ONDE ESTÁ O TERROR ECONÔMICO
Editorial - O Estado de S. Paulo
Continuam piorando as perspectivas da economia brasileira para este ano, segundo a pesquisa realizada semanalmente pelo Banco Central (BC) com cerca de cem instituições do mercado financeiro e do setor de consultoria.
Outros focos devem estar nas entidades representativas da indústria, em organizações acadêmicas, como a Fundação Getúlio Vargas (FGV), e até no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fontes de informações pouco animadoras sobre a evolução dos preços, a recuperação da atividade, o emprego industrial e a disposição dos empresários de se arriscar em novos investimentos.
Auxiliares próximos da presidente já identificaram uma crise de confiança. Evitam falar disso publicamente, mas já se esforçam para embelezar a imagem do governo. O Banco Central elevou os juros básicos, intensificando e tornando mais sério o combate à inflação, e seu presidente, Alexandre Tombini, promete agir sem restrições para conter a alta de preços. Não basta, no entanto, restabelecer a confiança na política monetária, quando o lado fiscal permanece uma barafunda.
O ministro da Fazenda promete alcançar a meta de superávit primário equivalente a 3,1% do PIB, enquanto o secretário do Tesouro desqualifica esse objetivo e o condiciona a uma estratégia de gastos anticíclicos. Mesmo a promessa do ministro pouco significa em termos de austeridade.
O governo ainda se mostra disposto a abater investimentos e desonerações da meta fiscal e anuncia, além disso, a intenção de incluir na conta receitas de concessões e os bônus do leilão de blocos do pré-sal. Usará, portanto, receitas eventuais para ajeitar uma contabilidade formada, em um dos lados, por despesas permanentes cada vez maiores.
Em 30 dias investidores de fora tiraram da Bovespa R$ 8 bilhões, reduzindo a R$ 3,4 bilhões o saldo de aplicações estrangeiras. A fuga de capitais tem afetado muitas economias emergentes e é motivada, na maior parte dos casos, pela perspectiva de uma política monetária menos folgada nos Estados Unidos e, portanto, de mudanças no mercado financeiro internacional.
Mas fatores internos também minam a confiança no Brasil e isso é reconhecido sem dificuldade entre especialistas. A Standard & Poor's já ameaçou rebaixar a classificação do Brasil. Há um sério risco de rebaixamento pelas agências de classificação até o começo de 2014, segundo informe do Banco Barclays divulgado em Nova York. O crescimento permanece baixo e a inflação continua alta, de acordo com o informe.
Mesmo no governo poucas pessoas parecem levar a sério a conversa sobre terrorismo econômico. O problema de credibilidade é reconhecido, mas a única mudança relevante, até agora, foi a da política monetária. Demonstrando mais preocupação com as eleições, a presidente Dilma Rousseff lançou mais um programa de estímulo ao consumo, o Minha Casa Melhor, apesar do comprovado fracasso dessa estratégia nos últimos dois anos e meio.
Os problemas de produção e de oferta, amplamente reconhecidos por especialistas como os mais importantes, continuam sendo atacados com ações desarticuladas, claramente improvisadas e de alcance limitado.
Além disso, o ativismo do governo - de fato, hiperativismo -, apontado como um dos fatores de desconforto e desconfiança do empresariado, tanto nacional quanto estrangeiro, será mantido, como deixou claro a ministra chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Eis aí uma promessa aterrorizante.
Fonte: O Estado de S. Paulo - Opinião - Terça-feira, 18 de junho de 2013 - Pg. A3 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,onde-esta-o-terror-economico-,1043737,0.htm
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Editorial - Folha de S. Paulo
Muda o clima político no país; governo Dilma não tem respostas para inflação nem para saúde, educação, segurança e transportes
No fim de semana em que teve início a Copa das Confederações, a programação de TV foi tomada por anúncios do programa Minha Casa Melhor, investida da presidente Dilma Rousseff para estancar a popularidade em queda. Trata-se de linha de crédito subsidiado, de até R$ 18,7 bilhões, para incentivar a compra de eletrodomésticos.
O benefício só está disponível para os mutuários do programa Minha Casa Minha Vida em dia com as prestações, num universo de 3,75 milhões de moradias já erguidas ou com construção prevista. Serão até R$ 5 mil por família para adquirir móveis, geladeiras, computadores e outros aparelhos.
Em quatro dias, 12 mil famílias assinaram contratos. Centenas de milhares se seguirão, com bons motivos para aplaudir o Planalto.
