16º Domingo do Tempo Comum – Ano A – Homilia

Evangelho: Mateus 13,44-52

Clique sobre a imagem, abaixo,
para assistir à narração do Evangelho deste Domingo:


José Antonio Pagola
Biblista e teólogo espanhol

A DECISÃO MAIS IMPORTANTE

O evangelho reúne duas breves parábolas de Jesus com uma mesma mensagem. Em ambos os relatos, o protagonista descobre um tesouro enormemente valioso ou uma pérola de valor incalculável. E os dois reagem do mesmo modo: vendem, com alegria e determinação, o que têm, e ficam com o tesouro ou a pérola. Segundo Jesus, assim reagem os que descobrem o Reino de Deus.

Ao que parece, Jesus teme que as pessoas o sigam por interesses diversos,
sem descobrir o mais atraente e importante:
esse projeto apaixonante do Pai, que consiste em conduzir a humanidade
para um mundo mais justo, fraterno e feliz,
encaminhando-o, desse modo, para a sua salvação definitiva em Deus.

O que podemos dizer, hoje, depois de vinte séculos de cristianismo? Por que tantos cristãos bons vivem fechados na sua prática religiosa com a sensação de não ter descoberto nela nenhum “tesouro”? Onde está a raiz última dessa falta de entusiasmo e alegria em não poucos âmbitos da nossa Igreja, incapaz de atrair para o núcleo do Evangelho a tantos homens e mulheres que se vão afastando dela, sem renunciar por isso a Deus nem a Jesus?

Depois do Concílio [Vaticano II], o papa Paulo VI fez esta afirmação categórica: “Só o Reino de Deus é absoluto. Tudo o mais é relativo”. Anos mais tarde, o papa João Paulo II reafirmou-o dizendo: “A Igreja não é ela o seu próprio fim, pois está orientada para o Reino de Deus do qual é gérmen, sinal e instrumento”. Papa Francisco vem repetindo: “O projeto de Jesus é instaurar o Reino de Deus”.

Se essa é a fé da Igreja, por que há cristãos que nem sequer ouviram falar deste projeto que Jesus chamava “Reino de Deus”? Por que não sabem que a paixão que animou toda a vida de Jesus, a razão de ser e o objetivo de toda a sua atuação, foi anunciar e promover esse projeto humanizador do Pai: buscar o Reino de Deus e a sua justiça?

A Igreja não pode renovar-se desde a sua raiz se não descobre este “tesouro” do Reino de Deus. Não é a mesma coisa: chamar os cristãos a colaborar com Deus no seu grande projeto de fazer um mundo mais humano, e viver distraídos em práticas e costumes que nos fazem esquecer o verdadeiro núcleo do Evangelho.

O Papa Francisco nos diz que “o Reino de Deus nos chama”. Este grito nos chega a partir do próprio coração do Evangelho. Temos que escutá-lo. Seguramente, a decisão mais importante que temos de tomar hoje na Igreja e nas nossas comunidades cristãs é a de recuperar o projeto do Reino de Deus com alegria e entusiasmo.
Encontrando o Reino 
José María Castillo
Teólogo espanhol

O QUE PREENCHE O SER HUMANO

A primeira dessas parábolas compara a oferta de Jesus, o reinado de Deus, com um tesouro. Um tesouro tão valioso e que seduz tanto e produz tanta alegria, que aquele que o encontra, esquece-se de tudo o que tem, abandona tudo e vê nesse tesouro a única coisa que vale a pena neste mundo.

Como é lógico, isto quer dizer que quem encontra Jesus e sua mensagem, por esse motivo, muda radicalmente de vida. Uma novidade assim, não pode ser nem a prática religiosa, nem, muito menos, as obrigações que impõe a religião. Nem sequer, as promessas de felicidade para a outra vida. Nada disso é – para a grande maioria das pessoas – um tesouro que muda a forma de viver. A crença em uma esperança (incerta? insegura?) de futuro, normalmente, não modifica o presente visível, tangível.

O mesmo se deve dizer da pérola. No fundo, é a mesma comparação formulada com outras palavras. O que podem expressar o «tesouro» e a «pérola»?

Somente o que mais preenche os seres humanos:
um ambiente humano de respeito, tolerância, estima, carinho e segurança,
no qual damos felicidade e recebemos felicidade,
com a convicção de que isso é (e será) para sempre.

Somente isso pode significar o que, tal como são os humanos, Jesus oferece e afirma.

A comparação da rede e a separação última e definitiva dos peixes abre o horizonte das promessas de Jesus de tal maneira, que transcende todas as limitações inerentes à condição humana. A intenção de Mateus, ao colocar aqui esta comparação, é pôr uma «sentinela no horizonte» (Paul Ricoeur) último de todo o meramente humano, para superá-lo e transcendê-lo além de quanto nos atrevemos a imaginar ou suspeitar os mortais.

Em suma, a garantia mais segura de que o Evangelho está presente na vida é que essa nossa vida progrida e funcione impregnada de alegria pelo fato de ter conhecido e encontrado Jesus e seu Evangelho.

Traduzido do espanhol por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fontes: PAGOLA, José Antoni0. La Buena Noticia de Jesús – Ciclo A. Boadilla del Monte (Madrid): PPC, 2016, páginas 191-193; CASTILLO, José María. La religión de Jesús: comentario al Evangelio diário 2020. Bilbao: Desclée De Brouwer, 2019, páginas 266-267.

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