«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

''É a primeira crise que nasceu na periferia''


ENTREVISTA
Francisco de Oliveira


Cláudia Antunes

A crise econômica nos EUA e na Europa foi provocada pela "revolução" que China e Índia imprimiram ao capitalismo, provocando uma mudança na estrutura do poder econômico "sem paralelo na história", afirma o Francisco de Oliveira, professor emérito da USP. "É a primeira crise que nasceu na periferia."

Segundo ele, não há muito o que o governo brasileiro possa fazer para conter seus efeitos perigosos, como a valorização da moeda nacional. "É como colocar água em cesto", afirma o acadêmico marxista que foi um dos fundadores do PT, do qual se afastou no início do governo Lula.

Como o sr. analisa o estágio atual da crise econômica nos EUA e na Europa?

Esta crise é a primeira que não nasceu no centro, nasceu na periferia. Daí a dificuldade de tratá-la. Ela nasceu da revolução que a China e a Índia imprimiram ao capitalismo. Esses países colocaram no mercado uma força de trabalho que o Ocidente em toda a sua história não conseguiu botar. É uma revolução extraordinária. Como no filme "Melancolia" [de Lars von Trier], é como se viesse outro planeta e explodisse a Terra.

Essa mão de obra começou a competir com a do centro?

Compete, e tente você produzir tecidos no Brasil. Não consegue.

Muitos economistas dizem que a bolha de crédito que explodiu em 2008 veio da estagnação da renda dos trabalhadores. O crédito foi para que continuassem a consumir.

O crédito dado por quem? Pela China. A China empurra trilhões na economia americana. O Fed (banco central) tem que emprestar aquilo. Passa para o sistema bancário americano, o sistema bancário foi reduzindo as taxas de juros, e sucateando o crédito. Como a renda de fato não cresce, na verdade caiu na última década, você tem um problema clássico de realização de valor [quando o baixo consumo reduz o lucro obtido com a produção]. Estão jogando dinheiro nos EUA porque do contrário liquida tudo, mas a origem da crise é asiática, não é americana.

Então não tem solução para ela?

Não tem, mas vão continuar jogando dinheiro, apagando fogo com gasolina.

Há um debate sobre se a crise assinala a decadência dos EUA como centro capitalista. Qual a sua opinião?

Não assinala a decadência como centro, mas é uma enorme novidade histórica. A China não tem nenhum interesse em torrar os EUA. Eles têm o dinheirinho deles lá. Quem são os maiores aplicadores em bônus do Tesouro americano? Primeiro a China, com um volume extraordinário [US$ 2 trilhões], depois a Índia e depois o Brasil.
Os chineses não têm interesse em entrar em uma guerra comercial ou financeira com os EUA. Se os EUA entrarem em colapso, vai todo mundo. A solução financeira é para não deixar quebrar, mas a raiz dela é uma mudança na estrutura do poder econômico mundial que é sem paralelo na história.

Essa mudança ainda não tem correspondente em outras formas de poder?

Nem no poder político nem no militar. A China é um anão militar, embora esteja acelerando. E também não tem poder político. A época do expansionismo chinês, que deu origem ao PC do B no Brasil, por exemplo, acabou.

Mas a China acabou com os antigos paradigmas, não?

Eles contribuem para quebrar paradigmas, mas não têm um novo modelo. Vai haver, mas o desenho ainda está se formatando. Os chineses têm um relevo extraordinário aí, mas ninguém sabe o que é.

E como o Brasil fica nessa situação?

Não vai acontecer nada demais. Vão ser períodos mornos, dependendo desse arranjo que está se formatando.

O sr. não prevê um bang, uma explosão?

Não, se tiver é uma surpresa extraordinária. É uma coisa que vai ter surtos de crescimento, depois retrai, modera. O dramático é que o governo brasileiro fica quase sem ter o que fazer.

As últimas medidas contra a valorização do câmbio são um placebo?

Placebo. Apesar do esforço da Dilma, não tem o que fazer na economia. Qualquer esforço aí é jogar água em cesto.

Não tem meios de frear essa enxurrada de dólares?

Não. O Brasil fica se vangloriando de ter US$ 300 bilhões em reservas. Isso é uma bobagem. Num dia os EUA derretem isso. É briga de cachorro grande. Nós já passamos do nível de basset, agora somos um perdigueiro, por aí. Não chegamos a doberman não.

Fonte: FOLHA.COM - Mundo - 18/08/2011 - 03h30 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/961378-e-a-primeira-crise-que-nasceu-na-periferia-diz-francisco-de-oliveira.shtml

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