«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 23 de janeiro de 2021

Educação, urgente!

 Cerca de 4 milhões abandonaram estudos na pandemia, diz pesquisa

 Paulo Saldaña

Jornalista 

Taxa de abandono é de 10,8% no ensino médio e 16,3% no superior, segundo levantamento Datafolha a pedido do C6 Bank

 

Em 2020, ano marcado pelo novo coronavírus, quarentena e interrupção de aulas presenciais, 8,4% dos estudantes com idade entre 6 e 34 anos matriculados antes da pandemia informaram que abandonaram a escola. 

O percentual representa cerca de 4 milhões de alunos, montante superior ao da população do Uruguai. 

Questões financeiras e falta de acesso a aulas remotas estão entre os principais motivos do abandono e o problema é maior entre os mais pobres. As informações são de pesquisa do Instituto Datafolha, sob encomenda do C6 Bank, e obtida pela Folha. 

Essa é a primeira sondagem que mostra o impacto da pandemia na permanência de estudantes em escolas e faculdades. A divulgação das estatísticas oficiais ainda leva mais tempo. 

O Datafolha realizou 1.670 entrevistas, por telefone (com estudantes ou responsáveis), entre os dias 30 de novembro e 9 de dezembro. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, e os resultados têm confiabilidade de 95%. 

O pior índice de abandono é registrado entre os que estavam matriculados no ensino superior, com taxa de 16,3%. 

Na educação básica, 10,8% dos estudantes do ensino médio informaram ter largado os estudos, e o percentual ficou em 4,6% no fundamental. 

As taxas são bastante superiores aos índices oficiais de abandono registrados na educação básica do Brasil, que, por sua vez, já são altos. Em 2019, ano do último dado oficial disponível, o índice médio no ensino fundamental foi 1,2% e, no ensino médio, de 4,8%. 

O país acumula:

* 26,9 milhões matrículas no ensino fundamental e

* 7,5 milhões no médio, segundo os dados do MEC (Ministério da Educação).

* São 8,6 milhões de matrículas de nível superior. 

A amostra da pesquisa do Datafolha guarda relação com a realidade educacional brasileira. Mais de 80% dos estudantes dos ensinos fundamental e médio eram de escolas públicas e, no superior, mais de 70% estavam no setor privado. 

Na universidade, 42% daqueles que abandonaram o fizeram por falta de condições de pagar as mensalidades. Já na educação básica a precariedade da manutenção de aulas aparece como principal motivação para largar os estudos. 

Ter ficado sem aulas surge como explicação do abandono para quase um terço dos estudantes matriculados no ensino fundamental (28,7%) e médio (27,4%). 

A maior proporção, sob este motivo, foi registrada entre crianças e adolescentes de 11 a 14 anos (faixa ideal para os anos finais do fundamental, entre o 6º e 9º anos). 

O aumento do abandono escolar em meio à pandemia tem sido uma das maiores preocupações por causa da quebra de vínculo entre alunos e escolas causada pela quarentena. 

A desigualdade se impôs como um desafio ainda maior. A taxa média de abandono apurada pela pesquisa é de 10,6% nas classes D e E, contra 6,9% na classe A. 

Escolas e faculdades passaram a interromper atividades presenciais em março do ano passado.

O ano foi marcado pela ausência do MEC do governo Jair Bolsonaro (sem partido) no apoio às ações educacionais de estados e municípios, que concentram as matrículas.

Mais de 6 milhões de estudantes de 6 a 29 anos não haviam tido acesso a atividades escolares durante outubro. Segundo a pesquisa Pnad Covid-19 do IBGE, divulgada em dezembro, isso representa 13,2% dos estudantes dessa faixa etária. 

Até o meio do ano passado 2 em cada 10 redes públicas de ensino não contavam com planos para evitar a perda de alunos, segundo estudo do comitê de Educação do Instituto IRB (Rui Barbosa), que agrega tribunais de contas do país, e do centro de pesquisas Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional). 

