3º Domingo do Tempo Comum – Ano B – HOMILIA

 Evangelho: Marcos 1,14-20 

Para ouvir a narração deste Evangelho, clique sobre a imagem abaixo: 

 Alberto Maggi

Frade da Ordem dos Servos de Maria (servitas) e renomado biblista italiano 

Jesus nos comunica sua própria capacidade de amar 

A vida, a verdade e a luz serão sempre mais fortes e vitoriosas do que a morte, as mentiras e as trevas. Por isso, o evangelista no primeiro capítulo, versículo 14, nos apresenta a estupidez do poder. O poder pensa que sufoca a voz da vida, da verdade e da luz, mas não sabe que, sempre que acredita que sufocou essa voz, o Senhor levanta outra ainda mais poderosa. Na verdade, o Evangelho de Marcos no versículo 14 diz que depois que João foi preso, João era incômodo, ele havia convidado [o povo] para uma mudança e por isso é eliminado, então, o Senhor suscita uma voz, uma força ainda mais poderosa que João Batista, aquela de Jesus, o Filho de Deus. 

Jesus foi à Galileia pregando o evangelho de Deus, a boa notícia de Deus. E quais são as boas novas de Deus que o evangelista nos fará descobrir em seu evangelho? Que Deus não é como foi ensinado, como se acreditava; o Deus de Jesus é um Deus de um amor completamente novo, que se descobrirá nas páginas do Evangelho, porque é um amor que não olha, não é atraído pelos méritos das pessoas, mas pelas suas necessidades. Esta é a boa notícia de Deus. 

E ele dizia: o tempo se cumpriu, era o tempo da aliança com o seu povo e o Reino de Deus está próximo. Por “Reino de Deus” não devemos entender o território, a extensão do reino, mas o governo do rei; em português, talvez devêssemos usar a expressão “senhorio de Deus, governo de Deus”. É Deus quem quer governar, ele mesmo, seus homens e como Deus exerceria esse governo? Não emitindo leis que o homem deva observar, as leis são externas ao homem, mas comunicando ao homem a sua própria capacidade de amar. É por isso que João havia dito de Jesus “foi aquele que batizava no Espírito Santo”, comunicava aos homens a mesma capacidade de amar. 

O Reino de Deus está próximo, mas para que se torne realidade é necessária uma CONVERSÃO, mas a conversão também foi pregada e anunciada por João Batista, mas são duas dimensões diferentes. É por isso que Jesus é, ainda, mais perigoso do que João Batista. 

João estava na esfera da religião e da conversão, a mudança de vida visava Deus, era para obter o perdão dos pecados; aqui, com Jesus, não se fala em perdão de pecados, conversão é crer nesta Boa Nova e realizar o Reino de Deus. Jesus veio para inaugurar uma sociedade completamente nova; uma sociedade onde, em vez de acumular egoisticamente para si mesmo, compartilhe-se generosamente com os outros; uma sociedade na qual, em vez de se elevar acima dos outros, se desce ao lado dos últimos, e um mundo onde, em vez de pretender comandar, liderar os outros, passa-se a servir. Este é o Reino de Deus. 

Mas para fazer isso, Jesus precisa de colaboração; por isso, continua o evangelista, passou junto ao mar da Galileia, é o lago de Tiberíades, chama-se mar para lembrar o mar do Êxodo, o caminho para a liberdade e, sobretudo, a fronteira para os povos pagãos, viu Simão e André, são dois irmãos, que lançam as suas redes ao mar e aqui está o convite de Jesus: Vinde após mim, eu vos farei pescadores de homens. 

Qual é o significado do convite de Jesus? Já dissemos que Jesus quer inaugurar um novo mundo onde, em vez de acumular para si, se compartilhe generosamente com os outros; então o que o pescador faz? Ele captura peixes para seu próprio interesse, para seu próprio ganho.

Pescar homens, isto é, tirar os homens do mar, do âmbito que pode causar a morte, onde eles podem afogar, significa realizar essa atividade não para o próprio interesse, mas para o interesse das pessoas que se salvam.

Portanto, é uma mudança radical e completa de orientação de vida. Vinde atrás de mim, é o mesmo que dizer: desistam dos seus interesses e isso lhes dará a oportunidade de trazer para fora as pessoas que estão se perdendo e recuperar a plenitude da vida. 

Traduzido do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

 

Reflexão pessoal (Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo):

Se João Batista era um profeta incômodo, Jesus o será ainda mais! A meta de Jesus é bem mais audaciosa daquela do Batista. Trata-se, para Jesus, de mudar o mundo, transformar a sociedade egoísta, acumuladora, injusta, desigual em um mundo onde os seres humanos sejam tratados com dignidade e respeito.

Portanto, a missão que Jesus confiará aos que o seguirem (irem após ele, literalmente) não é, meramente, religiosa! Sim, é preciso termos isso bem claro diante de nós! O Cristianismo não é uma religião a mais! O Cristianismo não busca, somente, orientar o olhar humano para a divindade, mas para aqueles que estão ao seu lado, para o PRÓXIMO.

Portanto, a questão principal que nos é apresentada pelo Evangelho deste domingo é:

Você está disposto a seguir Jesus, renunciando aos seus interesses, disponível a servir e não a ser servido, combatendo tudo que possa trazer morte e indignidade aos seres humanos, ficando sempre ao lado dos últimos, dos mais pobres, dos descartados pela sociedade?

A conversão e o seguimento de Jesus têm a ver com isso, o restante são detalhes. 

Fonte: CENTRO STUDI BIBLICI “G. VANNUCCI” – Videomelie e trascrizione – III Domenica del Tempo Ordinario – 24 gennaio 2021– Internet: clique aqui (acesso em: 23/01/2021).

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