«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 5 de abril de 2014

Que poder real tem a sociedade?

Washington Novaes
Jornalista
Periferias - falta de saneamento básico

Dizem as últimas pesquisas de intenção de voto (Estado, 21/3) que "a maioria absoluta (56%) dos eleitores tem pouco ou nenhum interesse pelas eleições". E 64% "gostariam que o próximo presidente mudasse tudo ou muita coisa no governo". É um panorama muito preocupante. Porque ainda se pode agravar até a eleição, com vários fatores em cena - como a persistência da inflação, a economia em momento incerto, o quadro urbano sem perspectiva de melhoras, a violência em altos patamares, etc.
E por que não muda? Em entrevista recente na televisão, o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal - que tem rejeitado convites para ser candidato a presidente -, mencionou a "erosão das instituições" como centro da questão. Fez lembrar a interpretação de vários estudiosos, já citada aqui, de que "o Estado se tornou grande demais e não consegue aproximar-se dos problemas do cotidiano do cidadão comum, ao mesmo tempo que é pequeno demais para resolver as grandes questões em âmbito nacional ou planetário".
De fato. Quem pode conformar-se com o caos urbano, o déficit da área do lixo (260 mi toneladas diárias, com mais de metade dos municípios ainda levando os resíduos para lixões, segundo o Ipea), o déficit no saneamento (8% da população sem água potável nos domicílios, quase 40% sem ligação com redes de esgotos, só 38% dos esgotos coletados com tratamento), a violência em níveis alarmantes (32 homicídios por 100 mil habitantes, ante 2/100 mil na Grã-Bretanha, 5/100 mil nos Estados Unidos)? Mas o poder público só está investindo em saneamento menos de metade do que seria preciso para universalizar água e esgotos até 2023, como prometera. Os municípios, que já esgotam o prazo para apresentar planos diretores de resíduos a fim de se candidatarem a recursos federais, não o fizeram e querem prorrogação. E o Senado rejeitou em comissão o projeto de baixar para 16 anos a maioridade penal.
Enquanto isso, multiplicam-se os incentivos e isenções de impostos para os "grandes", ao mesmo tempo que o estoque do que a administração tem a receber (tributos atrasados, contribuições para a Previdência e outros itens) ultrapassa R$ 1 trilhão - quase 25% do produto interno bruto (Folha de S.Paulo, 15/3). Nove Estados, por exemplo, concederam em incentivos fiscais R$ 33 bilhões mais do que aplicaram em obras e serviços durante um ano. E isso na hora em que o governo federal destina a Estados amazônicos, para ajuda a centenas de milhares de desabrigados pelas inundações inéditas, irrisórios R$ 2 milhões.
Há quem pense com otimismo nas perspectivas brasileiras no comércio exterior. Mas a balança comercial está em déficit - US$ 6,2 bilhões em dois meses deste ano, segundo artigo do diplomata Rubens Barbosa neste jornal em 11/3 (Pg. A2) -, que pode aumentar, segundo a União Europeia, porque as exportações crescerão abaixo da média mundial nos próximos dois anos (Estado, 27/2). A Standard & Poor's rebaixou a nota brasileira em matéria de risco e pode fazê-lo novamente (25/3) - pelo menos é o que pensa o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola.
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No entender de analistas políticos, até aqui a visão da maioria da população quanto à administração pública tem sido influenciada pela ascensão de parcela importante das pessoas de menor renda à "nova classe média". A renda dos trabalhadores no País passou de 39% do PIB em 2002 para 48% este ano (23/3), aumentando seu consumo e o nível de atividade da indústria e do comércio. Há, entretanto, ameaças no horizonte, com o aumento do custo da cesta básica e sua repercussão em praticamente todas as áreas. Taxas de juros estão subindo. Nos últimos 12 meses, esse item pesou com R$ 256,6 bilhões nas contas públicas, ou 5,2% do PIB (O Globo, 8/3). E a dívida chega a R$ 1,67 trilhão.
Em sua primeira campanha eleitoral para a presidência dos Estados Unidos, Barack Obama teve como slogan principal a frase "yes, we can" ("sim, nós podemos"), que representava exatamente a convicção de que a sociedade conseguiria mudar, com seu voto, o panorama da política e da administração norte-americana. O eleitorado acreditou, apoiou, votou. Mas, ao que parece, as mudanças não ocorreram na medida desejada, mesmo num país de Primeiro Mundo com os recursos dos Estados Unidos. A oposição de parte decisiva do Congresso e de muitos dos setores mais poderosos da economia levou à queda de prestígio do presidente. Hoje às voltas também com um quadro internacional complexo e ameaçador.
Parece claro que em todos os lugares - não somos exceção - será preciso chegar aos caminhos de maior delegação de poder das áreas governamentais para a própria sociedade. Já tem sido mencionada neste espaço, por exemplo, a possibilidade de se criarem conselhos de cidadãos que concebam e acompanhem a execução de todo o orçamento (em subprefeituras, por exemplo), fiscalizem a execução, punam quem não respeitar. Só que as corporações políticas têm demonstrado repúdio total e silêncio, na melhor das hipóteses, a propostas nessa direção, como já ocorreu na Câmara Municipal paulistana. Que dirá em outras áreas mais complexas ainda.
É preciso não esquecer que existe a possibilidade de o nosso quadro interno tornar-se mais problemático. De o panorama econômico ser menos favorável, como tantos analistas admitem. De as condições climáticas continuarem difíceis e influírem em setores como o da cesta básica, ou o dos exportações, ou nas condições de vida das populações, especialmente nas cidades maiores. E ainda, em função desses fatores, ou de protestos mais amplos (que a própria Copa do Mundo pode favorecer), enfrentarmos momentos sociais complicados, com repercussões políticas.
Não se trata de pessimismo, apenas de cautela. E da necessidade de conceber rumos adequados para o País.
Fonte: O Estado de S. Paulo - Espaço aberto - Sexta-feira, 4 de abril de 2014 - Pg. A2 - Internet: clique aqui.

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