«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 12 de abril de 2014

DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO - HOMILIA

Evangelho: Mateus 27,11-54

Para ler o texto evangélico, clique aqui.
JOSÉ ANTONIO PAGOLA

COMPROMETER A VIDA

Estamos tão familiarizados com a cruz do Calvário que não nos causa mais impressão alguma. O costume a domestica e “rebaixa” tudo. Talvez, esta semana de tão profundo significado para aqueles que têm fé, seja uma boa ocasião para recordar aspectos demasiado esquecidos de Jesus Crucificado.

Iniciemos por dizer que Jesus não morreu de morte natural. Sua morte não foi a extinção esperada de sua vida biológica. Mataram Jesus violentamente.

Não morreu, tampouco, vítima de um acidente casual nem fortuito, mas executado depois de um processo solene levado a cabo pelas forças religiosas e civis mais influentes daquela sociedade.

Sua morte foi consequência da reação que provocou com sua atuação livre, fraterna e solidária com os mais pobres e abandonados daquela sociedade.

Isso quer dizer que não se pode viver o evangelho impunemente. Não se pode construir o reino de Deus, que é reino de fraternidade, liberdade e justiça, sem provocar a rejeição e a perseguição daqueles aos quais não interessa mudança alguma. Impossível a solidariedade com os indefesos sem sofrer a reação dos poderosos.

Jesus se comprometeu a viver o amor ao homem até o final. E, justamente por isso, viu sua vida comprometida. Seu compromisso por criar uma sociedade mais justa e humana foi tão concreto e sério que até sua própria vida ficou comprometida.

E, no entanto, Jesus não foi um guerrilheiro nem um líder político nem um fanático religioso. Mas um homem no qual se encarnou e se fez realidade o amor ilimitado de Deus a todos os seus filhos.

Por isso, agora sabemos quais são as forças que se sentem ameaçadas quando o amor verdadeiro penetra numa sociedade, e como reagem violentamente tratando de suprimir e sufocar a atuação daqueles que buscam uma fraternidade mais justa e livre.

O evangelho sempre será perseguido por aqueles que colocam a segurança e a ordem legal acima da fraternidade e da justiça (farisaísmo).

O reino de Deus sempre se verá obstaculizado por toda força política que se entenda, a si mesma, como poder absoluto (Pilatos). A mensagem do amor será rejeitada em sua raiz por toda religião na qual Deus não seja Pai de todos (sacerdotes judeus).

O seguimento a Jesus conduz, sempre, à cruz. Implica disponibilidade para sofrer o conflito, a polêmica, a perseguição e, até, a morte.

Porém a ressurreição de Jesus nos revelará que este é o caminho de salvação e nos recordará algo que, tampouco hoje, devemos esquecer: não se salva o homem matando-o, mas morrendo por ele.

NADA PÔDE DETÊ-LO

Segundo uma ideia bem difusa entre o povo judeu, o destino que espera o profeta é a incompreensão, a rejeição e, em muitos casos, a morte. Provavelmente, Jesus contou, desde muito cedo, com a possibilidade de um final violento.

Jesus não foi um suicida nem buscava o martírio. Nunca quis o sofrimento nem para ele nem para ninguém. Dedicou sua vida a combater o sofrimento na enfermidade, nas injustiças, na marginalização ou na desesperança. Viveu dedicado a “buscar o reino de Deus e sua justiça”: esse mundo mais digno e feliz para todos, que busca seu Pai.

Se aceita a perseguição e o martírio é por fidelidade a esse projeto de Deus que não quer ver sofrer a seus filhos e filhas. Por isso, não pede pela morte, mas, tampouco, recua diante dela. Não foge diante das ameaças nem modifica ou suaviza a sua mensagem.

Teria sido fácil para ele evitar a execução. Bastaria ter se calado e não insistir no que poderia irritar o templo ou o palácio do prefeito romano. Não o fez. Seguiu seu caminho. Preferiu ser executado antes que trair sua consciência e ser infiel ao projeto de Deus, seu Pai.

Aprendeu a viver num clima de insegurança, conflitos e acusações. Dia após dia, foi reafirmando sua missão e continuou anunciando, com clareza, a sua mensagem. Atreveu-se a difundi-la não somente nas aldeias distantes da Galileia, mas nas perigosas proximidades do templo. Nada o deteve.


Morrerá fiel a Deus em quem sempre confiou. Continuará acolhendo a todos, inclusive os pecadores e indesejáveis. Se acabarem rejeitando-0, morrerá como um “excluído”, porém confirmará, com sua morte, o que foi sua vida inteira: confiança total num Deus que não rejeita nem exclui ninguém de seu perdão. 

Prosseguirá buscando o reino de Deus e sua justiça, identificando-se com os mais pobres e desprezados. Se um dia o executarem no suplício da cruz, reservado para escravos, morrerá como o mais pobre e desprezado, porém com sua morte selará para sempre sua fé num Deus que deseja a salvação do ser humano de tudo aquilo que o escraviza.

Os seguidores de Jesus descobrem o Mistério último da realidade, encarnado em seu amor e entrega extrema ao ser humano. No amor desse crucificado está o próprio Deus identificado com todos os que sofrem, gritando contra todas as injustiças e perdoando os algozes de todos os tempos. Neste Deus se pode crer ou não crer, porém não é possível escarnecer dele. Nele confiam os cristãos. Nada o deterá em seu empenho de salvar os seus filhos.

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: MUSICALITURGICA.COM – Homilías de José A. Pagola – Segunda-feira, 7 de abril de 2014 – 22h29 – Internet: clique aqui.

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