«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 10 de julho de 2020

O “vale-tudo” está acabando

A era do “vale-tudo” nas redes sociais 
está acabando

Jordi Pérez Colomé

Decisões importantes do Youtube, Facebook, Reddit e Twitch demonstram que não é mais permitido todo discurso político
 Facebook: um mapa das redes de ódio - Outras Palavras
Nos últimos dias houve novidades impactantes para o futuro das redes sociais. Nenhuma decisão por si só é brutalmente inovadora. Mas seu fluxo incessante indica o caminho que as redes adotaram: o discurso de ódio não é permitido e a linha vermelha ficará cada vez mais clara. A guerra sobre onde está o limite marcará o futuro da Internet.

Em ordem de importância, as decisões foram estas quatro:

Primeiro, o Twitch removeu temporariamente o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de sua plataforma. O Twitch é uma rede de transmissões ao vivo dedicadas principalmente a videogames. Mas seu crescimento é contínuo e os streamings são cada vez mais variados. O conteúdo que aparentemente provocou a suspensão temporária de Trump é um streaming de um comício dele em 2015, no qual dizia que o México estava enviando estupradores para os Estados Unidos, além de outros comentários racistas em um recente comício em Tulsa, Oklahoma.
Twitch baniu o presidente Donald Trump por disseminação de ódio ...
Twitch baniu Donald Trump devido aos seus discursos de ódio e preconceito

O Twitch parece que passou a levar a sério as repetidas acusações de mulheres de que permite o assédio em sua plataforma. A importância primordial da decisão do Twitch é que cancelou a voz do presidente dos Estados Unidos. Outras redes sempre optam por mantê-lo, com a desculpa do discurso político e de sua importância informativa, na melhor das hipóteses chamando a atenção com avisos ao lado de suas mensagens. O Twitch, de propriedade de Jeff Bezos, com quem Donald Trump tem uma relação complicada, foi um passo além.

A decisão do Twitch se soma à do Snapchat no início de junho, quando decidiu deixar a conta de Trump intacta, mas não a destacar mais em sua página principal, para impedir que seus comentários promovam violência.

O segundo é o Reddit, que removeu mais de 2.000 comunidades de sua plataforma por promoverem discurso de ódio. O motivo foi a atualização de suas políticas: “A regra 1 estabelece explicitamente que as comunidades e os usuários que promoverem o ódio baseado em identidade ou em vulnerabilidade serão suprimidos”. O Reddit é uma rede social estruturada em torno de milhares de comunidades de interesse às quais os usuários se unem ― de questões políticas a peculiaridades como bricolagem, culinária ou arquitetura ― e que têm seus próprios moderadores voluntários.
All of /r/all is just /r/the_donald for me... : bugs 
Desde a sua criação, em 2005, o Reddit se caracterizava como um dos fóruns mais transgressivos da Internet. Isso acabou. O Reddit agora baniu canais que violam sua nova norma de ódio, de todas as ideologias, mas um se destaca: r/The_Donald. Chama-se assim por seu apoio ao presidente. O Reddit tentou, durante anos, sem sucesso, fazer com que os moderadores do r/The_Donald restringissem os posts ao que é permitido. As punições e sanções da empresa contra a comunidade fizeram com que os usuários mais ativos migrassem para um fórum próprio: TheDonald(.)win.

Terceiro, o Facebook designou o movimento Boogaloo como uma “organização perigosa”, o que resulta em ações contra seus promotores. A empresa excluiu 220 contas do Facebook, 95 contas do Instagram, 28 páginas do Facebook e 106 grupos, além de outros 400 grupos e 100 páginas vinculadas.

O Boogaloo é uma dessas coisas impossíveis que não existiriam sem a Internet. O nome vem de um filme dos anos 80 e era usado em fóruns remotos como 4chan e 8chan. Seus membros são aparentemente filiados à tradição de milícias armadas nos Estados Unidos e sua suposta intenção é provocar uma segunda guerra civil nos Estados Unidos. No final de maio, um extremista que dizia pertencer ao grupo matou um policial em Oakland, Califórnia. Seu local preferido de coordenação era supostamente o Facebook.
bellingcat - The Boogaloo Movement Is Not What You Think - bellingcat
Membro do Movimento Boogaloo 

Parece natural para o Facebook perseguir grupos que usam sua plataforma para matar policiais, mas o Boogaloo é um desafio em si mesmo. Seu esquema de organização consiste em usar outros nomes como referência, dissimular suas opiniões e enganar a rede. O esforço que o Facebook deverá dedicar à caça de grupos organizados para combater ferramentas de inteligência artificial que eles adotam será enorme e uma novidade.

