«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

O Papa e o filósofo

Sandro Magister
Chiesa
31-03-2014
Alberto Methol Ferré - filósofo uruguaio
Seu nome é Alberto Methol. É nele que Bergoglio se inspira para julgar o mundo e enfrentar a nova cultura dominante: “o ateísmo libertino”

No encontro que aconteceu há poucos dias com Barack Obama, o Papa Francisco não se omitiu de falar das divergências que existem entre a Administração estadunidense e a Igreja desse país sobre questões candentes como “os direitos à liberdade religiosa, à vida e à objeção de consciência”. E o fez ressaltar no comunicado que foi publicado depois da conversa.

Jorge Mario Bergoglio não gosta do confronto direto e público com os poderosos do mundo. Deixa agir os episcopados locais. Mas, quando discorda, não se furta de assinalar seu distanciamento. Na foto dos encontros oficiais aparece com o rosto sério, apesar dos exagerados sorrisos do seu interlocutor de momento, neste caso o chefe da maior potência do mundo.

Não poderia agir de outro modo, dado o julgamento radicalmente crítico que o Papa Francisco alimenta dentro de si, sobre os atuais poderes mundanos.

É um julgamento que ele jamais explicitou de forma completa. Mas o deixou entrever muitas vezes, por exemplo, com sua frequente referência ao diabo como grande adversário da presença cristã no mundo, que vê trabalhando por trás dos poderes políticos e econômicos. Ou antes, quando ataca – como na homilia de 18 de novembro de 2013 – o “pensamento único” que quer subjugar toda a humanidade, mesmo que seja ao preço de “sacrifícios humanos”, com numerosas “leis que o protegem”.

Bergoglio não é um pensador original. Um dos seus parâmetros de referência, a que remete não poucas vezes, é o romance apocalíptico O Senhor do Mundo, de Robert Hugh Benson, um convertido no começo do século XX, filho de um arcebispo anglicano de Canterbury.
 
Encontro entre Papa Francisco e Barack Obama (Presidente dos EUA)
Vaticano,  27 de março de 2014
Mas na origem do julgamento de Bergoglio sobre o mundo de hoje está sobretudo um filósofo.

Seu nome é Alberto Methol Ferré. Uruguaio de Montevidéu, atravessava com frequência o Rio da Prata para ir a Buenos Aires e encontrar-se com seu amigo arcebispo. Faleceu aos 80 anos, em 2009. Mas foi reeditado na Argentina e agora também na Itália um livro-entrevista seu de 2007, que é de importância capital para compreender não apenas sua visão de mundo, mas também a de seu amigo que depois se converteria em Papa.

Ao apresentar a primeira edição deste livro em Buenos Aires, Bergoglio o elogiou como um texto de “profundidade metafísica”. E em 2011, no prefácio a outro livro de um grande amigo de ambos – Guzmán Carriquiry Lecour, uruguaio, secretário da Pontifícia Comissão para a América Latina, o leigo com o cargo mais elevado no Vaticano – também Bergoglio tributou seu reconhecimento ao “genial pensador rioplatense” por ter desnudado a nova ideologia dominante, depois da queda dos ateísmos messiânicos de inspiração marxista.

É a ideologia que Methol Ferré chamava de “ateísmo libertino”, e que Bergoglio descrevia dessa maneira: “O ateísmo hedonista, junto com seus ‘complementos da alma’ neognósticos, tornou-se a cultura dominante, com projeção e difusão globais, convertido em atmosfera do tempo presente, em novo ‘ópio do povo’. O ‘pensamento único’, além de ser social e politicamente totalitário, tem estrutura gnóstica: não é humano; reedita as variadas formas de racionalismo absolutista com que culturalmente se expressa o hedonismo niilista a que se refere Methol Ferré. Domina o ‘teísmo nebuloso, um teísmo difuso, sem encarnação histórica; no melhor dos casos, o criador do ecumenismo massônico”.

No livro-entrevista que agora foi reeditado, Methol Ferré sustenta que o novo ateísmo “mudou radicalmente de figura. Não é messiânico, mas libertino; não é revolucionário no sentido social, mas cúmplice do status quo; não se interessa pela justiça, mas sobretudo por aquilo que permite cultivar um hedonismo radical. Não é aristocrático, mas se transformou em um fenômeno de massas”.

Mas talvez o elemento mais interessante de Methol Ferré esteja na resposta que ele dá ao desafio colocado pelo novo pensamento hegemônico: “Foi o que aconteceu com a Reforma Protestante, depois com o Iluminismo secular, e na sequência com o marxismo messiânico. Poderíamos dizer que se vence um inimigo assumindo o melhor de suas intuições e indo além delas”.

E qual é, na sua opinião, a verdade do ateísmo libertino?

“A verdade do ateísmo libertino é a percepção de que a existência tem um íntimo destino de gozo, que a própria vida é feita para uma satisfação. Em outras palavras: o núcleo profundo do ateísmo libertino é uma necessidade recôndita de beleza”.

Certamente, o ateísmo libertino “perverte” a beleza, porque a “divorcia da verdade e do bem, da justiça”. Mas – adverte Methol Ferré – “não se pode resgatar o núcleo de verdade do ateísmo libertino com argumentos ou com uma dialética; e menos ainda com proibições, disparando alarmes ou ditando regras abstratas. O ateísmo libertino não é uma ideologia; é uma prática. A uma prática é necessário opor outra prática; uma prática consciente de si mesma, bem entendido, isto é, intelectualmente bem preparada. Historicamente, a Igreja é o único sujeito presente na cena do mundo contemporâneo capaz de fazer frente ao ateísmo libertino. Na minha opinião, apenas a Igreja é verdadeiramente pós-moderna”.

É impressionante a sintonia entre esta visão de Methol Ferré e o pontificado de seu discípulo Bergoglio, com sua recusa “da transmissão desarticulada de uma multidão de doutrinas que se impõem com insistência” e que insiste em uma Igreja capaz de “fazer arder o coração”, de curar todo tipo de doença e ferida e de restabelecer a felicidade.

A tradução é de André Langer.


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quinta-feira, 3 de abril de 2014 – Internet: clique aqui. 

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