Entre os que largaram os estudos, 17,4% dizem não ter intenção de retornar neste ano. A taxa sobe a 26% dos que estavam no ensino médio. 

Chama-se de evasão essa situação em que um aluno deixa os estudos em um ano e não se matricula no seguinte. O dado oficial mais recente, de 2017-2018, registra uma evasão média de 2,6% no ensino fundamental e 8,6% no médio. 

Em 2019, havia 88,6 mil crianças e jovens de 6 a 14 anos fora da escola. Entre jovens de 15 a 17 anos, faixa etária ideal para o ensino médio, eram 674,8 mil excluídos do sistema educacional (7,6% dessa população). 

Para Cezar Miola, presidente do comitê técnico da Educação do IRB, o combate ao abandono e à evasão exige um esforço conjunto de governos, redes de ensino, profissionais de educação e órgãos de controle. 

"Percebemos muito empenho e dedicação no ano passado, mas foi insuficiente", diz Miola.

"Parte dos problemas que levam ao abandono é que houve verdadeira desconexão da família com a escola, e esse ponto-chave casa com investimentos adequados." 

A Unicef tem um projeto de busca ativa de evadidos. Entre 2017 e 2019, a iniciativa, em parceria com mais de 3.000 prefeituras, conseguiu chegar a 80 mil crianças e jovens que estavam fora da escola —no ano passado, foram 40 mil. 

Quase um quarto dos jovens de 15 a 17 anos estava na escola fora da etapa adequada no país, ou seja, não cursavam o ensino médio. O atraso escolar era quatro vezes maior entre os 20% da população com menores rendimentos domiciliares (33,6%) em comparação com os que faziam parte dos 20% com os maiores rendimentos (8,6%). A taxa ajustada de frequência líquida, que mostra adequação entre o nível de ensino e a idade do aluno, era de 69,3%, passando de 54,6% entre os jovens das famílias mais pobres a 89,9% entre os mais ricos. Os dados são de 2019, último ano pesquisado pelo IBGE.

"O cenário é absolutamente preocupante, corremos o risco real de ter uma grande quantidade de crianças e adolescentes fora da escola", diz Ítalo Dutra, chefe de Educação do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). 

Dutra afirma ser necessário uma ação coordenada e focada, com o entendimento de que ter crianças e adolescentes fora da escola representa a violação mais extrema do direito à educação. O que implica, diz ele, que outros direitos podem estar sendo violados, como acesso à saúde, proteção à violência e segurança alimentar. 

"Nos últimos dois anos não há coordenação efetiva do MEC para essas ações", diz. "Precisamos ter uma busca ativa, saber o que está acontecendo e atuar com toda rede de proteção." 

"Precisa rematricular e ver fatores de risco para abandonar de novo, por isso todo o sistema de proteção tem de estar funcionando articulado", afirma Dutra. 

Questionado, o MEC não respondeu à Folha sobre o que fez ou pretende fazer para lidar com a situação. 

O levantamento sobre abandono escolar faz parte de uma série de pesquisas encomendadas pelo C6 Bank para entender os impactos da pandemia no Brasil. 

Fonte: Folha de S. Paulo – Saúde – Sábado, 23 de janeiro de 2021 – Pág. B6 – Internet: clique aqui (acesso em: 23/01/2021).

 

Quem é prioritário?

 Na nossa fila de privilégios e direitos, as crianças ocupam o último lugar

 Demétrio Magnoli

Sociólogo, autor, entre outros, de “Uma Gota de Sangue: História do Pensamento Racial”. É doutor em Geografia Humana pela USP 

Será que a nossa primeira preocupação é, mesmo, com a vida?

RAPHAELA DOS SANTOS, tem 5 anos de idade, mora em Paraisópolis, São Paulo, capital

Raphaela dos Santos, 5 anos, de Paraisópolis, esqueceu como escrever seu nome e os números. Ana Júlia, 5 anos, quase vizinha, ainda escreve seu primeiro nome, mas não o segundo. A Prefeitura de São Paulo não definiu data para reabertura das escolas, mas garante que aplicará medidas de recuperação de conteúdos que “eventualmente foram perdidos” (Folha, 27/12).

