Domingo de Ramos – Ano B – HOMILIA

Evangelho: Marcos 11,1-10 

Naquele tempo:

1 Quando se aproximaram de Jerusalém, na altura de Betfagé e de Betânia, junto ao monte das Oliveiras, Jesus enviou dois discípulos, 2 dizendo: «Ide até o povoado que está em frente, e logo que ali entrardes, encontrareis amarrado um jumentinho que nunca foi montado. Desamarrai-o e trazei-o aqui! 3 Se alguém disser: “Por que fazeis isso?”, dizei: “O Senhor precisa dele, mas logo o mandará de volta”.»

4 Eles foram e encontraram um jumentinho amarrado junto de uma porta, do lado de fora, na rua, e o desamarraram. 5 Alguns dos que estavam ali disseram: «O que estais fazendo, desamarrando este jumentinho?» 6 Os discípulos responderam como Jesus havia dito, e eles permitiram.

7 Trouxeram então o jumentinho a Jesus, colocaram sobre ele seus mantos, e Jesus montou. 8 Muitos estenderam seus mantos pelo caminho, outros espalharam ramos que haviam apanhado nos campos. 9 Os que iam na frente e os que vinham atrás gritavam: «Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! 10 Bendito seja o reino que vem, o reino de nosso pai Davi! Hosana no mais alto dos céus!»


 Alberto Maggi

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano

Jesus é um messias incompreendido pelo seu povo 

No Domingo de Ramos questiona-se: como foi possível que as multidões que aclamavam Jesus ao grito de «Hosana» fossem as mesmas que, em poucas horas, gritavam com ódio «Crucifica-o»? O que aconteceu? Marcos, o Evangelista, nos explica isso no capítulo 11, em seus primeiros onze versículos. 

«Quando estavam perto de Jerusalém», Jesus está no final de sua jornada e sobe à cidade sagrada onde encontrará a morte, em direção a Betfagé e Betânia, são duas pequenas aldeias perto de Jerusalém, perto do Monte das Oliveiras. Todas essas são indicações topográficas, mas também teológicas que o evangelista está nos dando e o Monte das Oliveiras é a imagem da ressurreição. 

«Ele enviou dois de seus discípulos e disse-lhes: vão até a aldeia», esta é a primeira indicação importante que o evangelista coloca para entender o que está por vir. A aldeia, mas é estranho porque são duas aldeias: Betfagé e Betânia. Por que o evangelista fala da aldeia? A aldeia é um termo técnico usado pelos evangelistas para indicar incompreensão ou hostilidade a Jesus e sua mensagem porque a aldeia, ao contrário da cidade onde as tendências vão e vêm, a aldeia é o lugar da tradição onde vige o imperativo: sempre foi assim, por que mudar? Assim, o evangelista nos faz entender que o episódio é marcado por mal-entendidos. 

«À vossa frente, logo ao entrar, encontrareis um jumentinho amarrado», literalmente um burro, «no qual, ainda, ninguém montou. Desamarrai-o e trazei-o aqui». A ação de Jesus é uma ação altamente simbólica e profética. Ao que isso se refere? Houve uma profecia do profeta Zacarias que foi contra a correnteza. Enquanto todos os outros escritos viram um messias triunfante com a violência, com o poder, Zacarias, no nono capítulo de seu livro, escreve: «Alegra-te muito, ó filha de Sião, alegra-te ó filha de Jerusalém; eis que teu rei está vindo até ti; ele é justo e vitorioso, humilde montado em um burro». Por que humilde montado em um burro? A montaria real era a mula e o jumento era do povo, dos servos, um jumentinho filho de uma jumenta. E, então, a continuidade é a parte mais importante desta profecia: «Ele fará desaparecer de Efraim o carro de guerra e o cavalo de Jerusalém, o arco de guerra será quebrado e anunciará a paz às nações». Essa era a profecia, mas essa profecia foi meio deixada de lado, meio que amarrada. Então, com Jesus, esta profecia está desatada. Desse modo, ao desamarrar esse burro, esse jumentinho, essa profecia se tornam realidade, esse é o significado. 

«E se alguém vos disser: “Por que estais fazendo isso?” Respondei: O Senhor”», ou seja, o seu mestre, «“precisa, mas ele o mandará de volta aqui imediatamente”». Eles foram e encontraram um jumento amarrado perto de uma porta, fora da estrada, o que isso significa? Que esta profecia era à vista de todos, como um jumento amarrado na estrada. Todos o podiam ver, mas essa profecia não foi considerada porque predominava a ideia nacionalista de um messias triunfante com a violência. 

«E eles o desamarraram. Alguns dos presentes disseram-lhes: “Porque é que desamarrais este jumentinho?”, E responderam-lhes como Jesus tinha dito e deixaram que o fizessem». Portanto, há adesão a esta novidade proposta por Jesus, e aqui está o culminar desta cena. Eles trouxeram o burro, o jumentinho até Jesus e jogaram suas capas sobre ele. Qual é o significado desse gesto. A capa indica a pessoa. Então os discípulos que jogam seu manto sobre esse jumentinho indicam que eles concordam com a imagem de um messias da paz, um messias não violento, um messias não guerreiro. E Jesus subiu, sentou-se sobre ele, indicando a real dignidade com que ele ocupa o seu lugar nesta imagem de um messias de paz. 

