«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

A crise econômica brasileira - compreendendo melhor!

 O PIB EM CRISE, O MUNDO EM CRISE

WASHINGTON NOVAES
Washington Novaes - jornalista
Há uma intensa discussão em curso na qual o governo federal parece quase isolado em suas posições. É a respeito do ritmo descendente de crescimento do Produto Interno Bruto, o PIB, que no primeiro trimestre deste ano foi só 0,6% maior que o dos três meses anteriores. E levou várias instituições à previsão para o ano de um aumento de apenas 2,4%, quando se calculava antes 3% ou mais. A própria Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que calculava esse crescimento em 2013 na faixa dos 4%, agora baixou para 2,9%, e para 3,5% em 2014 (antes, 4,1%), segundo noticiou este jornal no dia 31/5. Diz o ministro da Fazenda que "criar empregos é mais importante que crescer o PIB". Segundo ele, "a crise não afetou a maioria da população".

É discutível. 
  • As faixas mais pobres no País cortaram em 11% suas compras de produtos básicos no primeiro bimestre do ano (Estado, 25/4). 
  • A inadimplência no País passou de 5,1%, no ano passado, para 6,49%, em abril deste ano (19/5); 
  • 18 milhões de pessoas trabalham sem carteira assinada e 15 milhões, por conta própria (IBGE, 1/5); 
  • 90 mil crianças de 5 anos a 9 anos trabalham, 1,1 milhão entre 9 anos e 14 anos também
  • Se forem adotados os critérios da ONU, praticamente todas as pessoas beneficiadas pelo Bolsa Família vivem "abaixo da linha da pobreza" (que é de US$ 2, ou pouco mais de R$ 4, por dia).
O pessimismo mais recente diante das estatísticas brasileiras avança também pela área da dívida nacional: 
  • pois chegaremos a um "rombo" nas contas externas equivalente a 3% do PIB (23/5). 
  • As estimativas para a dívida pública estão em R$ 1,95 trilhão, e 
  • ela exige juros de 9,74% ao ano (Agência Estado, 26/4), muitas vezes o gasto com todo o programa Bolsa Família.
E a fatia do Brasil no comércio mundial caiu de 1,4% para 1,3% (11/4), quando era de 1,5% em 1985. Segundo alguns economistas, há produtos que o Brasil vende hoje para o exterior a preços inferiores (corrigida a inflação) aos que vigoravam antes da grande depressão da década de 1930.

Praticamente não teríamos caminhado nada, apesar dos enormes incentivos fiscais e de outros tipos. E ainda hoje estaríamos patinando sem sair do lugar, ocupando o 22.º lugar no mundo entre os países exportadores. Mesmo com a Europa em recessão - PIB de menos 0,2% no primeiro trimestre, desemprego médio de 12,2%, mas de até 27% na Grécia e perto disso na Espanha, situação brutal entre os jovens (16/5).

Não bastasse tudo isso, muitos economistas - como já se tem comentado em outros artigos neste espaço - tratam, cada vez com mais frequência, da chamada "crise da finitude de recursos", o consumo global de materiais (7 toneladas por habitante/ano) acima da capacidade de reposição do planeta. E tende a se agravar, porque, com o incremento já previsto de pelo menos 2 milhões de pessoas até 2050, esse consumo, nos níveis atuais, chegaria a 65 bilhões de toneladas/ano. "O atual sistema no mundo está falido", já se manifestou há uns dois ano o Blue Planet, que reúne 20 cientistas ganhadores do Prêmio Nobel Alternativo. Na conferência Rio +20, o próprio secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, falou em "exaustão do sistema econômico e social" planetário.

E onde fica a saída? A própria Universidade da ONU apresentou, na Rio +20, seu estudo sobre um novo índice para calcular a situação de cada país, cada região: o Índice de Riqueza Inclusiva (Inclusive Wealth Report - IWR). Ele acrescenta aos fatores já avaliados pelo PIB e pelo Índice de Desenvolvimento Humano da própria ONU, por meio do Pnud - que inclui saneamento, expectativa de vida, educação e outros fatores -, a saúde, a segurança ambiental e os ganhos e perdas de recursos naturais nos ecossistemas. Por esse caminho, no estudo feito pela universidade para o período 1990/2008, a China, que teve crescimento econômico de 422%, o veria reduzido para 37% com as perdas de recursos naturais; o Brasil, em vez de crescimento de 37%, teria 13% no mesmo período. Se a questão central, como dizem economistas, está na crise de recursos materiais, o índice vem para o centro do palco. E a avaliação da situação brasileira não deve ficar restrita ao crescimento econômico. Tem de se deslocar para uma estratégia que leve em consideração o privilégio brasileiro em matéria de insolação permanente, recursos hídricos, biodiversidade e possibilidade de matriz energética "limpa" e renovável, com energia de hidrelétricas, eólica, solar, de marés, geotérmica e de biomassas (cana, dendê, pinhão manso e outras). É um alto privilégio e o será cada vez mais nos tempos difíceis em que navegamos no mundo.

Discute-se cada vez mais, entretanto, como mudar os modos de viver no mundo, torná-los compatíveis com os recursos disponíveis. E como fazer isso, se cada país encara a questão de uma forma diferente, cada empresa tem sua estratégia própria e diferenciada e até cada pessoa comporta-se de forma a atender a seus interesses específicos. Como chegar a uma estratégia global adequada, sem a adesão geral?

Como observa o respeitado Edgar Morin, "há alguns processos positivos, mas eles permanecem invisíveis ou são pontuais (...) O provável não é definido, permanece incerto (...) É preciso resistir e construir o improvável (...) O que é preciso reformar? As estruturas sociais e econômicas? Ou as pessoas e a moral? (...) Esses processos têm de vir juntos (...) A metamorfose é possível e torna possível criar um novo modo de desenvolvimento e um novo tipo de sociedade, que não podemos prever, mas que ultrapassa a expectativa dos indivíduos e da sociedade atual" (Le Monde Diplomatique, dezembro de 2012). Por isso tudo, Morin recomenda a todas as pessoas, estejam onde estiverem, que lutem "pelas mutações, quer elas tenham dimensão global ou local".

A briga não está confinada, portanto, ao crescimento econômico, ao PIB - embora suas múltiplas dimensões tenham de ser consideradas. Mas é preciso pensar muito além.

Fonte: O Estado de S. Paulo - Espaço aberto/Opinião - Sexta-feira, 7 de junho de 2013 - Pg. A2 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-pib-em-crise-o-mundo-em-crise,1039756,0.htm

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