4º DOMINGO DA QUARESMA – ANO B – HOMILIA

 Evangelho: João 3,14-21 

Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos:

14 Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, 15 para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna. 16 Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. 17 De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. 18 Quem nele crê, não é condenado, mas quem não crê, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigênito. 19 Ora, o julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más. 20 Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas. 21 Mas quem age conforme a verdade aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus. 

Alberto Maggi

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas), teólogo e biblista italiano

 

Um Deus diferente de tudo que imaginamos 

A liturgia deste domingo apresenta-nos a conclusão do longo encontro entre Jesus e o fariseu Nicodemos, chefe dos judeus, isto é, membro do Sinédrio; é o terceiro capítulo do Evangelho de João, versículos 14 a 21. Nessa conclusão do discurso, Jesus demoliu três pontos fundamentais da espiritualidade farisaica, e quais eram eles?

* A concepção da vida eterna como uma recompensa concedida no futuro por um bom comportamento no presente;

* o julgamento de Deus, um Deus que julga, recompensa e castiga os homens de acordo com seu comportamento e, terceiro,

* a verdade como uma doutrina a ser observada. 

Assim, Jesus começa referindo-se a um episódio bem conhecido da história de Israel, quando, no exílio, no êxodo no deserto, houve a praga de cobras venenosas que mataram pessoas; então Moisés levantou uma vara com uma serpente de cobre e quem olhasse para ela se salvava. Então, Jesus se refere a este episódio para dizer que “o Filho do homem deve ser levantado”. O que o Filho do homem significa? O homem que possui a condição divina. Este não é um privilégio exclusivo de Jesus, mas uma possibilidade para todos os que creem. João, no prólogo, disse: “Quem quer que o receba, ele dá a habilidade de se tornarem filhos de Deus”. E Jesus diz: “Quem acredita nele”, acreditar em quem? No Filho do homem: acreditar que cada um de nós vem ao mundo porque é um desígnio de amor da parte do Pai, um desígnio que Deus quer realizar. Quem acreditar nisso, e aqui está a novidade, “tem a vida eterna”. É a primeira vez que Jesus fala neste evangelho de vida eterna e ele nunca falará dela com termos no futuro, mas sempre no presente.

Para Jesus, a vida eterna não é uma condição adquirida após a morte, mas uma qualidade de vida já nesta existência que permitirá ao indivíduo não experimentar a morte.

O segundo elemento de apoio da espiritualidade farisaica, como de toda religião, é um Deus que julga, um Deus que recompensa os bons e pune os maus. Mas o Pai de Jesus não é assim; o Pai de Jesus é amor, é uma comunicação de amor incessante e crescente, cabe ao homem aceitar ou não este amor.

Então, não é um Deus que julga e menos ainda que condena as pessoas, será o povo que, ao recusar esta oferta de amor e de vida, permanece na esfera da morte.

Jesus o faz com a imagem da luz: a luz é a fonte da vida, quem odeia a luz? Duas categorias: os maus porque têm medo de serem descobertos e os que vivem nas trevas. Se a pessoa vive no escuro, sempre no escuro, quando chega essa fonte de luz, essa luz o incomoda e ele se esconde ainda mais no escuro. Portanto, Jesus fala aqui não de um julgamento da parte de Deus, mas de um julgamento que as pessoas fazem consigo mesmas, excluindo-se desta fonte de vida. 

E, finalmente, o terceiro é o da verdade. Jesus acabou de dizer que quem faz o mal odeia a luz e agora esperaríamos como o oposto “quem faz o bem”; em vez disso, Jesus afirma “E todo aquele que faz a verdade”. O contrário de fazer o mal, não é fazer o bem, mas fazer a verdade, porque...

... neste evangelho fazer a verdade não significa seguir uma doutrina, mas fazer o BEM.

Enquanto que uma doutrina pode dividir, pode separar as pessoas umas das outras, fazer o bem é o que nos aproxima. 

Desse modo, Jesus garante que quem faz o bem alcançará sempre a luz e, quando chegar o momento do encontro com Deus, que é luz, esta luz não absorverá o homem, mas será o homem que absorverá a luz, que se fundirá com ele, ela irá expandir sua pessoa e torná-lo eterno e indestrutível. 

Traduzido do italiano e editado por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

O que nos salva, o que é determinante em nossa vida de fé não é a observância rigorosa e, até mesmo, fanática, de uma doutrina, a realização de uma série de ritos e práticas religiosos, mas a nossa capacidade de fazer o BEM, viver na BONDADE, viver o e no AMOR! É isso que Jesus, concluindo o seu colóquio com o fariseu Nicodemos, deixa bem claro.

É muito difícil, para as pessoas habituadas à prática religiosa, aceitar que Deus não julga, que Deus não pune, que Deus não castiga, que Deus “faz nascer o seu sol sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos” (Mt 5,45). Afinal, se Deus é justo como é que pode tratar, da mesma maneira, pessoas boas e más?

Acontece que Deus e os critérios que Ele usa são completamente diferentes dos nossos! Não há ódio, não há sentimento de vingança, não há ofensa, não há rancor em Deus. Esses sentimentos e posturas humanos não estão presentes em Deus! Essa é a grande novidade de nosso Deus!

Não é a lei, não é a norma, não são as regras que interessam a Deus, mas o AMOR, o BEM, o PERDÃO, enfim, a MISERICÓRDIA, como gosta de salientar Papa Francisco.

Aqui reside uma imensa surpresa para aquelas pessoas que vivem sua fé e sua religiosidade de modo muito rigoroso e piegas. Pois, essas pessoas imaginam que, por serem rigoristas, beatas, “religiosas” merecerão, por parte de Deus, um tratamento especial. Era isso que pensavam, também, os fariseus, na época de Jesus.

A decepção deles com Jesus será a mesma daqueles que, nos tempos de hoje, imaginam um deus à sua imagem e semelhança!

 

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie – IV Domenica Queresima – 14 marzo 2021 – Internet: clique aqui (acesso em: 13/03/2021).

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