3º Domingo da Quaresma – Ano B – HOMILIA
Evangelho: João 2,13-25
13 Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. 14 No Templo, encontrou os vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas que estavam aí sentados. 15 Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. 16 E disse aos que vendiam pombas: «Tirai isto daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!» 17 Seus discípulos lembraram-se, mais tarde, que a Escritura diz: «O zelo por tua casa me consumirá». 18 Então os judeus perguntaram a Jesus: «Que sinal nos mostras para agir assim?» 19 Ele respondeu: «Destruí, este Templo, e em três dias o levantarei». 20 Os judeus disseram: «Quarenta e seis anos foram precisos para a construção deste santuário e tu o levantarás em três dias?» 21 Mas Jesus estava falando do Templo do seu corpo. 22 Quando Jesus ressuscitou, os discípulos lembraram-se do que ele tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra dele. 23 Jesus estava em Jerusalém durante a festa da Páscoa. Vendo os sinais que realizava, muitos creram no seu nome. 24 Mas Jesus não lhes dava crédito, pois ele conhecia a todos; 25 e não precisava do testemunho de ninguém acerca do ser humano, porque ele conhecia o homem por dentro.
Alberto
Maggi
Frade da Ordem dos Servos de Maria (servitas) e renomado biblista
italiano
O ser humano é o verdadeiro templo de Deus
Continuando o caminho da Quaresma, a Igreja está nos
preparando para o momento traumático da morte, do assassinato de Jesus; mas por que Jesus foi morto? O Evangelho de hoje é
revelador disso. As pessoas, o povo, os próprios discípulos, sua família
reconheceram Jesus como o messias, mas o messias que eles esperavam era um
messias reformador das sagradas instituições de Israel. Bem, a nova relação
que é proposta por Jesus entre Deus e os homens envolve, em vez disso, o desaparecimento
das instituições da antiga aliança. No entanto, os profetas haviam
anunciado a atividade de um Deus que viria para purificar, para sanar essas
instituições, começando com o templo, a lei, o sacerdócio...
... Jesus não veio para reformar, não veio para purificar, mas veio
para eliminar, porque a nova relação que ele propõe com o Pai não precisa mais
dessas instituições.
E a primeira [dessas instituições], vemos no Evangelho de hoje, é o templo em Jerusalém. Jesus entra no templo e o que ele encontra? Que o verdadeiro Deus do templo não é o seu Pai, mas sim os juros, é o dinheiro, esta era a alma do templo. Então Jesus, escreve o evangelista, leva um chicote. O chicote era a imagem do Messias que viria punir os pecadores, ou seja, os excluídos do templo. Jesus Messias leva um chicote, mas ele não pune os pecadores, os excluídos do templo, mas aqueles que são realmente a alma do templo, aqueles que são o comércio do templo; por quê?
Os sacerdotes, a instituição religiosa, desfigurou a imagem de Deus
e fez dele um Deus que absorve, suga a energia dos homens.
Na Bíblia, lemos o imperativo de Deus várias vezes, é claro
que foram os sacerdotes que o fizeram dizer: «Ninguém venha diante de mim de
mãos vazias». E assim era tudo uma entrada contínua de dinheiro para os
sacrifícios, para as orações, para o imposto obrigatório a ser dado ao templo.
Jesus apresenta um Deus completamente diferente: um Deus que não
pede, mas dá, um Pai que não absorve as energias dos homens, mas comunica a sua
aos homens; ...
... um Deus que pede a cada criatura que seja acolhida para se fundir com ele, expandir a sua capacidade de amar, e aqui está a revelação que Jesus fará nesta passagem do Evangelho e que a seguir estenderá a todos os que creem, para que toda pessoa se torne o único verdadeiro santuário no qual o amor de Deus se manifesta.
Isto é o que Jesus dirá diante da reação à sua ação, ele
falará de seu corpo como o santuário de Deus. O Pai de Jesus não está nem
longe no céu nem em um templo, mas está no coração das pessoas. Inclusive,
Jesus, neste Evangelho, no capítulo 14, versículo 23 afirmará: «Àquele que
me ama, meu Pai e eu viremos até ele e nele habitaremos».
O ser humano é o novo santuário do Espírito, o ser humano é a nova
casa de Deus.
Mas isso é perigoso para a instituição porque, se o ser humano é este santuário de Deus, então o que é apresentado como o templo, o santuário de Deus, não tem mais direito de existir. Eis então a razão do assassinato de Jesus: Jesus e o templo são incompatíveis, um exige a eliminação do outro e para a casta sacerdotal no poder, segundo sua própria conveniência, dirá o sumo sacerdote numa dramática reunião do Sinédrio: “É conveniente para nós matarmos este homem, caso contrário toda a instituição religiosa explode”.
Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.
Reflexão Pessoal
Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo
É chocante descobrir que os principais interessados e
causadores da morte de Jesus foram a própria classe dirigente religiosa de seu
tempo! Isso mesmo, aqueles que deveriam ser os responsáveis por conduzir o povo
a Deus e defender os interesses, a Vontade divina na Terra, viram em Jesus um obstáculo, um inimigo!
Por quê?
Porque a elite religiosa do tempo de Jesus tinha uma
predileção especial pela manutenção de suas tradições e estruturas
religiosas do que pela obediência à Vontade de Deus! Pois, tudo isso
trazia-lhe muitos privilégios: poder, influência e riqueza.
Esse é o risco que todos nós, inclusive nos tempos de hoje,
corremos se olharmos para os interesses pequenos e bem terrenos da instituição!
Em toda a história do cristianismo, essa sempre foi uma das principais
tentações: colocar a instituição, as estruturas e esquemas que criamos à frente
da Vontade divina. Quando isso acontece, o dinheiro, o poder, a fama,
o sucesso aparecem como os grandes ideais a serem perseguidos, ao invés,
de uma vida missionária dedicada aos mais pobres, injustiçados e receptíveis ao
Plano de Deus!
O verdadeiro santuário, a verdadeira Igreja não é aquilo
que construímos com nossas mãos, mas o homem e a mulher que aceitam tornar-se
seguidores de Jesus Cristo. O que importa, de verdade, é a Igreja ocupar-se
daqueles que são os prediletos, os escolhidos pelo Pai de Jesus: os
excluídos sejam da sociedade, sejam da própria religião!
Vamos refletir:
* Será
que nos damos conta de que Jesus não foi um mero reformador, mas transformador
radical das estruturas e tradições religiosas de sua época?
* Este
fato, mencionado acima, em que mexe com o modo de sermos cristãos nos dias de
hoje?
* Não seríamos, atualmente, muito mais apegados a certas tradições e mentalidade religiosa que mais nos afastam do que aproximam do verdadeiro Deus, do verdadeiro Cristo?
Fonte: CENTRO STUDI BIBLICI “G. VANNUCCI” – Videomelie e trascrizione – III Domenica Quaresima – 7 marzo 2021– Internet: clique aqui (acesso em: 06/03/2021).
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