Quarto, o YouTube fechou alguns canais que considerava racistas. De novo, não é a primeira vez. Mas seus tentáculos se expandem. Um dos canais é de Stefan Molyneux, que lamentou no Twitter a “censura” imposta pela plataforma. Para gente como ele, o desaparecimento do YouTube pode causar problemas de subsistência. A possibilidade de crescimento que o YouTube lhe dava é difícil de encontrar em outro lugar. Molyneux tentou o Twitch, com pouco sucesso. A personalidade e os usuários de cada rede são únicos.
 △ Youtube Bans St𝑒fan Molyn𝑒ux!!! △ My Thoughts! 👁️ - YouTube
A Internet não é mais a mesma

Estas medidas são importantes por vários motivos, mas há um mais do que evidente: a Internet não é mais o espaço livre e aberto onde todos nós nos conectamos com todos, sem que ninguém intervenha. Isso pode continuar a ser feito, é claro: na maioria dos países, ninguém impede a abertura de um site nem que se conte a barbaridade que se desejar, desde que isso não seja um crime. O problema será como ficar conhecido, disseminar e propagandear esse conteúdo.

As principais plataformas são aquelas onde as pessoas estão. Um grupo de fanáticos poderá continuar criando seu fórum supremacista na Internet, mas como recrutarão novos usuários? Onde encontrarão milhões de almas cândidas dispostas a rir de seus memes agressivos? O r/The_Donald se beneficiava da página inicial do Reddit ― “a capa da Internet” ― que milhões de pessoas acessavam para ver o que estava acontecendo, qual era a tendência. Ali, as piadas poderiam atrair a atenção de usuários que acabariam entrando no r/The Donald para ver o que mais havia. Agora, The_Donald é um site na Internet. Lá podem conversar, rir e se organizar, até crescer, mas devagar. Eles não têm mais um lugar fácil para recrutar adeptos.

O pesquisador Savvas Zannettou, do Instituto Max Planck, de Berlim, analisou a influência na conversa na Internet do antigo canal r/The_Donald no Reddit. Era impactante. Agora ele se empenha em analisar como o fim de sua relação com o Reddit repercutiu no peso desse grupo. A investigação não está terminada, mas ele é cético: “Nossos resultados preliminares mostram que apenas uma fração dos usuários ativos no r/The_Donald migrou para a nova casa, mas esses usuários estão mais ativos agora do que quando estavam no Reddit”, explica. Embora o trabalho não esteja concluído, a intuição de Zannettou indica que seu peso caiu. “Suspeito que a influência da nova casa será substancialmente menor em comparação com a anterior, pois agora eles têm plataforma/fórum próprios e não podem facilmente alcançar o grande número de usuários que passavam pelo Reddit”, acrescenta.
Steve Huffman – Wikipédia, a enciclopédia livre
STEVE HUFFMAN
Fundador e Diretor-Geral do Reddit

O nervosismo do ano eleitoral nos Estados Unidos, a pressão desencadeada pelo movimento Black Lives Matter e as evidências, com a pandemia, de que as informações que circulam nas redes têm consequências reais facilitaram a absorção dessas decisões. Mas é uma tendência que parece clara há anos. O fundador e CEO do Reddit, Steve Huffman, refletiu no The New York Times sobre sua mudança de opinião: “Quando começamos o Reddit, há 15 anos, não proibíamos coisas. E era fácil, como para muitas outras pessoas, dizer coisas assim porque, primeiro, eu tinha crenças políticas muito mais rígidas, e segundo, me faltava perspectiva e experiência do mundo real”, diz ele. A tradução é simples: os fundadores dessas redes não são mais tão jovens e viram que as consequências de permitir tudo são extraordinárias.

