«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Poucos são os cegos!

Adeptos fiéis a Bolsonaro são 15% da população adulta

Reginaldo Prandi
Sociólogo e Professor Emérito da Universidade de São Paulo – USP

Levantamento mostra o que pensam esses eleitores sobre
a democracia e o seu presidente
PASSO FUNDO – Apoiadores de Bolsonaro fazem manifestação no ...
Manifestação em apoio a Bolsonaro em Passo Fundo (RS)
Domingo, 15 de março de 2020

Em manifestações à porta dos palácios que habita ou em meio a pequenas aglomerações públicas mais propícias ao contágio do novo coronavírus ou ainda em declarações a veículos de imprensa que o apoiam, é marca do presidente Jair Bolsonaro se fazer acompanhar de um grupo barulhento de seguidores irrestritos, que demonstra especial predileção em desafiar as instituições democráticas.

Bolsonaro fala pouco e mal, geralmente criando clima de desafio e ameaça. Ele repete que fala e governa em nome do povo e da Constituição. De que povo fala Bolsonaro?

Com dados da pesquisa Datafolha de 23 e 24 de junho, é possível descrever algumas das posições de um grupo formado por eleitores e eleitoras que votaram em Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais, que avaliam seu governo como ótimo ou bom e que acreditam sempre no que ele diz, e confrontá-las com o que pensam os restantes 85% da população.

Esse grupo de adeptos fiéis, entusiastas fanáticos, adoradores em qualquer situação, representa 15% da população adulta. É o chamado grupo heavy do presidente, um núcleo duro de apoiadores irrestritos, bolsonaristas radicais, que vai às ruas por seu presidente, que Bolsonaro confunde com o povo brasileiro.

Esses 15%, ainda que minoritários, formam uma base barulhenta,
destemida e sempre se mostrando.

Suas opiniões contrastam muito com as dos demais 85% da população, uma maioria que também abriga bolsonaristas de outro perfil, gente que votou no presidente, mas que nem sempre leva a sério o que ele diz, pensa e faz, e que não prima por avaliações necessariamente favoráveis ao governo Bolsonaro.

Que inclui também quem votou em Bolsonaro para não votar no oponente, inclusive os arrependidos, e igualmente os que não votaram em nenhum dos dois, além dos eleitores do adversário derrotado.
Apoiadores de Bolsonaro hostilizam jornalistas após nova crítica ...
Apoiadores de Bolsonaro hostilizam jornalistas diante do Palácio do Alvorada - Brasília (DF)
Segunda-feira, 25 de maio de 2020

Quem são os bolsonaristas ferrenhos?

O grupo adorador do presidente é formado hoje por:
a) uma maioria feminina de 60%.
b) Atrai mais os brancos do que os negros e
c) não difere muito dos restantes 85% em termos de escolaridade.
d) A renda familiar dos bolsonaristas irrestritos é, entretanto, significativamente maior (no grupo bolsonarista radical, 40% das famílias têm renda maior que três salários mínimos mensais, contrastando com os 26% dos demais).

Eleitores do Nordeste são menos atraídos pela devoção a Bolsonaro que os do Sudeste. Não deixa de ser curioso o fato de que no grupo radical do presidente 36% solicitaram o auxílio emergencial devido à pandemia, taxa menor que os 42% do grupo dos demais.

Difícil saber o que cada cabeça entende por democracia.

Nominalmente, 75% do país prefere a democracia a outro regime, taxa que atingiu o ápice no mês corrente. Os bolsonaristas fanáticos ficam um pouco abaixo: 70% declaram preferir a democracia, enquanto os demais, com 76%, estão próximos ao número para o Brasil como um todo.

Concorda que a democracia é sempre melhor que qualquer outra forma de governo
70
Concorda que houve uma ditadura no Brasil
47
Concorda que a ditadura deixou mais realizações negativas que positivas
37
Concorda com o fechamento do Congresso
36
Concorda com o fechamento do Supremo Tribunal Federal
44
Concorda que os direitos humanos devem valer para todos, inclusive para criminosos
53
Concorda que o governo brasileiro deva ter o direito de censurar jornais, TV e rádio
36
* Votaram em Bolsonaro no segundo turno, avaliam seu governo como ótimo ou bom e sempre confiam no que ele diz.
Fonte: Pesquisa Datafolha realizada em 23 e 24 de junho, com 2.016 brasileiros adultos que possuem telefone celular em todas as regiões e estados do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Concorda que a democracia é sempre melhor que qualquer outra forma de governo
76
Concorda que houve uma ditadura no Brasil
83
Concorda que a ditadura deixou mais realizações negativas que positivas
66
Concorda com o fechamento do Congresso
14
Concorda com o fechamento do Supremo Tribunal Federal
16
Concorda que os direitos humanos devem valer para todos, inclusive para criminosos
68
Concorda que o governo brasileiro deva ter o direito de censurar jornais, TV e rádio
15
Fonte: Pesquisa Datafolha realizada em 23 e 24 de junho, com 2.016 brasileiros adultos que possuem telefone celular em todas as regiões e estados do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Bolsonaristas: amantes da ditadura!

Mas quando a palavra democracia é contraposta à ditadura, ditadura militar, os dois grupos têm respostas diferentes. O entrevistador introduz a questão: "Sobre o regime militar que durou de 1964 a 1985, o presidente Jair Bolsonaro já disse que não houve ditadura no Brasil. Pelo que você sabe ou imagina, houve ou não uma ditadura no Brasil durante o regime militar?".

