«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 6 de março de 2021

Serve para todos nós

 Como não pirar em tempos instáveis

 Aurora Bernardini

Professora de pós-graduação em Teoria Literária e Literatura Comparada da USP 

Especialistas em saúde mental mostram como podemos ser mais resilientes em livro recém-publicado

 

Muito oportuno este livro que, embora escrito por dois especialistas em drogas e doença mental (Ilana Pinsky é psicóloga e pesquisadora junto ao Center of Alcohol and Drug Studies da Rutgers University e Marcelo Ribeiro é psiquiatra e diretor do Cratod, Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas de São Paulo), vem nos desvelar aqui os aspectos mais estratégicos da “saúde emocional” e se dirige a todos nós, indiscriminadamente. Mergulhados que estamos nessa época de pandemia são muito bem vindos conselhos, esclarecimentos, questionários e referências literárias de outros tantos que deixaram suas impressões sobre outras pandemias que têm assolado a humanidade desde a Antiguidade e colocado em xeque tantos aspectos importantes de nossa civilização (Boccaccio, Camus, Defoe, Marquez). 

O objetivo do livro Saúde Emocional: Como Não Pirar em Tempos Instáveis (editora Contexto) não é apenas nos situar nesses tempos e explicar porque somos resilientes (resiliência: a capacidade de as pessoas se adaptarem e se recuperarem emocionalmente em situações adversas), mas mostrar como somos e como podemos ser mais resilientes do que imaginamos, cultivando a saúde emocional que, obviamente, não pode existir sem a saúde física, daí a nova mentalidade do “biopsicossocial”, ou compromisso de cuidados interdisciplinares em que os papeis se cruzam e são reversíveis. 

“Pensar bem”, explica o médico cardiologista novaiorquino Alan Rozanski é “encarar a vida com bons olhos” e aqui, os autores mostram como desenvolver características do temperamento tais como flexibilidade emocional e mentalidade de crescimento (growth mindset) que pouco têm a ver com o otimismo “tipo Polliana”. O que importa é se convencer que pequenas atitudes podem impulsionar grandes mudanças, e aqui os autores recorrem novamente a exemplos de escritores famosos como Varlam Chalamov (Contos de Kolimá) que revela a força motriz do psiquismo humano diante de problemas de todo gênero, problemas esses que, mutatis mutandis, Chico Buarque (Letra e Música), em sua canção Até o Fim parodia, ao serem vistos como inatos ou insuperáveis: “Quando nasci veio um anjo safado e decretou que eu estava predestinado a ser errado assim” e Paulo Lemínski (Toda Poesia) ironiza em seus versos: “Problemas têm família grande,/e aos domingos saem todos a passear/o problema, sua senhora/e outros pequenos probleminhas”. 

Uma atitude errada frente aos problemas é a que Carol Dweck, psicóloga de Stanford, definiu como fixed mindset, ou mentalidade fixa, cujo contrário, a flexibilização, exemplificou com diversos processos que vão da motivação à crença e à elaboração. Ao falar em processos, não foi esquecida a fala de Riobaldo (personagem da obra: Grande Serão: Veredas), quando considera que a solução dos problemas não está no começo, muito menos ao final da travessia, mas no meio do percurso, de mansinho, inusitadamente. “Travessia perigosa, mas é a da vida”, lembra o herói de Guimarães Rosa, ecoando a fala do guerreiro de Gonçalves Dias (Canção do Tamoio) citado pelos autores “/Não chores, que a vida/ É luta renhida:/Viver é lutar”. A personalidade estruturada, que é a que o indivíduo atinge na idade adulta após superar tantas vicissitudes, não pode ser confundida com a mentalidade fixa.

Quanto mais estruturada for nossa personalidade e quanto mais claro for nosso código de ética e de conduta pessoal, mais conseguiremos dar conta dessa travessia.

E, contrariamente ao que a mídia pode nos fazer engolir não serão a força física ou as habilidades marciais, ou, tanto menos, a agressividade, o que nos permitirá superar as dificuldades, mas sim nossa capacidade de aprender e de amadurecer. 

O que deve ser visto como inato é o instinto materno/paterno, que leva os genitores a proteger a prole, estabelecendo como que um pacto de sobrevivência genético, o que reforça a importância dos vínculos primordiais positivos, geneticamente programados. Corolário desta constatação são os assim chamados “vínculos de apoio” e, em particular, as conexões sociais que envolvem o indivíduo, fortalecendo sua sensação de pertencimento.

Os nossos vínculos afetivos e de confiança (interesses cooperativos a longo prazo e não avidez de ganhos imediatos) contribuirão para o fortalecimento de nossa resiliência.

 Concluindo

Mesmo diante dos acidentes e tragédias que deixam sua marca no psiquismo humano – e aqui os especialistas descrevem toda uma série de transtornos e casos extremos – mesmo diante deles, evidências apontam que o psiquismo humano é dotado dessa armadura de resiliência, em parte constituída pelo arcabouço genético e psicológico próprio de todo ser humano e, em parte, por outros componentes estruturais de ordem social e cultural. 

Fonte: O Estado de S. Paulo – Aliás – Quarta-feira, 3 de março de 2021 – 10h00 (Horário de Brasília – DF) – Internet: clique aqui (acesso em: 03/03/2021).

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