inquietantes


Washington Novaes*

Começa a aglomerar-se sobre a mesa da Presidência da República um complexo de problemas e equações econômicas, políticas e estratégicas - em muitos casos, contraditórias entre elas - de dificílima solução. E que lançam muitas perguntas sobre o futuro próximo e até de prazo maior.

O primeiro ponto parece estar na dificuldade de manter a aliança político-partidária que tem assegurado a permanência do esquema de poder do partido majoritário e o "aparelhamento" que o acompanha. Desde a campanha presidencial de 2002 - quando entendeu a ameaça que representava para sua candidatura a insatisfação dos setores e instituições internos e externos descontentes com as propostas de política econômica - a coalizão partidária liderada pelo PT definiu uma estratégia de política econômica da qual viria a ser o garantidor o ex-ministro Antônio Palocci. No quadro institucional interno, consolidou-se uma aliança multipartidária, com a repartição dos cargos de mais alto nível. E tudo isso permitiu levar adiante o barco durante oito anos.

Mas agora surgem muitos complicadores. O primeiro é a necessidade de "expurgar" o governo de aliados - ou até mesmo de membros exponenciais do partido dominante, como Palocci - por causa das acusações de improbidade. Como fazer isso sem romper alianças? Tem-se recorrido muito à mediação do ex-presidente - mas aí se esbarra em outra questão: como manter a imagem de uma presidente com pensamento, voz e ação próprios, ainda mais no quadro político brasileiro, em que a regra costuma ser a ruptura entre o eleito (em busca de autonomia e imagem próprias) e aquele que o escolheu para lhe suceder? Nesse quadro de difícil equilíbrio, como manter a maioria no Legislativo e assegurar a predominância política?

Tudo isso ocorre numa conjuntura político-econômica internacional que complica todo o panorama. As questões colocadas pela crise financeira global configuram outra equação inquietante. Reduzem-se impostos para assegurar a manutenção dos mercados interno e externo a vários setores (automobilístico, têxtil, calçados, móveis, etc.).

E imediatamente saltam sobre a mesa muitas perguntas:
  • vai-se continuar estimulando o transporte individual, em detrimento do coletivo, com todos os problemas e contradições que isso implica? E ainda sabendo que de janeiro a julho já foram vendidos 2,017 milhões de veículos e que 457,3 mil deles foram importados? 
  • Vai-se estimular mais poluição do ar (e mais problemas de saúde), mais adensamento do trânsito nas grandes cidades, mais necessidade de investimentos em infraestruturas viárias? 
  • Vai-se abrir mão de parcela importante da arrecadação de impostos no momento em que setores vitais como saúde, educação e ciência vivem à míngua? 
  • Vão-se dar mais argumentos a países, principalmente europeus, que veem nessas políticas subsídios a exportações brasileiras (de produtos industrializados e commodities agrícolas), vedados por convênios internacionais? 
  • Vai-se dar corda aos já presentes defensores de "cortes na Previdência" - sem cortar onde é preciso, e sim nos proventos de aposentados do setor privado? 
  • E que se fará com a política de juros, que, por manter a mais alta taxa real no mundo, transforma o País em refúgio de aplicações financeiras especulativas externas, com consequências complicadas no câmbio, na inflação, em tudo?

Mais ainda: e tudo se fará sem mexer realmente em nós fundamentais do comércio internacional, sem criar na proporção indispensável estímulos para a inovação, já que só 4,2% das empresas que inovam conseguem apoio público (Glauco Arbix e João Alberto Negri, Folha de S.Paulo, 4/8)? E sem benefícios diretos para o consumidor interno, pois mesmo com as isenções de impostos adotadas os preços por aqui não serão atingidos. E até montadoras de outros países se preparam para se virem beneficiar das novas condições internas.

Talvez, entretanto, o mais grave seja perceber que nesta hora grave não se percebem movimentos em direção a estratégias consentâneas com a conjuntura mundial. Já não há como fazer de conta que a crise não tem nada que ver com o "descolamento" entre os mercados financeiros e a realidade concreta. Pouco a pouco, muitos analistas vão chegando à questão central:

  • como manter equilíbrio, se a movimentação nos mercados financeiros chega a US$ 600 trilhões e o produto mundial está em torno de US$ 62 bilhões, um décimo daquele valor? 
  • Que garantias reais podem ter os papéis? 
  • Que fazer quando, em determinado momento, o equilíbrio aparente se rompe - como foi o caso de hipotecas de imóveis nos Estados Unidos, com suposto valor de mercado muitas vezes acima das garantias reais - e começa a arrastar para o despenhadeiro papel atrás de papel, país atrás de país?

Nesta hora, um país como o Brasil, com a relativa abundância de fatores concretos - território, recursos hídricos, biodiversidade, possibilidade de matriz energética renovável e "limpa" -, detém enorme vantagem comparativa, que, cedo ou tarde, pesará fortemente no quadro mundial. Mas neste mesmo momento se vê que o próprio Ministério de Minas e Energia tem de intervir para anular decisão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de reduzir a meta de produção de energia renovável no País (Folha de S.Paulo, 4/8). Era um órgão da própria cúpula caminhando contra o bom senso.

Tão grave quanto é tomar conhecimento de que o desmatamento na Amazônia continua a crescer e não ficará, neste novo período, em números menores que o dos 12 meses anteriores - e isso significa aumento das emissões brasileiras de gases que prejudicam o clima, pois desmatamento, queimadas e mudanças no uso do solo significam quase 60% das nossas emissões totais (e estamos entre os cinco maiores emissores do planeta).

O quadro sobre a mesa presidencial é muito inquietante. Resta ver que desdobramentos terá.

* JORNALISTA.

Fonte: O Estado de S. Paulo - Espaço Aberto - Sexta-feira, 12 de agosto de 2011 - Pg. A2 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,na-mesa-do-planalto-questoes-inquietantes,757597,0.htm

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