Sim, houve uma ditadura, respondem 47% dos bolsonaristas heavy, contra 83% dos demais.

Os bolsonaristas ferrenhos primam pelo negacionismo também da ditadura militar, o que é coerente com seu desejo político, expresso reiteradamente nas ruas, de uma intervenção militar supostamente consonante com a Constituição e princípios republicanos, com Bolsonaro na presidência, evidentemente.

Parece alentador que 37% dos adoradores de Jair Bolsonaro concordem que a ditadura deixou mais realizações negativas que positivas, mas o grupo dos demais os coloca lá embaixo com seus 66%.

Não se pejam esses 15% de concordar com o fechamento do Congresso Nacional (36% se dizem favoráveis) e do Supremo Tribunal Federal (com o apoio de 44%). É muito, considerando que as porcentagens respectivas dadas pelo grupo dos demais brasileiros foram 14% e 16%.

Em outros pontos da pesquisa, o desprezo do grupo bolsonarista pelos princípios e práticas democráticos vai se constituindo num edifício autoritário descarado.

Estão abaixo do grupo majoritário no que concerne à concepção de que direitos humanos se aplicam a todos (53% contra 68%) e concordam que o governo brasileiro deva ter o direito de censurar jornais, TV e rádio (36% versus 15%).

O País desejado pelos bolsonaristas fiéis

* Sem Congresso,
* sem Supremo Tribunal Federal (STF),
* sem imprensa livre,
* sem direitos humanos para todos,
é esse o país idealizado e buscado com muito barulho, propaganda, mentira e artifícios jurídicos, por parte dos adoradores do santo Messias Bolsonaro.

Se o país assim vai se desenhando, o que pensa a minoria fiel de seu herói? Deles, 80% o creditam como democrático (contra 22% dos demais).

O presidente é democrático
80
O presidente é preparado
97
O presidente é competente
99
O presidente é sincero
99
O desempenho de Bolsonaro em relação à pandemia da Covid-19 tem sido ótimo ou bom
85
O presidente Bolsonaro mais ajuda que atrapalha no combate à pandemia
93
Bolsonaro sabia onde Queiroz estava
22
Bolsonaro está envolvido no escândalo das “rachadinhas”
2
* Votaram em Bolsonaro no segundo turno, avaliam seu governo como ótimo ou bom e sempre confiam no que ele diz.
Fonte: Pesquisa Datafolha realizada em 23 e 24 de junho, com 2.016 brasileiros adultos que possuem telefone celular em todas as regiões e estados do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

O presidente é democrático
22
O presidente é preparado
28
O presidente é competente
34
O presidente é sincero
40
O desempenho de Bolsonaro em relação à pandemia da Covid-19 tem sido ótimo ou bom
18
O presidente Bolsonaro mais ajuda que atrapalha no combate à pandemia
24
Bolsonaro sabia onde Queiroz estava
71
Bolsonaro está envolvido no escândalo das “rachadinhas”
44

O que pensam de Bolsonaro, seus seguidores fiéis

De um homem que abandonou o país à própria sorte, desmantelando instituições duramente construídas, e corroendo a autoestima de seus cidadãos, 97% dos seguidores fiéis consideram-no preparado (contra 28% dos demais).

Adiante, 99% dizem que é competente, apesar de apenas 34% dos demais pensarem assim. Por fim, 99% da minoria fiel qualificam-no como sincero, mais que o dobro (40%) dado pelo grupo majoritário.

Diante de 60 mil mortos pela pandemia, e nem chegamos a dobrar a curva, 85% dos fanáticos concordam que o desempenho de Bolsonaro em relação à pandemia tem sido ótimo ou bom, enquanto o grupo majoritário restringe essa resposta a 18%. Mais que isso, é a visão de 93% dos adoradores que, nesse aspecto, o presidente mais ajuda que atrapalha, ficando em 24% essa avaliação por parte dos demais.

Comemorando o... nada!

Com o país entregue à morte no atacado, a economia descarrilhada, ministérios transformados em máquinas do nada, o presidente e seus seguidores se autoenobrecem pela suposta ausência de corrupção no governo e entornos.
Queiroz desligava celular em Atibaia e chegou a dar endereço falso ...
Fabrício Queiroz é conduzido por policiais de São Paulo, durante sua prisão em Atibaia (SP)
Quinta-feira, 18 de junho de 2020

A polícia à porta

Mas há vultos a serem escondidos, envolvendo ministérios, tribunais superiores, polícia, redes sociais. Dois escândalos são emblemáticos:
* o sumiço de Fabrício Queiroz e
* o processo das “rachadinhas”,
que se transformaram em explosivos nacionais.

Pois bem, 22% dos seguidores cegos de Bolsonaro admitem que o presidente sabia onde Queiroz estava, porcentagem que se apaga perto dos 71% daqueles que não fazem parte do grupo dos adoradores. E apenas 2% dos devotos acham que Bolsonaro está envolvido no escândalo das “rachadinhas”, contrariando os outros, que formam 44%.

Essa minoria que adora Bolsonaro é o povo brasileiro que Bolsonaro vê.

Fonte: Folha de S. Paulo – Poder – Sexta-feira, 03 de julho de 2020 – Pág. A6 – Internet: clique aqui.

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