Descoberta arqueológica
Israel descobre novos manuscritos do Mar Morto
Agências AFP/Reuters
País
revelou fragmentos de um pergaminho bíblico de 2.000 anos de antiguidade,
descoberto no deserto da Judeia, no sul do país
Tatyana Bitler, curadora da Autoridade de Antiguidades de Israel, mostra fragmentos de pergaminhos do Mar Morto em um laboratório em Jerusalém, em 2 de junho de 2020. Foto: MENAHEM KAHANA / AFP |
“Pela primeira vez em quase 60 anos, as escavações arqueológicas revelaram fragmentos de um pergaminho bíblico”, afirma a Autoridade de Antiguidades de Israel (AAI) em um comunicado.
Escritos em grego, os fragmentos tornaram possível, segundo pesquisadores israelenses, reconstruir passagens dos livros de Zacarias e Naum, que fazem parte do livro dos 12 profetas menores da Bíblia.
A
Autoridade também disse que, embora o novo pergaminho seja escrito
principalmente em grego, o nome de Deus, Yahweh, aparece em antigas letras
hebraicas típicas do período do chamado primeiro templo, ou Templo de Salomão,
construído no século XI antes de Cristo.
É provável que a nova descoberta seja uma parte ausente de um pergaminho dos Profetas Menores descoberto em 1952, que inclui a profecia de Miquéias sobre o Fim dos Dias e a ascensão de um governante de Belém.
A principal teoria é de que os pergaminhos não foram escritos por um único povo, alguns são em hebraico, alguns em aramaico e alguns em grego. O mais novo pergaminho a ser encontrado, ou melhor, seus fragmentos, está em grego, disse o IAA.
O material foi encontrado durante escavações em uma caverna em um penhasco na reserva natural Nahal Hever, no âmbito de uma campanha para combater o saque de patrimônio.
Um dos pedaços do pergaminho do Mar Morto encontrado por Israel nesta semana. Foto: REUTERS/Ammar Awad |
Outras descobertas
Feita de junco trançado, a cesta - completa, com tampa - tem mais de 10.500 anos, baseado na datação por radiocarbono da professora Elisabetta Boaretto, do Instituto Weizmann de Ciência de Rehovot, disse o IAA. Esse é o período Neolítico, anterior à chegada da cerâmica na região (a cerâmica surgiu no leste da Ásia bem antes).
Como os pergaminhos muito posteriores, a cesta sobreviveu todos esses anos por causa do notável calor e aridez em sua localização: as cavernas Muraba’at na Reserva Nahal Darga.
Além disso, era grande, com uma capacidade de cerca de 90
a 100 litros, o que sugeria aos arqueólogos que talvez fosse usado para
armazenamento - especialmente por ter sido colocado em uma cova escavada no
chão de uma caverna do período Neolítico. A cesta que pode ser a mais antiga do mundo, do período Neolítico, encontrada em Israel
Isso por si só sugere que era usado para armazenamento pelos povos nômades que habitavam a área há mais de 10.000 anos, na época em que visitavam a caverna, dizem os arqueólogos. No entanto, nenhum resto foi encontrado dentro da cesta, até o momento, que pudesse indicar o que ela poderia ter sido usada para armazenar.
A cesta foi encontrada por adolescentes da academia
pré-militar de Nofei Prat, disse o IAA. Os pesquisadores também encontraram os restos
mortais naturalmente mumificados de uma criança, provavelmente uma menina,
enrolada em um pano - como se um cobertor tivesse sido colocado sobre ela,
disseram. Esqueleto de 6.000 anos de uma criança encontrado pelos arqueólogos no deserto da Judeia - Divulgação/Autoridade de Antiguidades de Israel
Completo com cabelo, o corpo foi datado de cerca de 6.000 anos atrás, antes dos pergaminhos em cerca de quatro milênios. A criança, enrolada em posição fetal, tinha aparentemente de 6 a 12 anos, com base em uma varredura preliminar feita pela Dra. Hila May, da Universidade de Tel Aviv.
Os arqueólogos encontraram um esconderijo de moedas dos
dias da revolta de Bar Kochba contra os romanos em 133-135 d.C. As moedas
trazem os símbolos judaicos típicos da época, como uma harpa e uma tamareira. Algumas das moedas encontradas no Deserto da Judeia
Trabalhando em três equipes sob as ordens dos oficiais do IAA Oriah Amichai, Hagay Hamer e Haim Cohen, os pesquisadores também descobriram pontas de flechas e lanças, tecidos, sandálias e até pentes contra piolhos da época da revolta.
As descobertas extraordinárias foram feitas em uma missão em
massa para encontrar relíquias dos tempos pré-históricos e bíblicos antes dos
saqueadores, explicou o Diretor Geral da IAA, Israel
Hasson. O saque de antiguidades é um grande problema em todo o
mundo: em janeiro, as autoridades capturaram milhares de objetos preciosos em
Tel Aviv. Pente para pegar piolhos de mais de dois mil anos, encontrado por arqueólogos de Israel. Foto: EFE/EPA/ATEF SAFADI
O projeto nacional de vasculhar todas as cavernas e ravinas do Deserto da Judeia começou em 2017 como um projeto IAA em cooperação com o Departamento de Arqueologia da Administração Civil na Cisjordânia e foi financiado pelo Ministério de Assuntos e Patrimônio de Jerusalém. Até agora, cerca de 80 quilômetros de cavernas desérticas foram pesquisados, incluindo o uso de drones para acessar lugares especialmente inacessíveis, disse o IAA.
De todas as centenas de pergaminhos encontrados até o momento, apenas três são relativamente completos. O restante tem cerca de 25.000 fragmentos, estimam os estudiosos. Enormes esforços estão sendo investidos na tentativa de reconstruir os textos a partir dos fragmentos usando tecnologias de ponta.
Desde que um pastor beduíno descobriu os primeiros
pergaminhos em 1947, esses textos antigos revolucionaram o conhecimento
sobre o Judaísmo e os muitos grupos e seitas dos quais derivaram o Judaísmo
rabínico e o Cristianismo. Segundo especialistas, os Manuscritos do Mar Morto
mostram que, quando foram escritos, o texto considerado como o Antigo
Testamento ainda não havia sido finalizado, e os rituais de adoração judaica
ainda não estavam consolidados.
Os manuscritos de Qumran
Desde a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, há mais de 70 anos, nas cavernas de Qumran, as cavernas rochosas do Deserto da Judeia se tornaram alvo de saqueadores de antiguidades.
Esses 900 manuscritos [de Qumran] são considerados uma das descobertas arqueológicas mais importantes de todos os tempos, porque incluem textos religiosos em hebraico, aramaico e grego, assim como a versão mais antiga conhecida do Antigo Testamento. Foram escritos por volta do terceiro ou segundo século antes de Cristo até primeiro século depois de Cristo, de autoria desconhecida.
Apenas alguns dos cerca de 900 encontrados estão mais ou menos completos. O resto está danificado e fragmentado. No entanto, o estudo dos pergaminhos foi possível, inclusive graças à restauração meticulosa. Sabe-se que eles contêm as primeiras versões conhecidas de muitos textos bíblicos, apócrifos religiosos, comentários e manuscritos místicos.
Fonte: O Estado de S. Paulo – Internacional – Terça-feira, 16 de março de 2021 – 08h01 – Atualizado em 16 de março de 2021 às 11h26 (Horário de Brasília – DF) – Internet: clique aqui (acesso em: 16/03/2021).
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