Todos os outros brasileiros, em contraste, veem sua capacidade de consumo estreitar-se de forma acelerada, sob o golpe duplo do aumento da inflação (que já corrói os salários) e dos juros (que deve onerar as compras a prazo). A errática política econômica do governo federal prejudica mais gente do que os favorecidos por suas iniciativas de transferência de renda.
Decerto as vaias recebidas pela presidente no estádio Mané Garrincha, sábado, não têm relação direta só com a deterioração das expectativas econômicas. Sempre haverá espectadores de futebol dispostos a apupar uma autoridade.
Dilma Rousseff resvalará para o autoengano, porém, se desconsiderar que as vaias vieram na semana em que se espalharam pelo país protestos contra altas de preços (tarifas de transportes) e contra o que alguns percebem como mau emprego de verbas públicas (nos eventos esportivos, entre outros).
É fato que, no terceiro ano de seu governo, são fortes os sinais de que se rompe a bolha de otimismo que levou Dilma ao Planalto.
A reação habitual da presidente tem sido aumentar a aposta, como no caso do Minha Casa Melhor. Estima-se que o programa possa exigir subsídio de até R$ 1 bilhão ao ano. Para custeá-lo, o governo recorrerá a mais endividamento público, com transferência de R$ 8 bilhões à Caixa Econômica Federal, a fundo perdido.
O total de crédito bancário para aquisição de bens (excluídos automóveis), hoje, está próximo a R$ 10 bilhões. Num passe de mágica, o programa quase triplica o valor. É um despropósito, num momento em que fomentar o consumo não parece mais capaz de estimular a atividade econômica de forma duradoura. Será apenas um alívio temporário para os setores contemplados, à custa de maior endividamento das famílias.
O que aflige os brasileiros é a perda de poder aquisitivo, com a inflação, e a incapacidade do Estado de apresentar soluções concretas para a crise nas áreas vitais de saúde, educação, segurança e transportes. Mais consumo e mais futebol não resolvem nada disso.
Fonte: Folha de S. Paulo - Opinião/Editoriais - Terça-feira, 18 de junho de 2013 - Pg. A2 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/114523-protestos-e-vaias.shtml
Sede do Banco Central do Brasil (Brasília) |
Continuam piorando as perspectivas da economia brasileira para este ano, segundo a pesquisa realizada semanalmente pelo Banco Central (BC) com cerca de cem instituições do mercado financeiro e do setor de consultoria.
- Os economistas aumentaram suas projeções de inflação, agora estimada em 5,83%,
- e reduziram as do crescimento econômico (2,49%),
- da produção da indústria (2,5%) e
- do saldo comercial (reduzido para pífios US$ 6,55 bilhões).
Outros focos devem estar nas entidades representativas da indústria, em organizações acadêmicas, como a Fundação Getúlio Vargas (FGV), e até no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fontes de informações pouco animadoras sobre a evolução dos preços, a recuperação da atividade, o emprego industrial e a disposição dos empresários de se arriscar em novos investimentos.
Auxiliares próximos da presidente já identificaram uma crise de confiança. Evitam falar disso publicamente, mas já se esforçam para embelezar a imagem do governo. O Banco Central elevou os juros básicos, intensificando e tornando mais sério o combate à inflação, e seu presidente, Alexandre Tombini, promete agir sem restrições para conter a alta de preços. Não basta, no entanto, restabelecer a confiança na política monetária, quando o lado fiscal permanece uma barafunda.
O ministro da Fazenda promete alcançar a meta de superávit primário equivalente a 3,1% do PIB, enquanto o secretário do Tesouro desqualifica esse objetivo e o condiciona a uma estratégia de gastos anticíclicos. Mesmo a promessa do ministro pouco significa em termos de austeridade.
O governo ainda se mostra disposto a abater investimentos e desonerações da meta fiscal e anuncia, além disso, a intenção de incluir na conta receitas de concessões e os bônus do leilão de blocos do pré-sal. Usará, portanto, receitas eventuais para ajeitar uma contabilidade formada, em um dos lados, por despesas permanentes cada vez maiores.
Em 30 dias investidores de fora tiraram da Bovespa R$ 8 bilhões, reduzindo a R$ 3,4 bilhões o saldo de aplicações estrangeiras. A fuga de capitais tem afetado muitas economias emergentes e é motivada, na maior parte dos casos, pela perspectiva de uma política monetária menos folgada nos Estados Unidos e, portanto, de mudanças no mercado financeiro internacional.