Mas Huffman prossegue: “Aqui estamos agora, acreditando que a liberdade de expressão é muito importante e que é uma das coisas que torna o Reddit especial, mas, ao mesmo tempo, vendo que permitir tudo é trabalhar contra a nossa missão”. Até agora, a linha vermelha do que as redes permitiam era feita de tinta borrada e desgastada, mas, com o tempo, está se tornando um muro sólido para deixar de fora o que acreditam ser ódio, assédio e violência. Parece uma decisão lógica e fácil, mas há tribunais que discutem os limites há décadas.

Fonte: El País – Tecnologia – Segunda-feira, 06 de julho de 2020 – Publicado às 22h03 (Horário de Brasília – DF) – Acesso em 09/07/2020 – Internet: clique aqui.

Enquanto isso... Aqui no Brasil

Facebook derruba rede de perfis falsos ligada a funcionários dos gabinetes da família Bolsonaro

Bruno Romani, Camila Turtelli e Julia Lindner

Plataforma anuncia retirada de páginas e contas de desinformação
e perfis falsos vinculados a integrantes dos gabinetes do
presidente e familiares, além de políticos do PSL
Tércio Arnaud Thomaz, assessor de Bolsonaro, é banido pelo ...
TERCIO ARNAUD THOMAZ & JAIR BOLSONARO

O Facebook anunciou nesta quarta-feira, 8 de julho, que derrubou uma rede de contas e perfis falsos ligados a integrantes do gabinete do presidente de Jair Bolsonaro, a seus filhos, ao PSL e aliados. Foram identificados e removidos:
* 35 contas,
* 14 páginas e
* 1 grupo no Facebook e
* 38 contas no Instagram.

O material investigado pela plataforma identificou pelo menos cinco funcionários e ex-auxiliares que disseminavam ataques a adversários políticos de Bolsonaro. Nessa lista está Tercio Arnaud Thomaz, que é assessor do presidente e integra o chamado “gabinete do ódio”, núcleo instalado no terceiro andar do Palácio do Planalto.
[Espera aí! Quer dizer que essa pessoa ganha dinheiro do povo brasileiro, pago em impostos, para ficar atacando gente e disseminando o ódio e a divisão em nome de... Jair Bolsonaro?! – Simplesmente, criminoso!]

A existência do “gabinete do ódio” – que mantém um estilo beligerante nas redes sociais e é comandado pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) – foi revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo em setembro do ano passado.

Os citados negaram irregularidades e classificaram a medida como arbitrária. O PSL disse que as contas são de responsabilidade dos parlamentares e não possuem relação com o partido.
Carlos se refere a fake news como 'lixo'
CARLOS BOLSONARO
O arquiteto e responsável pelo "Gabinete do Ódio" - segundo os entendidos

Um dos funcionários envolvidos nessa rede identificada pelo Facebook trabalhava para Carlos Bolsonaro, filho do presidente. Outro funcionário identificado é contratado do deputado estadual pelo PSL de São Paulo Coronel Nishikawa.

As páginas no Facebook tinham 883 mil seguidores, enquanto as contas no Instagram, 917 mil seguidores. Além disso, 350 pessoas estavam no grupo. A página “Bolsonaro Opressor 2.0” foi identificada à conta @bolsonaronewsss, que estava sob administração de Tercio.

A rede de fake news derrubada pelo Facebook também inclui os deputados estaduais Anderson Moraes e Alana Passos, ambos do PSL do Rio.

Em maio, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes apontou indícios de que um grupo de empresários atuava de maneira velada financiando a disseminação de fake news e conteúdo de ódio contra integrantes da Corte e outras instituições. O ministro também definiu como “associação criminosa” o grupo do “gabinete do ódio”. [E não se esqueça, tudo isso financiado com o meu, o seu, o nosso dinheiro!]

O controverso inquérito que apura ameaças, ofensas e fake news contra ministros do Supremo, conduzido por Moraes, pode pavimentar o caminho da cassação do presidente Jair Bolsonaro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A avaliação entre ministros do tribunal é a de que, caso seja autorizado, um compartilhamento das provas do STF com a Justiça Eleitoral deve dar um novo fôlego às investigações que apuram o disparo de mensagens em massa na campanha presidencial de Bolsonaro em 2018. A possibilidade dessas ações serem “turbinadas” com o inquérito das fake news do Supremo já acendeu o sinal de alerta do Palácio do Planalto.

