«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

O perigo do negacionismo

 Negacionismo prejudica não só a saúde como conquistas e avanços da medicina

 Marcelo Testoni

Jornalista 

Contra a descrença na ciência, na pesquisa, nos cientistas só há uma saída: a informação correta, a boa educação, o investimento sério e correto na formação das pessoas. Enfim, o debate sincero, aberto e acessível

LÍLIA SCHWARCZ

O negacionismo, ou seja, a escolha de negar os fatos como forma de escapar deles, de acordo com Lília Schwarcz, professora do Departamento de Antropologia da USP (Universidade de São Paulo) costuma se fortalecer quando a sociedade se depara com situações de instabilidade, como uma crise fora do normal ou algo nunca antes presenciado na atualidade, por exemplo. 

Quando em oposição às evidências científicas, a atitude negacionista encontra sustentação em teorias e discursos conspiratórios, sem aprofundamento ou isolados e até favorece disputas ideológicas e interesses políticos e religiosos. 

"No caso brasileiro, o presidente [Jair Bolsonaro] costuma dizer que ele é a informação, desdiz o que seu ministro da Saúde determina e não confia ou desdenha das teorias produzidas pelos médicos e cientistas", acrescenta Schwarcz. 

Impactos do negacionismo na saúde 

Na África do Sul, entre 1999 e 2008, o presidente Thabo Mbeki negou a gravidade do surto da Aids e hoje o país detém quase 20% dos infectados do planeta7,7 milhões de pessoas. Na época, sua ministra da Saúde, Tshabalala-Msimang, também ignorou a doença e indicava que uma alimentação à base de legumes, como beterraba, bastava para se proteger do vírus HIV. 

Mais recentemente, em paralelo com o movimento antivacina, que contesta sem nenhum embasamento científico a eficácia e a segurança da imunização, o índice de cobertura vacinal vem caindo e doenças contagiosas erradicadas ou perto disso voltaram a aparecer com mais força. 

No Brasil, por exemplo, o sarampo retornou em 2019 e a vacinação contra a poliomielite (paralisia infantil), que desde 1990 estava controlada por aqui, em 2016 não atingiu sua meta. Algo similar vem ocorrendo com hepatite A, BCG, rotavírus, meningocócica C e pentavalente. 

No atual momento, enquanto é preciso manter e ampliar o isolamento social para conter o avanço do novo coronavírus (Sars-CoV-2), o negacionismo ignora seu potencial, o estado e a capacidade dos hospitais em lidar com os doentes e a ocorrência de milhares de mortes no Brasil e no mundo. "Por aqui, como o governo tem sido oscilante, as consequências poderão ser muito graves. Um estudo publicado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP aponta que o novo epicentro global da pandemia será o nosso país, que é profundamente desigual", diz Schwarcz. 

Fatores associados à negativa dos fatos 

Lis Furlani Blanco, doutoranda em antropologia social pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e atuante em questões médicas e sanitárias, explica que nessa pandemia aparecem diversos níveis de problemas relacionados ao negacionismo. 

"Tem ele em si [o negacionismo], mas também as fake news, as subnotificações e até a dificuldade de se traduzir para a população processos científicos comuns, como testes de medidas que ora convém, ora não, e tudo isso constrói a percepção das pessoas sobre a doença". 

Em países africanos, como o Congo, boatos compartilhados por WhatsApp de que o ebola, que entre 2018 e 2019 matou mais de 1.800 pessoas no país, era um negócio lucrativo que contava com a participação de médicos enviados para ajudar no tratamento do vírus, levou muitos desses profissionais da saúde a serem atacados pela população. Para essa lista de mortos entrou Richard Mouzoko, epidemiologista sênior da OMS (Organização Mundial da Saúde). 

De volta ao cenário brasileiro, para Furlani, a deslegitimação das universidades públicas ao longo dos últimos anos (além do corte de verbas e bolsas do CNPq para estudos) também contribuiu para que a sociedade passasse a duvidar da produção científica desenvolvida nesses lugares, que para ela são os principais centros de pesquisa do país. 

