10º Domingo do Tempo Comum - Ano C - Homilia

Evangelho: Lucas 7,11-17 

Naquele tempo, 
11 Jesus dirigiu-se a uma cidade chamada Naim. Com ele iam seus discípulos e uma grande multidão. 
12 Quando chegou à porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único; e sua mãe era viúva. Grande multidão da cidade a acompanhava. 
13 Ao vê-la, o Senhor sentiu compaixão para com ela e lhe disse: “Não chores!” 
14 Aproximou-se, tocou o caixão, e os que o carregavam pararam. Então, Jesus disse: “Jovem, eu te ordeno, levanta-te!” 
15 O que estava morto sentou-se e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe.
16 Todos ficaram com muito medo e glorificavam a Deus, dizendo: “Um grande profeta apareceu entre nós e Deus veio visitar o seu povo”.
17 E a notícia do fato espalhou-se pela Judeia inteira, e por toda a redondeza.

JOSÉ ANTONIO PAGOLA
O SOFRIMENTO DEVE SER LEVADO A SÉRIO

Jesus chega a Naim quando, na pequena aldeia, se está vivendo um fato muito triste. Jesus vem pela estrada, acompanhado de seus discípulos e de uma grande multidão. Da aldeia sai um cortejo fúnebre a caminho do cemitério. Uma mãe viúva, acompanhada por seus vizinhos,  conduz ao enterro o seu único filho.

Em poucas palavras, Lucas nos descreveu a trágica situação da mulher. É uma viúva, sem esposo que cuide dela e a proteja naquela sociedade controlada por homens. Restava-lhe, somente, um filho, no entanto, este também acabara de morrer. A mulher não diz nada. Somente chora a sua dor. O que será dela?

O encontro foi inesperado. Jesus vinha anunciar, também em Naim, a Boa Notícia de Deus. Qual será a sua reação? Segundo o relato, "o Senhor a olhou, comoveu-se e lhe disse: Não chores". É difícil descrever melhor o Profeta da compaixão de Deus.

Não conhece a mulher, porém a olha cuidadosamente. Capta a sua dor e solidão, e se comove até as entranhas. O abatimento daquela mulher lhe chega até o íntimo. Sua reação é imediata: "Não chores". Jesus não pode ver ninguém chorando. Precisa intervir.

Não pensa duas vezes. Aproxima-se do caixão, detém o enterro e diz ao morto: “Jovem, eu te ordeno, levanta-te!”. Quando o jovem se reincorpora e começa a falar, Jesus "o entrega à sua mãe" para que pare de chorar. Novamente estão juntos. A mãe não estará mais sozinha.

Tudo parece simples. O relato não insiste no aspecto prodigioso do que Jesus acabara de fazer. Convida os seus leitores a verem nele a revelação de Deus como Mistério de compaixão e Força de vida, capaz de salvar, inclusive, da morte. É a compaixão de Deus que faz Jesus tão sensível ao sofrimento das pessoas.

Na Igreja devemos recuperar, o quanto antes, a compaixão como estilo de vida próprio dos seguidores de Jesus. Temos de resgatá-la de uma concepção sentimental e moralizante que a desprestigiou. A compaixão que exige justiça é o grande mandamento de Jesus: "Sede misericordiosos como vosso Pai  é misericordioso" (Lc 6,36).

Essa compaixão é hoje mais necessária do que nunca! A partir dos centros de poder, tudo é levado em conta menos o sofrimento das vítimas. Funciona como se não houvesse enlutados nem perdedores. Das comunidades de Jesus, deve-se escutar um grito de indignação absoluta: o sofrimento dos inocentes deve ser levado a sério; não pode ser aceito socialmente como algo normal, pois é inaceitável para Deus. Ele não quer ver ninguém chorando.

ANESTESIA

É incrível a necessidade que parece ter a nossa sociedade de exibir, tragicamente, o sofrimento humano nas primeiras páginas dos periódicos e nas telas de televisão.
A fotografia de uma mulher chorando seu marido soterrado numa mina, a imagem de uma criança agonizando de fome em algum país do Terceiro Mundo ou a de uns palestinos mortos a tiros em seu próprio campo de refúgio, são cotadas em muitos milhares de dólares.

Todos os dias lemos as notícias mais cruéis e contemplamos imagens de destruições em massa, assassinatos, catástrofes, mortes de vítimas inocentes, enquanto prosseguimos despreocupadamente nossa vida.
Dir-se-ia que até nos dão uma "certa segurança", pois nos parece que essas coisas sempre acontecem aos outros. No entanto, a nossa hora não chegou. Podemos continuar desfrutando de nosso fim de semana e fazendo planos para as férias de verão.

Quando a tragédia está mais próxima e o sofrimento afeta a alguém mais perto de nós, nos inquietamos mais, não nos sentimos cômodos, não sabemos como evitar a situação para poder encontrar, novamente, a tranquilidade perdida.

Porque, frequentemente, é isso o que buscamos. Recuperar nossa pequena tranquilidade. Às vezes, desejamos que desaparecessem a fome e a miséria no mundo. Porém, simplesmente, para que não nos molestem em demasia. Desejamos que ninguém sofra perto de nós, apenas porque não queremos ver ameaçada a nossa pequena felicidade diária.

De mil maneiras, nos esforçamos para evitar o sofrimento, anestesiar nosso coração diante da dor alheia e permanecer distantes de tudo aquilo que possa perturbar nossa paz.

A atitude de Jesus nos desmascara e revela que nosso nível de humanidade é terrivelmente baixo!
Jesus é alguém que vive com profunda alegria a vida de cada dia. Porém, sua alegria não é fruto de uma cuidadosa fuga do sofrimento próprio e alheio. Tem sua raiz na experiência alegre de Deus como Pai acolhedor e salvador de todos os homens.

Por isso, sua alegria não é uma anestesia que lhe impede de ser sensível à dor que lhe rodeia.

Quando Jesus vê uma mulher chorando a morte de seu filho único, não se desvia sorrateiramente em silêncio. Reage aproximando-se de sua dor como irmão, amigo, semeador de paz e de vida.

Em Jesus, os que creem vão descobrindo que somente quem tem capacidade de desfrutar profundamente do amor do Pai aos pequenos, tem condições de sofrer com eles e aliviar sua dor.

Quem segue os passos de Jesus, sempre será uma pessoa feliz, a quem faz falta, mesmo assim, a felicidade dos demais.

Tradução do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - Terça-feira, 4 de junho de 2013 - 10h43 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php

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