Entre as violações, discursos de ódio

No material postado que foi identificado pelo Facebook estavam conteúdos relacionados às eleições, memes políticos, críticas à oposição, empresas de mídia e jornalistas, além de textos sobre o coronavírus. Segundo a rede social, parte do conteúdo dessa rede já havia sido removida por violar padrões de comunidade. Entre as violações estavam discursos de ódio.

Os detalhes de toda a operação brasileira foram postados no site do Atlantic Council’s Digital Forensic Research Lab, instituição que realiza análise independente de remoções do Facebook por comportamento inautêntico coordenado.

O anúncio faz parte de uma remoção de redes de desinformação que operavam em quatro territórios postando conteúdo relacionado a assuntos políticos domésticos. Além do Brasil, foram derrubadas redes nos EUA, na Ucrânia e na América Latina, incluindo países como El Salvador, Argentina, Uruguai, Venezuela, Equador e Chile. No caso brasileiro, as investigações e remoções ocorreram a partir de notícias na imprensa brasileira e referências feitas ao assunto no Congresso durante a CPI das Fake News.

Baixe o documento publicado pela rede social,
clicando aqui.

Nathaniel Gleicher, diretor de Cibersegurança do Facebook, foi cauteloso em apontar o envolvimento direto ou o conhecimento de políticos na campanha, inclusive na coordenação das postagens. “Não podemos afirmar a ligação direta das pessoas citadas, mas podemos afirmar que pessoas associadas a eles e a seus escritórios se envolveram em comportamento inautêntico na plataforma.”

Segundo o executivo do Facebook, não há indícios de que uma empresa foi contratada para realizar o trabalho, como aconteceu nos outros países latinos. Foi gasto US$ 1,5 mil em impulsionamento dos conteúdos no Facebook. De acordo com a Atlantic Council, o envolvimento de funcionários de gabinetes pode indicar que a operação usou recursos públicos, pois as postagens eram feitas durante o horário de expediente.

O relatório da DFRLab aponta que Tercio Arnaud administrava páginas e contas com conteúdo de ataques a adversários políticos do governo, em muitos casos com teor considerado “enganoso” e que misturava “meias-verdades para chegar a conclusões falsas”.

Em agosto do ano passado, Bolsonaro compartilhou, pelo Facebook, uma publicação que chama o procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava Jato, de “esquerdista estilo PSOL”. O link divulgado pelo presidente redirecionava a página para um post do perfil Bolsonaro Opressor 2.0. Antes de atuar no governo, Tercio trabalhou para o gabinete do vereador Carlos Bolsonaro no Rio de Janeiro. Ele ocupava cargo de auxiliar de gabinete.

O DFRLab também identificou dois assessores do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). São eles Paulo Eduardo Lopes (conhecido como Paulo Chuchu) e Eduardo Guimarães. Guimarães é funcionário do gabinete de Eduardo Bolsonaro na Câmara. Já Oliveira foi exonerado no dia 26 de junho e agora está registrado como assessor do gabinete do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), aliado do governo.

O relatório do DFRLab cita a página “Bolsofeios” como sendo de Guimarães. A ligação já havia sido apontada pela CPI das Fake News, que identificou atualizações do perfil a partir de um celular do assessor de Eduardo.

Um dos perfis excluídos é o “Jogo Político”, no Facebook e Instagram, que compartilhava publicações do site de mesmo nome, registrado por Leonardo Rodrigues de Barros Neto. A página do site no Twitter está suspensa. Ex-assessor da deputada estadual no Rio Alana Passos (PSL), Barros Neto é responsável também pelos perfis “Bolsoneas”, que recentemente foram derrubados pelo Twitter. Ele costuma se apresentar como “Leonardo Bolsonéas” e seu principal perfil foi alvo do inquérito das Fake News em curso no Supremo Tribunal Federal.

Parlamentares à frente da comissão afirmaram que o banimento das contas está em linha com fatos revelados pela investigação e que o caso reforça a necessidade de ter acesso ao conteúdo publicado por meio dessas contas excluídas.
[...]

Fonte: O Estado de S. Paulo – Política – Quarta-feira, 08 de julho de 2020 – Publicado às 16h00 – Atualizado às 23h10 – Acesso em 09/07/2020 – Internet: clique aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.