«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 9 de janeiro de 2021

Que mundo é esse ? ? ?

 Bolsoverso em desencanto

 Silvio Almeida

Professor da Fundação Getulio Vargas e do Mackenzie e presidente do Instituto Luiz Gama 

Entenda que tipo de mundo é o nosso que permite que homens como Donald Trump e Jair Bolsonaro sejam alçados ao poder

Apoiadores de Trump invadem prédio  do Congresso dos Estados Unidos - Quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Ainda que figuras como Trump e Bolsonaro tenham responsabilidade individual em todas as tragédias que os cercam, é preciso entender que tipo de mundo permite que homens como eles sejam alçados ao poder. Considero que uma análise da conjuntura política requer a observação do cenário, não somente dos atores. 

Nesta quarta (6 de janeiro) assistimos à tentativa de invasão do Congresso dos Estados Unidos por apoiadores do presidente Donald Trump. É um erro achar que foi a voz de Trump o único fator a influenciar as ações dos invasores. As pessoas que ali estavam são constituídas e guiadas pelos espectros de escravocratas, linchadores e racistas que nunca foram banidos da vida americana. 

Essa presença fantasmagórica é institucionalmente reafirmada nos monumentos, nas leis, na cultura, na economia e na política interna e externa dos Estados Unidos. Parece que o que se chama de “democracia americana” existe, não apesar, mas justamente porque foi erigida sobre um pântano de fascismo, racismo e desprezo pela vida. 

Se a institucionalidade serve como uma tampa de bueiro, a decomposição provocada pelo capitalismo em crise provoca fissuras sociopolíticas que trazem os detritos à superfície. Com efeito, a cena de um homem segurando a bandeira dos confederados dentro do Capitólio é marca desse refluxo dos esgotos da história americana.

Presenciamos um grupo de pessoas brancas afogadas em ressentimento e desesperança, inconformadas com a perda das vantagens raciais que tinham, primeiro com a escravidão e, mais tarde, com a segregação racial.

Como escreveu William Faulkner em “O Som e a Fúria”, no contexto do fim da escravidão no Sul dos Estados Unidos, “não há tempo no mundo que não seja desespero, nem mesmo o tempo é tempo antes de ter sido”. 

É inócuo também dizer que se tratam de “fracassados”. Isso, na verdade, só ajuda a reforçar a ideia de que os indivíduos são os únicos responsáveis pelo que ocorre em suas vidas, até pelas doenças que contraem. Na verdade, muitas daquelas pessoas que invadiram o Capitólio se consideram injustiçadas, autênticos guerreiros na luta pela correção de um mundo que foi corrompido pelos esquerdistas e pelas minorias. 

Jair Bolsonaro segue, à risca, os passos de Trump no Brasil - perigo à vista!

Olhando para o Brasil 

Considerando esse estado de coisas é que temos que olhar para o Brasil. Não devemos esperar que no país dos golpes, das ditaduras e da escravidão mal resolvida as pessoas se comovam com os 200 mil mortos pela Covid-19, se indignem com a incompetência dos Ministérios da Saúde e da Economia, contem com a vergonha das Forças Armadas pelos atos de seu comandante-em-chefe ou mesmo se espantem com a insensibilidade do presidente da República. 

O mundo da vida precária, do racismo, da pandemia e da violência é o ambiente natural de líderes como os do Brasil e dos Estados Unidos. Este é o “Bolsoverso”. Assim, não é o presidente que está no lugar errado; nós é que estamos presos em seu mundo. 

A oposição deve ter no horizonte que as eleições de 2022 vão ocorrer dentro do “Bolsoverso”.

Quem acha que em um ano haverá um surto de sanidade geral que levará a oposição ao poder é porque provavelmente não entendeu que o atual governo é contradição, caos e desorientação.

Se não houver vacina, ele culpará alguém; se houver, dirá que foi graças a ele. Não faz sentido? 

“E daí”, será a resposta. Portanto, para vencer — e levar — as eleições de 2022 será preciso desmantelar o “Bolsoverso”, o que implica pensar a política para além do calendário eleitoral e fora dos limites estreitos da lógica institucional. 

Fonte: Folha de S. Paulo – Poder / Colunas e Blogs – Sexta-feira, 8 de janeiro de 2021 – Pág. A7 – Internet: clique aqui (acesso em: 09/01/2021).

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