O Partido Militar
Ele está no poder e não pretende sair
Leandro Demori
Editor Executivo
Os ingênuos ou mal
informados que vivem pedindo intervenção militar e governo militar no Brasil
podem parar! Já estamos debaixo de um governo militar! Vamos aos fatos...
... as Forças Armadas entraram com tudo na aventura bolsonarista e
que relutam em sair dela. Os generais viram em Bolsonaro, claro, um para-raios
de votos.
Ele tem o carisma eleitoral que nenhum general teria –
quantos votos faria Mourão? Mas não viram (e não veem) no capitão fracassado a
liderança para os rumos do país. Quem apita, hoje, são os generais que o
circundam. É preciso lembrar de algumas coisas.
A gestão assassina da crise humanitária em que nos metemos
foi feita por um general da ativa.
A eventual responsabilidade, inclusive criminal, pelas centenas de
milhares de brasileiros mortos precisa ser direcionada aos homens do Exército
brasileiro, não a Bolsonaro isoladamente.
Ou alguém acredita que Eduardo Pazuello decidiu, sozinho,
assumir o Ministério da Saúde? Ele precisou de autorização oficial do Comando, que libera
seus homens como “órgão movimentador”, como é chamado tecnicamente.
Ao autorizar que um militar da ativa exerça função “fora da
Força” – esse é o jargão –, o chefe de Pazuello deve se ater ao regulamento que
estabelece os “princípios e normas gerais para a movimentação de oficiais e
praças da ativa do Exército”. O documento R-50, que normatiza essas
movimentações, diz que essa decisão precisa considerar “a predominância do
interesse do serviço sobre o individual”.
Não é Pazuello o gestor da pandemia, é o Exército, representado por
ele.General Pazuello, Ministro da Saúde e Jair Bolsonaro, Presidente da República
1) “Qual o interesse do Exército em ter milhares de militares da ativa
exercendo cargos políticos no governo Bolsonaro?”;
2) “O senhor acha que é benéfico pra instituição a percepção
popular de identificação das Forças Armadas com a política do governo?”;
3) “O senhor se manifestou diretamente ao presidente Jair Bolsonaro, que é
de sua turma, sobre a presença massiva de militares no Executivo? Em que
sentido: positivo ou negativo?”.
Não se enganem, o Partido Militar está ativo e em campanha de
reeleição. Com
Bolsonaro? Talvez não. Outros nomes estão na mesa, entre eles o de Sergio Moro.
Dias atrás, Mourão foi escalado para fazer o papel de afastar as Forças Armadas da
gestão assassina da pandemia. Ele disse: “o
ministro é um executor das decisões do presidente da República.”
Mourão não estava falando de Queiroga, o novo ministro da
Saúde com nome de personagem de alguma crônica do Luis Fernando Verissimo.
Mourão está pouco se lixando para ele.
O general estava falando de Pazuello, tentando tirar das Forças
Armadas a responsabilidade pela pilha de mortos.
Havia uma expectativa de que, naturalmente, a covid fosse ser
dissipada durante a gestão Pazuello. Os méritos, claro, iriam para a “eficiência
das Forças Armadas”. Como estamos, hoje, nadando em um mar de quase 300 mil
brasileiros sepultados, os generais estão tentando bater em retirada. Em
retirada do capitão, não do poder.
Na semana passada, a revista Piauí publicou uma
reportagem na qual afirma, com fontes em off, que...
... dois
meses antes da eleição presidencial de 2018, o então comandante do Exército
Villas Bôas ouviu de Dias Toffoli, que presidia o STF, “garantias”
de que o Supremo manteria Lula preso e longe das urnas.
O texto foi lido por estudiosos do tema com os quais eu
conversei como um release dos militares, um recado explícito de que a
interferência eleitoral por parte dos fardados não vai parar. Uma fonte
militar me disse:
“Para o público interno (a base eleitoral e militante do
Exército) a reportagem é um press release no estilo ‘fiquem
tranquilos, estamos no controle’. Para o STF, o recado é: não só estamos no
controle como também sabemos muito… sobre os senhores ministros! Para o eleitor
de esquerda/centro-esquerda em geral: ‘Procurem uma frente eleitoral sem o PT e
sem Lula’. Para o eleitor fiel do PT: ‘Desistam de Lula’”.
Dias depois da reportagem da revista, o general Carlos Alberto Santos Cruz apareceu no [jornal] Estadão defendendo uma candidatura de centro, longe de Lula ou Bolsonaro, e elogiando a Lava Jato. Santos Cruz foi ministro da Secretaria de Governo e se afastou de Bolsonaro depois que deixou o governo e representa, hoje, o papel de “militar moderado” que mostra para a população a imagem de um Exército que flutua acima das polarizações mundanas nossas aqui de baixo. Nós já entendemos, general.
Fonte: The Intercept Brasil – Sábado, 20 de março de 2021 – Internet: clique Newsletter.
“BOLSONARO
PRESIDENTE É PROJETO DAS FORÇAS ARMADAS”
Rafael Moro Martins
Entrevista com Piero Leirner
Antropólogo e Professor titular da Universidade Federal de São Carlos (SP)
Da ditadura à atualidade, antropólogo analisa as relações entre militares e governos
Na conversa de pouco mais de uma hora, ele me disse não haver uma oposição entre o setor militar e o bolsonarismo ideológico, representado pelas bobagens de Olavo de Carvalho e as fake news de Carlos Bolsonaro.
Ao contrário: para o antropólogo, Bolsonaro presidente é
um projeto (bem-sucedido) do alto comando militar. A live foi ao ar
em 2 de março. Abaixo, confira a íntegra do papo no vídeo. Livro publicado julho de 2020, pela editora Alameda
Assista ao vídeo com essa entrevista, clicando sobre a imagem abaixo:
Fonte: The Intercept Brasil – Quinta-feira, 4 de março de 2021 – Internet: clique aqui (acesso em: 22/03/2021).
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