12º Domingo do Tempo Comum - Ano C - Homilia

Evangelho: Lucas 9,18-24

Certo dia, 
18 Jesus estava rezando num lugar retirado, e os discípulos estavam com ele. Então Jesus perguntou-lhes: “Quem diz o povo que eu sou?”
19 Eles responderam: “Uns dizem que és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que és algum dos antigos profetas que ressuscitou”.
20 Mas Jesus perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?”
Pedro respondeu: “O Cristo de Deus”.
21 Mas Jesus proibiu-lhes severamente que contassem isso a alguém. 
22 E acrescentou: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia”.
23 Depois Jesus disse a todos: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me. 
24 Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará”.

JOSÉ ANTONIO PAGOLA

QUEM TU ÉS PARA NÓS?

A cena é conhecida. Aconteceu nas proximidades de Cesareia de Filipe. Os discípulos, fazia já algum tempo, estavam acompanhando Jesus. Por que o seguem? Jesus quer saber que ideia eles fazem dele: "Vós, quem dizeis que eu sou?". Esta é, também, a pergunta que temos de fazer hoje. Quem é Jesus para nós? Que ideia fazemos dele? Seguimo-lo? 

Quem é, para nós, esse Profeta da Galileia, que deixou atrás de si não escritos, mas testemunhos? Não basta que lhe chamemos de "Messias de Deus". Devemos continuar dando passos pelo caminho aberto por ele, ascender também hoje o fogo que ele queria colocar no mundo. Como podemos falar tanto dele sem sentir sua sede de justiça, seu desejo de solidariedade, sua vontade de paz?

Aprendemos de Jesus a chamar Deus de "Pai", confiando em seu amor incondicional e em sua infinita misericórdia? Não basta recitar o "Pai-nosso". Temos de sepultar, para sempre, fantasmas e medos sagrados que se despertam em nós distanciando-nos dele. Temos de libertar-nos de tantos ídolos e falsos deuses que nos fazem viver como escravos.

Adoramos em Jesus o Mistério do Deus vivo, encarnado em meio de nós? Não basta confessar sua condição divina com fórmulas abstratas, alheias à vida e incapazes de tocar o coração dos homens e mulheres de hoje. Temos de descobrir em seus gestos e palavras, o Deus Amigo da vida e do ser humano. Não é esta a melhor notícia que podemos comunicar, hoje, àqueles que buscam caminhos para encontrar-se com ele?

Cremos no amor pregado por Jesus? Não basta repetir, vez ou outra, seu mandamento. Temos de manter sempre viva a sua inquietude por caminhar para um mundo mais fraterno, promovendo um amor solidário e criativo para os mais necessitados. O que aconteceria se, um dia, a energia do amor movesse o coração das religiões e as iniciativas dos povos?

Escutamos o mandamento de Jesus para sair ao mundo a fim de curar? Não basta pregar seus milagres. Hoje, também, devemos curar a vida como fazia ele, aliviando o sofrimento, devolvendo a dignidade aos perdidos, curando feridas, acolhendo os pecadores, tocando nos excluídos. Onde estão seus gestos e palavras de alento aos derrotados?

Se Jesus tinha palavras de fogo para condenar a injustiça dos poderosos de seu tempo e a mentira da religião do Templo, por que nós não sublevamos seus seguidores diante da destruição diária de milhares de pessoas mortas pela fome, desnutrição e nosso esquecimento?

O QUE TEMOS FEITO DE JESUS?

Às vezes, é muito perigoso sentir-se cristão "a vida toda". Porque corre-se o risco de não revisar, jamais, o nosso cristianismo e não entender que, definitivamente, todo o viver cristão não é senão um contínuo caminhar da incredulidade para a fé no Deus vivo de Jesus Cristo.

Frequentemente, cremos ter uma fé inabalável em Jesus porque o temos, perfeitamente, definido numa linguagem precisa e ortodoxa, e não nos damos conta de que, na vida cotidiana, o estamos continuamente desfigurando com nossas aspirações, interesses e covardias.

Confessamo-lo, abertamente, como Deus e Senhor nosso, porém, depois, ele não significa grande coisa nas formulações e atitudes que inspiram nossa vida.

Por isso, é bom que todos nós escutemos, sinceramente, a pergunta interpeladora de Jesus: "E vós, quem dizeis que eu sou?". Na realidade, quem é Jesus para nós? Que lugar ele ocupa em nossa vida diária?

Quando, em momentos de verdadeira graça, alguém se aproxima sinceramente ao Jesus do evangelho, encontra-se com uma pessoa viva e palpitante. Alguém que não é possível enquadrar numas categorias filosóficas, em fórmulas ou ritos. Alguém que nos leva às últimas profundezas da vida.

Jesus, "o Messias de Deus", coloca-nos diante de nossa última verdade e se converte, para cada um de nós, num convite alegre de mudança, conversão constante, busca humilde, porém, apaixonada de um mundo melhor para todos.

Jesus é perigoso. Nele descobrimos uma entrega incondicional aos homens que põe a nu o nosso radical egoísmo. Uma paixão pela justiça que sacode nossas seguranças, covardias e servidões. Uma fé no Pai que nos convida a sair de nossa incredulidade e desconfiança.

Jesus é a melhor coisa que nós cristãos temos. Aquele que pode infundir outro sentido e outro horizonte em nossa vida. Aquele que pode transmitir-nos outra lucidez e outra generosidade, outra energia e outra alegria. Aquele que pode comunicar-nos outro amor, outra liberdade e outro ser.

Porém, não nos esqueçamos de algo importante. Conhecemos Jesus, o experimentamos e nos sintonizamos com ele na medida em que nos esforçamos para segui-lo!

Tradução do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - Quarta-feira, 19 de junho de 2013 - 08h58 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php

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