Mas fatores internos também minam a confiança no Brasil e isso é reconhecido sem dificuldade entre especialistas. A Standard & Poor's já ameaçou rebaixar a classificação do Brasil. Há um sério risco de rebaixamento pelas agências de classificação até o começo de 2014, segundo informe do Banco Barclays divulgado em Nova York. O crescimento permanece baixo e a inflação continua alta, de acordo com o informe.
Mesmo no governo poucas pessoas parecem levar a sério a conversa sobre terrorismo econômico. O problema de credibilidade é reconhecido, mas a única mudança relevante, até agora, foi a da política monetária. Demonstrando mais preocupação com as eleições, a presidente Dilma Rousseff lançou mais um programa de estímulo ao consumo, o Minha Casa Melhor, apesar do comprovado fracasso dessa estratégia nos últimos dois anos e meio.
Os problemas de produção e de oferta, amplamente reconhecidos por especialistas como os mais importantes, continuam sendo atacados com ações desarticuladas, claramente improvisadas e de alcance limitado.
Além disso, o ativismo do governo - de fato, hiperativismo -, apontado como um dos fatores de desconforto e desconfiança do empresariado, tanto nacional quanto estrangeiro, será mantido, como deixou claro a ministra chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Eis aí uma promessa aterrorizante.
Fonte: O Estado de S. Paulo - Opinião - Terça-feira, 18 de junho de 2013 - Pg. A3 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,onde-esta-o-terror-economico-,1043737,0.htm
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PROTESTOS E VAIAS
Editorial - Folha de S. Paulo
Presidente Dilma Rousseff ouve vaia durante partida de abertura da Copa das Confederações Estádio "Mané Garrincha" - Brasília (DF) |
No fim de semana em que teve início a Copa das Confederações, a programação de TV foi tomada por anúncios do programa Minha Casa Melhor, investida da presidente Dilma Rousseff para estancar a popularidade em queda. Trata-se de linha de crédito subsidiado, de até R$ 18,7 bilhões, para incentivar a compra de eletrodomésticos.
O benefício só está disponível para os mutuários do programa Minha Casa Minha Vida em dia com as prestações, num universo de 3,75 milhões de moradias já erguidas ou com construção prevista. Serão até R$ 5 mil por família para adquirir móveis, geladeiras, computadores e outros aparelhos.
Em quatro dias, 12 mil famílias assinaram contratos. Centenas de milhares se seguirão, com bons motivos para aplaudir o Planalto.
Todos os outros brasileiros, em contraste, veem sua capacidade de consumo estreitar-se de forma acelerada, sob o golpe duplo do aumento da inflação (que já corrói os salários) e dos juros (que deve onerar as compras a prazo). A errática política econômica do governo federal prejudica mais gente do que os favorecidos por suas iniciativas de transferência de renda.
Decerto as vaias recebidas pela presidente no estádio Mané Garrincha, sábado, não têm relação direta só com a deterioração das expectativas econômicas. Sempre haverá espectadores de futebol dispostos a apupar uma autoridade.
Dilma Rousseff resvalará para o autoengano, porém, se desconsiderar que as vaias vieram na semana em que se espalharam pelo país protestos contra altas de preços (tarifas de transportes) e contra o que alguns percebem como mau emprego de verbas públicas (nos eventos esportivos, entre outros).
É fato que, no terceiro ano de seu governo, são fortes os sinais de que se rompe a bolha de otimismo que levou Dilma ao Planalto.
A reação habitual da presidente tem sido aumentar a aposta, como no caso do Minha Casa Melhor. Estima-se que o programa possa exigir subsídio de até R$ 1 bilhão ao ano. Para custeá-lo, o governo recorrerá a mais endividamento público, com transferência de R$ 8 bilhões à Caixa Econômica Federal, a fundo perdido.
O total de crédito bancário para aquisição de bens (excluídos automóveis), hoje, está próximo a R$ 10 bilhões. Num passe de mágica, o programa quase triplica o valor. É um despropósito, num momento em que fomentar o consumo não parece mais capaz de estimular a atividade econômica de forma duradoura. Será apenas um alívio temporário para os setores contemplados, à custa de maior endividamento das famílias.
O que aflige os brasileiros é a perda de poder aquisitivo, com a inflação, e a incapacidade do Estado de apresentar soluções concretas para a crise nas áreas vitais de saúde, educação, segurança e transportes. Mais consumo e mais futebol não resolvem nada disso.
Fonte: Folha de S. Paulo - Opinião/Editoriais - Terça-feira, 18 de junho de 2013 - Pg. A2 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/114523-protestos-e-vaias.shtml
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