Batismo de Jesus – Ano B – HOMILIA
Evangelho: Marcos 1,7-11
Para ouvir a narração deste Evangelho, clique sobre a imagem abaixo:
Alberto Maggi
Frade da Ordem dos Servos de Maria (servitas) e renomado biblista
italiano
A liturgia deste domingo apresenta o batismo de Jesus. Esse batismo sempre criou muitos problemas; João Batista havia anunciado o batismo como um sinal de conversão para o perdão dos pecados e as pessoas acorreram a este convite e Jesus vai lá também.
Mas também para Jesus o batismo é um sinal de conversão para o perdão dos pecados? Então, Jesus também tinha pecados? E, se não, por que ele também participou e recebeu o batismo? Teria sido uma espécie de encenação?
Na realidade, o evangelista nos dá a resposta no texto que escreve; vamos ler o evangelho de Marcos, especificamente o primeiro capítulo, os versículos que tratam do batismo, levando em conta: os evangelistas não são apenas grandes teólogos, mas também grandes escritores e escrevem de acordo com as regras literárias da época. Entre estas, uma regra bem conhecida e muito seguida foi a estabelecida por um famoso rabino, Rabbi Ismael, que elaborou as 13 regras de escrita.
Nessas regras de escrita, Rabbi Ismael disse que, quando você quiser colocar relevância, assonância entre um episódio e outro, você usa palavras [semelhantes] apenas nesses dois episódios. Isso é o que o evangelista faz. Na verdade, na cena do batismo de Jesus o evangelista usa exatamente as mesmas palavras que ele usará apenas no momento da morte.
Então, qual é o significado que veremos agora? O batismo era um símbolo de morte ao passado pecaminoso; também para Jesus o batismo é um sinal de morte, mas não para um passado de pecador que ele não tem, mas de aceitação da morte no futuro.
Pode-se perguntar: mas como Jesus poderia saber que ele morreria, que ele seria morto? É fácil: com o batismo, Jesus compromete-se a dar testemunho da fidelidade do Pai e fidelidade do Pai significa sempre colocar o bem do homem em primeiro lugar, acima das leis divinas, e para a transgressão das leis divinas havia a morte.
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"O BATISMO DE CRISTO" - Pintura a óleo sobre carvalho de Joachim Patinir (c. 1515) - Museu de Arte Histórica de Viena, Áustria |
Mas vamos ver o que o evangelista escreve para nós: «Naqueles dias Jesus veio de Nazaré da Galileia, foi batizado no Jordão por João» e, imediatamente, escreve o evangelista, «saiu da água». O batismo é um sinal de morte, mas a morte não pode para conter Jesus; então Jesus imediatamente saiu da água e «viu», aqui está o primeiro dos verbos que o evangelista usa aqui e depois no capítulo 15, «ele viu os céus rasgarem-se», não se abrirem.
Algo que se abre, então, pode também fechar-se; aqui o evangelista usa o verbo lacerar, rasgar porque uma vez rasgado não pode mais ser recomposto. Naquela época, acreditava-se que Deus estava tão zangado com seu povo que fechou [sigilou] os céus; quando Deus vê no Filho Jesus o compromisso de manifestar o que ele realmente é, o amor incondicional, os céus não se abrem, mas rompem-se, rasgam-se. Com Jesus, a comunicação com Deus será sempre ininterrupta.
Bem, o mesmo verbo «rasgar» é encontrado no capítulo 15, no versículo 38, no momento da morte de Jesus, quando o evangelista escreve «o véu do templo rasgou-se em dois». No santuário havia uma grande cortina, um véu, que escondia a presença de Deus e, no momento em que Jesus morre, este véu se rasga. Aqui está quem é Deus: um homem que foi crucificado para dar seu amor.
E Jesus então viu estes céus rasgarem-se e «o Espírito descer sobre ele como uma pomba». O apego da pomba ao seu ninho era proverbial; costumava-se dizer naquela época: «como o amor de uma pomba ao seu ninho». A pomba é aquele animal que se apega ao ninho original, mesmo que eu a mude, ela sempre retorna ao original. Então Jesus é o ninho do Espírito. Sobre Jesus desce «o» Espírito, com o artigo determinante, ou seja, toda a totalidade da energia, da capacidade de amar por parte do Pai.