"Qualquer outro conteúdo produzido está sendo colocado no mesmo patamar que a ciência, as coisas viraram opinião". 

Retrocesso, sofrimento e riscos 

Edison Bueno, médico sanitarista e chefe do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), diz que a negação do conhecimento científico vai contra os valores, o progresso, traz sofrimento e só é contornada quando se garante livre acesso à informação, à educação, à saúde e à discussão de ideias e debates, que, ainda segundo ele, devem se estender para além dos círculos acadêmicos. 

"A ciência precisa ser exemplo para a sociedade ao ser transparente e expor os diversos conflitos de interesses que existem. Os problemas da democracia só se resolvem com mais democracia", e acrescenta: "Mesmo compreendendo que devemos ter autonomia para tomar decisões, não cabe aceitar atitudes ou posicionamentos que vão contra o bem-estar ou, pior, colocam em risco a vida de todos". 

Schwarcz complementa que os mais vulneráveis são as populações negras e periféricas das grandes cidades, que, por não terem acesso a serviços básicos, como água potável e saneamento, ou equipamentos de saúde pública, estão muito mais suscetíveis a uma série de doenças, especialmente cardíacas e pulmonares — incluindo agora também a covid-19. 

GONZALO VECINA NETO - fundador e ex-presidente da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), doutor em Saúde Pública, professor universitário e pesquisador

Mais união entre cientistas e sociedade 

Gonzalo Vecina Neto, ex-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e ex-secretário municipal de saúde da cidade de São Paulo, defende que a sociedade deve participar das decisões científicas, mas dentro da sua capacidade de compreensão, e que os conhecimentos necessários para um processo de decisão não devem ser propriedade dos cientistas. Para ele, os que se colocarem contra isso são maus profissionais, que não estão a serviço da verdade. 

"Da mesma forma que um cientista que fala inverdades, charlatanices, como, por exemplo, dizer que um medicamento que eventualmente pode fazer o bem deve ser sempre receitado. Isso é um desserviço à ciência e, portanto, um desserviço à sociedade. Esses cientistas devem ser colocados de escanteio", afirma. 

"Agora, cientistas que levam conhecimento para a sociedade e tentam fazer com que ela entenda o que é uma boa ciência a serviço da construção e uma melhor atenção à saúde devem ser valorizados". 

Vecina Neto afirma também que há uma enorme diferença entre querer silenciar a ciência de contestá-la. "Negar faz parte. O problema é negar sem base e nenhum conhecimento e a chance de errar é muito grande. O negacionismo por conhecimentos sem base científica não tem valor algum". 

Negacionismo não é mecanismo de defesa 

Paulo Amarante, psicanalista e pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), explica que a crítica é necessária para a ciência, pois, sem ela, não há evolução, ampliação do conhecimento e ruptura de paradigmas, e em meio a essa discussão considera importante também distinguir negacionismo de negação. 

Negação é um dos vários mecanismos inconscientes e individuais de autodefesa do ego diante de uma ameaça, relacionado a um conceito da psicanálise. 

Durante catástrofes e pandemias, como a de agora, por exemplo, num primeiro momento é aceitável e natural que a gente fique passado e sinta aquele sentimento de descrença [= negação] por um tempo. Quanto mais idosas, principalmente, mais dificuldades as pessoas encontram em se adaptar a uma nova rotina ou mudança, pois já têm seus hábitos regulares bem estabelecidos. 

"O negacionismo é outra coisa. É uma atitude muito mais política de que os homens são incapazes de encontrar soluções centradas. Procura se fundamentar a partir de concepções de que a Terra não é redonda, de que vacina não tem efeito, mas por uma disputa de narrativa de mundo, de concepção de vida. O que está em jogo é o discurso de poder", alerta Amarante. 

Assista ao vídeo abaixo, ele lhe ajudará a compreender melhor o assunto deste artigo. Clique sobre a imagem: 


 Fonte: VivaBem – Saúde – 21 de maio de 2020 – Publicado às 04h00 (Horário de Brasília – DF) – Internet: clique aqui (acesso em: 19/01/2021). 

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