Mas ... nem todos têm a mesma reação. «Muitos estenderam suas capas pela estrada», quando o rei era ferido, quando o rei era coroado, os súditos, em sinal de submissão, pegavam sua capa que, como já dissemos indica a pessoa, e a estendiam na estrada e o rei passava sobre elas. Indicava o domínio. Essas pessoas não entendem o sinal da profecia e aceitam ser dominadas e subjugadas por um messias, mesmo que seja triunfante.

«Outros, ao invés, estenderam ramos cortados dos campos», por que esses ramos? Havia uma festa muito importante, a festa das tendas, que era a festa em que se acreditava que o messias, o libertador, seria revelado. Portanto, essa é a tentação que eles fazem a Jesus, ser este messias vitorioso, aquele que assume o poder. E Jesus, enquanto no início do capítulo anterior estava escrito que ele precedia o grupo, agora, Jesus é como um prisioneiro. De fato, o evangelista escreve: «Aqueles precediam e aqueles que seguiam gritavam», portanto, Jesus está no meio. Já não é Jesus quem indica o caminho, mas pelo que ele parece estar preso? Ele é conduzido por esta multidão entusiasta que deseja que Jesus seja o messias da tradição, da violência, do poder. 

E gritavam: «Hosana, Hosana é um salmo, salmo 118, que foi cantado justamente por ocasião da festa das tendas, que significa salva-nos Senhor. «Bendito aquele que vem em nome do senhor», e aqui está o mal-entendido, «bendito o reino que vem, de nosso pai Davi Não é o reino de Deus anunciado por Jesus:

* esse reino sem fronteiras,

* universal porque o amor não tolera muros, não tolera fronteiras, mas é o reino de Davi. Então, as pessoas estavam esperando a restauração do reino morto de Davi e como? Por meio da violência. Aqui está o mal-entendido dessa passagem. 

«E eles continuavam Hosana», ou seja, salva-nos «do mais alto dos céus», ou seja, mostra o poder divino para nos salvar. Eles pedem o apoio de Deus para dominar. «E ele entrou em Jerusalém no templo», e aqui a atmosfera está carregada de tensão, a qual, então, explodirá em um incidente, «e depois de olhar tudo ao redor», há uma grande tensão que prepara o confronto que Jesus terá com as autoridades do templo, «como já era tarde, ele saiu com os doze em direção a Betânia». Aqui a atmosfera parece se acalmar, não há mais a multidão empolgante, há um momento de pausa vamos ver qual será a próxima ação de Jesus, aquela que, então, decidirá a sua sorte. 

Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

Como o cristianismo é paradoxal! Sim, pois, muitos daqueles que aclamam, veneram, louvam e se dizem amantes de Jesus Cristo, jamais o fariam se soubessem que tipo de MESSIAS ele realmente é!

Assim se deu com os moradores de Jerusalém e outros que lá estavam para a Festa da Páscoa. Louvaram e cantaram “hosanas” a Jesus porque imaginaram que estivesse chegando o messias tradicional, o messias com poder e violência, tal como apresentado por uma forte tradição religiosa dos judeus. No entanto, Jesus mostrou-se, com palavras e atitudes, o messias à la Zacarias, um profeta não valorizado, esquecido pela tradição religiosa de seu povo!

A rejeição a Jesus se deu no passado e se dá, ainda, nos tempos atuais! Basta a Igreja apresentar ao povo a verdadeira face de Cristo, para que muitos a acusem de “comunista”, “esquerdista”, “vermelhista” e outros adjetivos semelhantes. Predomina na mentalidade de muitas pessoas, que Jesus, o Messias, seja alguém dócil, inofensivo, preocupado somente com as “coisas espirituais”, com as “coisas do alto”.

Ainda hoje, muitos querem uma intervenção divina que venha dos céus! Sim, muitas pessoas pensam que Deus possa mudar a realidade como se fosse uma mágica.

Acontece que Deus atua na história humana, por meio de seres humanos!

O mundo é aquilo que nós, seres humanos feitos à imagem e semelhança de Deus, fizemos e fizermos dele! Porém, é sempre mais cômodo e tranquilo aguardar que tudo venha de cima, dos céus, dos poderosos!

Não será essa a atitude de Jesus, ele inaugura a sua semana em Jerusalém:

* amaldiçoando uma figueira que somente tinha uma bela aparência, folhas, mas não produziu frutos (cf. Mc 11,12-14)!

* Expulsando os vendedores e cambistas do Templo de Jerusalém, os quais pervertiam o objetivo daquele lugar que deveria ser de oração e íntimo contato com Deus (cf. Mc 11,15-19).

* O que tudo isso nos ensina? O que este evangelho de hoje nos questiona? 

Fonte: CENTRO STUDI BIBLICI “G. VANNUCCI” – Videomelie e trascrizione – Domenica delle Palme – 25 marzo 2018 – Internet: clique aqui (acesso em: 25/03/2021).

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