E, então, mais tarde Jesus batizará no Espírito com sua ação de santificar, Espírito Santo, para separar as pessoas do mal. Bem, reencontramos esse termo no momento da morte de Jesus, quando o evangelista escreve «Jesus, dando um forte grito, expirou», entregou o Espírito. Esse Espírito que ele recebeu no momento do batismo, em plenitude Jesus o entrega a quem o acolhe como modelo para a própria vida.
E «uma voz» foi ouvida; este termo «voz» o encontramos também no momento da morte de Jesus, quando o evangelista escreve que «dando um forte grito», «voz» e «grito» na língua grega são escritos da mesma forma: «foné» (fonético), daí os termos que também conhecemos em português: fônico etc. Parece estranho que um moribundo dê um grito alto; não é o grito de um moribundo, é o grito de um vitorioso, de quem com seu amor venceu a morte. Daí esses termos «voz» e «grito» serem encontrados na cena do batismo e no momento da morte de Jesus.
E aqui está a proclamação de Deus no batismo «tu és meu filho predileto», predileto significa «aquele que tudo herda», portanto em Jesus há tudo de Deus. Não se pode contrapor Jesus a Deus, porque em Jesus está tudo de Deus; e «em você eu estou satisfeito».
Bem, encontramos praticamente a mesma expressão na crucificação e na boca de quem? Não na boca de um discípulo, nem mesmo de um membro da sua família, mas na boca de um pagão. A pessoa considerada mais distante de Deus, vendo-o morrer dessa forma, o centurião diz: «Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus».
Então, os mesmos termos que o evangelista usa no batismo, ele os usa, posteriormente, para a morte, para significar que o batismo de Jesus é a aceitação de ser uma testemunha fiel de amor do Pai, mesmo ao custo de enfrentar a morte.
Traduzido do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.
Reflexão pessoal (Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo):
Diante daquilo que lemos, acima, resta-nos perguntar-nos:
O que significa, então, para nós sermos batizados?
Ser batizado é tornar-se, acima e antes de tudo, uma TESTEMUNHA
plena do AMOR DE DEUS neste mundo. Tornando essa ideia mais clara, podemos
afirmar que, ser testemunha do amor de Deus significa levarmos uma vida que
seja uma vivência e uma defesa permanentes da igualdade,
da justiça e da misericórdia de Deus neste mundo! É termos o
mesmo ESPÍRITO de Cristo, o Espírito de Deus.
Pois Deus é Pai e trata-nos, todos, como filhos;
portanto, isso requer que nos tratemos uns aos outros, como irmãos. Isso
não é pouca coisa! Isso, também, não é nada fácil! Basta um olhar crítico ao
nosso redor, especialmente nos tempos de hoje!
Alguém que é batizado(a) não pode, jamais, olhar, dizer
e tratar o outro como se fosse um “inimigo”, um “lixo”, um “imbecil”, um “pária”,
alguém a se exterminar, banir da face da terra.
Resumindo, quem recebeu o batismo deve alimentar em seu
coração e em sua vida, como nos diz o apóstolo: «... os mesmos sentimentos
que Cristo» (Filipenses 2,5). Antes, ele já havia explicitado que “sentimentos”
são esses: «Tende um mesmo amor, um mesmo coração; procurai a unidade; nada
façais por rivalidade, nada por vanglória, mas, com humildade, considerai os
outros superiores a vós. Que cada um não olhe só por si mesmo, mas também pelos
outros» (Filipenses 2,2b-4).
Se, assim, agirmos, pensarmos e vivermos o mundo será muito melhor, sem dúvida! Será «cristão», verdadeiramente.
Fonte: CENTRO STUDI BIBLICI “G. VANNUCCI” – Videomelie e trascrizione – Battesimo del Signore – 10 Gennaio 2021 – Internet: clique aqui (acesso em: 09/01/2021).
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