«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Todos devem se unir

 Elites têm de ter coragem de romper com os populistas

 Paulo Beraldo

Jornal «O Estado de S. Paulo» 

Entrevista especial com Jan-Werner Müller

Historiador, filósofo e professor da Universidade de Princeton (Estados Unidos). Ele colabora com veículos de imprensa como The Guardian, The New York Times, The New York Review of Books, Le Monde e The London Review of Books. É cofundador da European College of Liberal Arts. 

Estudioso da democracia diz que: “É preciso entender que será cobrado um preço por concordar com um líder autoritário”

JAN-WERNER MÜLLER

A derrota eleitoral do presidente Donald Trump e sua saída do governo são um golpe para populistas que o tinham como referência, mas estes grupos só podem ser evitados com o fortalecimento de instituições e a oposição unida. 

A avaliação é do cientista político alemão Jan-Werner Müller, autor do livro O que é Populismo?, publicado em 2016, uma referência na discussão sobre o avanço desse movimento em diferentes países. 

Müller, professor da Universidade de Princeton, também defende que os líderes democráticos precisam oferecer soluções que respondam aos problemas reais das pessoas e não apenas fazer oposição a governos autoritários. 

DONALD TRUMP lança boné para apoiadores em Orlando, na Flórida. Foto: Saul Loeb/AFP

A ideia de “como as democracias morrem” tornou-se famosa depois do livro de Levitsky e Ziblatt, de 2018, e muito se fala sobre ela. Mas o que as democracias devem fazer para sobreviver?

Jan-Werner Müller: Três fatores importam:

1º) a ampla mobilização em favor de ideais democráticos básicos. Ao mesmo tempo, não é suficiente dizer “não somos Donald Trump ou algum outro autoritário”. É preciso oferecer uma visão positiva que responda aos problemas reais das pessoas. Nesse sentido, Joe Biden realmente não se saiu tão bem.

2º) As elites privadas precisam ter a coragem de romper com os populistas. Isso não é apenas uma questão de psicologia individual. É preciso entender que será cobrado um preço por concordar com um líder autoritário.

3º) A renovação do que chamo de infraestrutura crítica da democracia, principalmente dos partidos políticos e da mídia. Essa é uma questão para uma reforma estrutural de longo prazo. 

Donald Trump, Melania Trump, o presidente da Polônia Andrzej Duda e sua mulher, Agata Kornhauser-Duda. Foto: AFP Photo/Janek Skarzynski

O que pode ser feito pelos sistemas democráticos para conter e prevenir o populismo?

Müller: O populismo nunca pode ser completamente evitado. Além do ponto óbvio de que as preocupações dos cidadãos devem ser tratadas, ajuda ter um sistema partidário funcional e um ambiente midiático no qual a mídia não lucre com a polarização das sociedades. O que, segundo Alexis de Tocqueville [intelectual francês], poderíamos chamar de “poderes intermediários” – partidos e mídia – permanecem cruciais para o funcionamento da democracia representativa. 

O que a derrota de Donald Trump significa para o populismo e os populistas em todo o mundo?

Müller: É um golpe. Mas, assim como a vitória de Trump há quatro anos não significava que agora havia uma onda populista impossível de ser detida, sua derrota não significa que tudo vai para a direção contrária. Os contextos nacionais ainda são muito importantes. Se alguém opta por um partido de extrema direita no Leste Europeu, por exemplo, tem pouco a ver com o que acontece nos Estados Unidos. 

Como o sistema de freios e contrapesos da democracia americana facilita ou torna mais difícil o crescimento do populismo?

Müller: O presidencialismo pode realmente gerar populismo. Os freios e contrapesos dos Estados Unidos, sob Trump, revelaram-se mais frágeis do que muitos pensavam. Ainda assim, o Judiciário não foi capturado da maneira que outros populistas de extrema-direita fizeram. O federalismo dispersa o poder e coloca um freio real no trumpismo. 

Como poderíamos diferenciar o populismo americano do de outros países – se de fato, existe essa diferença?

Müller: Na minha avaliação, todos os populistas afirmam que apenas eles representam o que muitas vezes chamam de “pessoas reais” [o povo], com a consequência de que outros políticos têm sua legitimidade negada, mas também que os cidadãos que não se enquadram ou não concordam com o entendimento populista são excluídos. O que varia é a descrição de “pessoas reais”. 

O premiê da Hungria, Viktor Orbán, faz discurso em sessão do Parlamento, na capital Budapeste. Foto: Tamas Kovacs/EFE/EPA

E a que o sr. atribui a derrota de Trump?

Müller: Honestamente, é cedo para dizer. Não temos evidências empíricas suficientes sobre por que as pessoas votaram da maneira que votaram. Se alguém confiar nas pesquisas de opinião, uma coisa é surpreendente: os cidadãos continuaram confiando em Trump na economia, pensando que ele seria bom para liderar uma recuperação pós-pandemia. Os democratas, um pouco como em 2016, pareciam não ter uma mensagem ou símbolo convincente sobre as questões econômicas. 

Os democratas decidiram por um centrista como Biden e não por uma figura mais à esquerda como Bernie Sanders para disputar a eleição. Essa escolha serve de inspiração para outros movimentos de oposição?

Müller: A oposição ao populismo de extrema-direita precisa ser unida. Mas há outra variável: diante de uma catástrofe nacional como a covid-19, que expõe tantos problemas estruturais, uma estratégia mais ambiciosa também é bastante plausível. 

Como o sr. vê o futuro da democracia na União Europeia quando há dois países – Polônia e Hungria – liderados por populistas e onde alguns partidos de extrema-direita ganharam força nas últimas eleições?

Müller: Este não é um problema apenas dos Estados-membros em questão, ao contrário do que por vezes alegam políticos e comentaristas. Se a democracia e o Estado de Direito deixarem de funcionar num Estado, o funcionamento da União Europeia no seu todo – que depende do reconhecimento mútuo das decisões dos tribunais nacionais – fica em perigo. Além desse aspecto prático, a ascensão das autocracias enfraquece a capacidade da Europa de ser uma força para a democracia no mundo e trai as promessas feitas aos aspirantes a Estados-membros desde os anos 70, a de que ajudaria a transformá-los em democracias consolidadas. 

Fonte: O Estado de S. Paulo – Internacional / Entrevista – Domingo, 17 de janeiro de 2021 – Pág. A9 – Internet: clique aqui (acesso em: 18/01/2021).

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