2020 ficará na memória como o ano em que o Brasil tirou a máscara, evidenciando que, na nossa fila de privilégios e direitos, as crianças ocupam o último lugar.

Não venha comparar as nossas escolas com as da Europa!” Benin, Chade, Burkina Faso, Guiné Equatorial, República do Congo, Serra Leoa e Cabo Verde — anote esses nomes, professor. São alguns dos países africanos que, em outubro, já tinham retomado aulas presenciais. Sugiro uma atividade para o dia distante da volta à escola: colori-los no mapa. Título: onde sobrevive o direito à educação. 

A vida primeiro! As crianças infectarão os professores e seus próprios familiares.” A ciência diz coisa diferente. Crianças não são grupo de risco e não participam significativamente da cadeia de transmissão. Mas, ao que parece, o consenso científico vale apenas quando não colide com os interesses corporativos. E, de mais a mais, sempre haverá algum “especialista” de rede social disponível para afirmar o que se quer ouvir. 

Só depois da vacinae da reforma física dos edifícios escolares.” A Apeoesp, que recusa o retorno antes da Volta do Messias (o Jesus, não o Jair), solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a vacinação dos professores na “primeira etapa”, antes da maioria dos idosos. Não está só: junta-se a entidades de promotores e ao próprio STF, que pediram à Anvisa o mesmo privilégio. De qualquer modo, as vacinas não foram testadas em crianças, justamente porque não pertencem aos grupos de risco. Assim, por enquanto, nem mesmo se planeja a imunização de crianças. O álibi perdurará. 

Alemanha, França e Inglaterra anunciaram lockdown nas últimas semanas, diante do salto de números de casos da Covid-19. Inúmeros locais públicos foram fechados, menos as escolas. Foto: Serge Haouzi/Xinhua

Ação judicial em defesa da vida.” A Apeoesp impetrou um mandado de segurança no Tribunal de Justiça de São Paulo “para que as aulas presenciais não retornem em plena pandemia”. Na prática, se os juízes cederem à chantagem sindical, a rede estadual de escolas públicas permanecerá fechada ao longo de todo o primeiro semestre. É missão dos professores ensinar a lição da igualdade de direitos. Por que todos os sindicatos de profissionais que trabalham presencialmente não impetram ações judiciais similares? 

Bolsonarista genocida!” Bolsonaro é como um relógio quebrado, que marca a hora certa duas vezes por dia. São “genocidas” os pediatras que apelam pela volta às aulas? A Unicef? A OMS? A linguagem boçal da extrema direita encontra espelho perfeito na linguagem pilantra do sindicalismo docente. A segunda, aliás, reforça a primeira, tecendo os fios das insistentes taxas de aprovação do presidente negacionista entre os pobres. 

Greve geral, pela vida!” Médicos e enfermeiros não fizeram paralisação. Motoristas, comerciários, entregadores compareceram todos os dias. Trabalhadores dos setores essenciais circularam em ônibus, trens e metrô. A quarentena de uns depende da aglomeração de outros. Mas a chantagem funciona: políticos espertos, como Covas, sempre temem a ira santa dos sindicatos de professores. 

No site da Apeoesp aparece um mapa colorido com os 320 municípios paulistas que “rejeitam o retorno precoce das aulas presenciais”. A peça cartográfica foi atualizada em meados de outubro, precisamente quando completou-se a reabertura escolar naqueles sete países africanos. É uma ilustração sem igual da escala de prioridades, da mendacidade e do oportunismo de nossa elite política, da qual faz parte a aristocracia sindical docente. 

O mapa deve ser guardado — e não só para os cursos de ciência política. Algum dia, a Raphaela aprenderá a ler. Saberá, então, quem sabotou a vida dela, em nome da vida. 

Fonte: Folha de S. Paulo – Poder / Colunas e Blogs – Sábado, 23 de janeiro de 2021 – Pág. A7 – Internet: clique aqui (acesso em: 23/01/2021).

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