«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 30 de março de 2021

Começando a Semana Santa

 Se este é um homem

 Enzo Bianchi

Teólogo, biblista e fundador da Comunidade de Bose (Itália) 

Sim, Jesus foi condenado pelo poder religioso sobretudo porque libertava o homem das imagens perversas de Deus e foi morto pelo poder imperial totalitário porque era “perigoso”

Cena em que Pilatos apresenta Jesus, após ser torturado, dizendo: "Eis o homem!" (evangelho segundo João 19,5)

Entramos na semana que os cristãos chamam de “santa” porque é a semana que expressa a fé dos seguidores de Jesus, esse galileu que com palavras e vida quis nos falar sobre Deus e nos entregou uma mensagem muito humana. De várias maneiras (ritos, orações...) os cristãos lembram especialmente os últimos dias de Jesus, sua paixão e morte, e afirmam que o amor vivido por esse homem venceu a morte. Gostaria, se for capaz, de tentar expressar que significado pode ter para todos, mesmo para os não cristãos, a memória de eventos ocorridos há cerca de dois mil anos. 

Segundo o quarto Evangelho, Pilatos, o procurador romano, durante o processo apresenta Jesus torturado à multidão que quer sua morte com as palavras: “Eis o homem!”, um homem fraco e maltratado com violência pelos soldados, um homem escarnecido, desprezado e desfigurado, aquele homem que está sempre presente na história e que devemos ver no pobre, no oprimido, na vítima do poder, naquele que nada conta neste mundo.

Aquele espetáculo da véspera da Páscoa no pretório é o espetáculo de que ainda somos espectadores na nossa atualidade.

Não se trata de alimentar visões de dor, mas simplesmente de ter consciência de que aquela paixão, aquela história de injustiça e violência mortal continua ainda hoje, e que cada um de nós deve dizer: “Eis o homem!”. Eis a humanidade! E também pensar: “Se este é um homem ...”, naquela condição desumana que gostaríamos de não ver ou ver com resignação. Essa é também a epifania do que significa estar na desumanidade, estar nas profundezas da alienação, ser um descartado nessa corrida que o mundo leva sem se questionar sobre a violência, o abuso, a guerra e a injustiça de que é capaz. Nos séculos passados, a cristandade, precisamente para não se responsabilizar pela violência que perpetrou sobre os homens, inventou o deicídio atribuindo-o aos judeus, impedindo assim de ver naquela de Jesus nada além da paixão de um inocente perseguido. 

A releitura, a meditação sobre a paixão de Jesus não nos leva a concluir que estamos a salvo do sofrimento, mas nos revela que pode haver uma confiança que não deixa na mão mesmo quem sofre, que pode haver uma forma de viver o amor que é dado e que se recebe mesmo quando somos atingidos pelo poder do ódio, que podemos nos nutrir de esperança mesmo no aparente fracasso. E devemos reconhecer que outros humanos, homens e mulheres como Jesus, souberam viver assim sua “paixão”. 

Sim, Jesus foi condenado pelo poder religioso sobretudo porque libertava o homem das imagens perversas de Deus e foi morto pelo poder imperial totalitário porque era “perigoso” e, devemos admitir, como tantos outros ainda hoje!

Mas para todas essas vítimas da história é nosso dever lembrar que a capacidade da humanidade de amar, de esperar, de perdoar pode brilhar nos caminhos do sofrimento para romper o círculo infernal do ódio e da violência.

O relato da Paixão de Jesus termina com as palavras “começaram a brilhar as luzes do sábado” (Lc 23,54), um novo dia na história da humanidade. 

Traduzido do italiano por Luisa Rabolini. O artigo original foi publicado pelo jornal italiano “La Repubblica” (Roma), em 29 de março de 2021. 

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Terça-feira, 30 de março de 2021 – Internet: clique aqui (acesso em: 30/03/2021).

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