«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 2 de janeiro de 2021

Vamos combinar uma coisa???

     A sociedade dos militantes

 Fernando Schüler

Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências Políticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com Pós-Doutorado pela Columbia University, em Nova York. É Professor em tempo integral no INSPER, em São Paulo, e Curador do Projeto Fronteiras do Pensamento. 

Esqueça um pouco a polarização, o radicalismo e descubra as coisas interessantes que temos em comum

FERNANDO SCHÜLER

Goste ou não dela, vale a pena ler a entrevista de Bari Weiss à Folha, dias atrás [clique aqui]. É bom escutar alguém que destoa da multidão. Alguém que ri sozinho enquanto todos dançam a Macarena (já me aconteceu). Todos conhecem a sua história. Ela foi contratada como uma das editoras do The New York Times por destoar da linha de pensamento hegemônica da Redação e caiu fora pelo mesmo motivo. 

A Redação do Times, diz ela, como a de muitos jornais, passou gradativamente a responder a uma agenda política. E o fez a partir dessa cisão típica dos tempos atuais, entre a gente bacana e esclarecida, “cujo trabalho é informar os outros”, e os caipirões, basicamente definidos por qualquer coisa que diz respeito a Donald Trump. 

Daí aparece uma jornalista que recusa a dicotomia fácil [a mania de ver tudo como preto ou branco, direita ou esquerda, certo ou errado etc.]. Que acha risível pautar o jornalismo, todo santo dia, pelo milésimo texto enfileirando palavrões contra o “diabo laranja”. Seu problema, por óbvio, nunca foi Trump ou qualquer político. O problema era a conversão do jornalismo em um campo retórico fechado e avesso às “ideias inconvenientes”. 

Foi o caso do editor James Bennet, banido por publicar artigo controverso do senador Tom Cotton. Ele provavelmente discordasse do senador, mas acreditava “dever aos leitores a exposição de contra-argumentos”. Ingenuidade. Contra-argumentos são aceitos, na lógica do ativismo, nos limites de quem tem a hegemonia e o poder de impor danos aos que saem da linha. 

O que Bari Weiss diz vale para qualquer posição política e vai além do jornalismo. Demétrio Magnoli tratou disso em coluna recente. Há um modus operandi da política atual, dado pela lógica tribalista das redes. O jornalismo, ou parte relevante dele, apenas foi junto com a maré. 

Intuo que se trata de caminho sem volta. O Twitter se tornou bem mais do que o “editor último” do The New York Times, como diz Weiss em sua carta-renúncia. Se tornou, junto com as redes, o editor do debate público, e o faz de modo anárquico, numa constante guerra civil em que cada um imagina ganhar, a cada momento, e todos perdem, ao longo do tempo. 

BARI WEISS - escritora e jornalista norte-americana

Weiss diz que nos tornamos um grande campus, ou um grande departamento de estudos de gênero. Prefiro outra formulação: tornamo-nos uma sociedade de militantes. Nas redes, nas universidades, no jornalismo e, mais recentemente, na vida das empresas e hábitos de consumo. 

É evidente que muita gente se mantém serena em meio à tempestade, para o horror das hordas de qualquer lado. Mas o espírito do tempo é outro. É o “espírito de partido”, como disse Madame de Stäel sobre o clima intelectual francês à época da revolução e de quem me lembrei por estes dias. 

O ponto é que isso não irá mudar. Nos anos 1930, Ortega y Gasset vaticinou que o homem-massa [leia explicação deste conceito, abaixo] havia ingressado de vez na cultura. Cem anos depois, graças à internet, quem domina o palco é o cidadão-pregador, o cidadão-dedo-em-riste. Seu destino ainda é incerto. Ele pode conduzir mudanças positivas, mas pode também agir como uma nuvem de “Black Mirror”. 

É positivo que as pessoas façam promessas de fim de ano e apostem que a pandemia vai mudar as coisas e que voltaremos a agir com mais empatia e sentido de comunidade. 

Quem sabe a esperança de Gabeira, a quem sempre leio, apostando que a política, depois de ter nos afastado, possa novamente nos aproximar. Ele lembra que já fomos mais gentis uns com os outros, mesmo divergindo, como na época das Diretas.

Minha hipótese é que a política continuará a nos separar. A lógica da tribo, da reação imediata e baixa empatia veio pra ficar. Ninguém tem a chave para desligar a geringonça na qual estamos todos enredados.

Nossa melhor chance é fugir da querela política. Podemos experimentar isso nos encontros de hoje à noite [virada de ano]. Fugir da postura do sujeito que um dia me disse que iria “perdoar” seu irmão por apoiar o político que ele detestava. Presunção tola.

Vale muito mais um abraço e a descoberta de coisas interessantes que todos temos em comum.

E elas não são poucas, podem acreditar. 

Nota: 

O filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955) utilizou o conceito do “homem-massa” para descrever o sujeito em uma sociedade de massa. Para o filósofo, o homem-massa é a expressão do conformismo com as determinações exteriores. O indivíduo e sua individualidade saem de cena e dão lugar ao sujeito que busca enquadrar-se nas determinações genéricas do mundo social massificado. O “homem-massa”, assim afirma Ortega, sente-se confortável quando se vê igual a todo mundo, em conformidade com a massa (Fonte: Brasil Escola]. 

Fonte: Folha de S. Paulo – Poder / Colunas e Blogs – Quinta-feira, 31 de dezembro de 2020 – Pág. A5 – Internet: clique aqui (acesso em: 02/01/2021).

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